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Governo convoca BBC em caso do apresentador que teria pago por fotos explícitas de jovem

Jornais britânicos mostram caso do apresentador da BBC denunciado por pagar jovem por fotos explícitas

Londres – Após dois dias de silêncio sobre o caso do apresentador retirado do ar por ter sido apontado como responsável por pagar uma pessoa então com 17 anos por fotos explícitas, a emissora pública BBC terá que se explicar ao governo. 

Na manhã deste domingo (9), o Departamento de Cultura, Mídia e Esportes (DCMS)  divulgou um comunicado referindo-se à denúncia feita pela mãe da vítima ao jornal The Sun como “profundamente preocupante”.

E disse que o diretor da rede, Tim Davie, foi convocado a dar explicações à secretária Lucy Frazer da pasta.

“Como uma emissora de serviço público que recebe financiamento público, A BBC foi informada pelo DCMS que as alegações devem ser investigadas com urgência e com sensibilidade, e o Departamento deve ser mantido informado”, diz o comunicado.

Segundo a denúncia publicada pelo The Sun, os pagamentos começaram em 2020, e financiaram o vício em drogas da vítima. O apresentador também enviava fotos pornográficas à pessoa envolvida. Os nomes não foram revelados.

Desde que o caso veio a público, na sexta-feira, a BBC divulgou apenas uma nota oficial sem detalhes sobre a suposta investigação que teria sido aberta quando foi notificada sobre o caso pela família, em 19 de maio. 

Em email enviado à equipe, Tim Davies disse que a natureza das informações publicadas pelo The Sun é diferente daquelas que foram levadas à rede em maio. 

Boatos sobre quem seria o apresentador da BBC 

O mistério sobre o nome do apresentador que teria pago mais de 35 mil libras durante três anos a uma pessoa inicialmente menor de idade, o que é crime no país, deu espaço para uma onda de especulações.

No sábado, várias estrelas da rede, como o apresentador Jeremy Vine e o comentarista esportivo Gary Lineker, tiveram que se pronunciar nas redes sociais para dizer que não eram eles. Mas os boatos afetam as reputações. 

A BBC justificou o sigilo sob o argumento de que o apresentador denunciado tem direito à privacidade até que os fatos sejam esclarecidos. 

Segundo a legislação do país, pessoas só podem ter seus nomes revelados depois de formalmente acusados por uma autoridade policial. 

O assunto vem ocupando as primeiras páginas dos jornais britânicos, é destaque nos telejornais e está entre os trending topics das redes sociais. Algumas hashtags são as de nomes de pessoas apontadas como o possível apresentador denunciado. 

As críticas à conduta da rede são pesadas, sobretudo pela pouca transparência a respeito do tratamento dado à denúncia feita em 19 de maio pela família. 

A mãe disse que o objetivo de seu primeiro contato foi pedir à rede para interceder e fazer o apresentador parar de financiar o vício da vítima. Mas ao ver que quase dois meses depois ele continuava no ar, ela decidiu revelar a história ao tabloide The Sun. 

Na nota emitida na sexta-feira, a emissora dá a entender que investigou o caso de forma limitada devido às informações de que dispunha, e sugeriu dificuldades para conversar com a família, afirmando que se novas informações surgissem daria sequência ao processo – e elas continuam surgindo. 

Apresentador teria feito mais pagamentos

No fim de semana, o The Sun trouxe novas reportagens sobre o caso.  A mãe da pessoa que teria fornecido as fotos disse ter  ficado”chocada” ao ver uma captura de tela do bate-papo por vídeo, no qual o conhecido apresentador estava sentado de cueca samba-canção em um sofá em sua casa. 

A mãe acrescentou que houve um pagamento de 1 mil libras via PayPal em junho, o que sugeria que “a BBC não havia falado com este homem” nas semanas após a reclamação inicial.

O The Sun disse que o apresentador não foi suspenso, e que estaria recebendo o salário integral, embora fora do ar.

No domingo, a BBC informou que notificou a polícia, mas segundo as autoridades não houve uma denúncia formal.

Crises na BBC

O episódio é mais um a se somar a outras crises da BBC. 

Desde a eleição do primeiro-ministro Boris Jonhson, em 2021, a rede vem sofrendo pressões do governo, com questionamentos que vão da imparcialidade de seu jornalismo ao financiamento de suas operações. 

As residências britânicas pagam uma taxa para assistir ao canal. Os valores foram congelados, fazendo a rede cortar programas e demitir profissionais, que têm feito greves. 

Em junho, o Chairman Richard Sharp deixou o cargo após comprovação de que intermediou contatos para Boris Johnson conseguir um empréstimo, configurando conflito de interesses, já que fora nomeado pelo primeiro-ministro. 

A gestão da crise atual agrava ainda mais a situação, e motiva comparações com o caso do apresentador pedófilo Jimmy Savile, mancha na história da BBC pela falta de ação. 

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