Londres -Muitos associam a hashtag #BlackLivesMatter ao assassinato de George Floyd, em 2020, que desencadeou um forte movimento global contra a discriminação racial. Entretanto, ela é mais “idosa”: está completando 10 anos este mês.
O Pew Research Center fez um estudo sobre a década da hashtag criada para agrupar conversas nas redes a respeito de justiça criminal e racismo após a absolvição de George Zimmerman, um vigilante que em 2013 matou o jovem Travyon Martin, de 17 anos, na Flórida.
Apenas no Twitter, a #BlackLivesMatter foi usada em 44 milhões de postagens entre julho de 2013 e março de 2023, consolidando o movimento como “um dos mais proeminentes a se desenvolver e evoluir inteiramente na era das mídias sociais”, segundo o Pew.
#BlackLivesMatter revitalizada após morte de Floyd
A história da hashtag começou com Alicia Garza, moradora de Oakland, Califórnia. Ela postou uma mensagem no Facebook em 13 de julho de 2013 dizendo amar as pessoas negras e finalizando com “nossas vidas importam”.
O período da morte de Floyd, assassinado pelo policial Derek Chauvin em Minneapolis em 25 de maio de 2020, revitalizou a hashtag e foi o pico de seu uso.
Os pesquisadores constataram que mais da metade de todos os tweets que a utilizaram foram postados entre maio e setembro daquele ano.
Outro pico aconteceria em abril de 2021, quando Chauvin foi condenado.
Dos quase 10 milhões de usuários que postaram com #BlackLivesMatter em 10 anos, 6,8 milhões deles nunca havia usado a hashtag, revelando como o evento engajou pessoas não militantes na luta contra o racismo e a violência policial.
O Pew identificou que um terço dos tweets empregando a hashtag trataram de confrontos com policiais. E houve um um “transbordamento” de seu uso para outras causas ligadas à justiça social.
A maioria dos tweets – 72% – expressa apoio ao movimento. No entanto, há uma parcela de 11% discordando do Black Lives Matter nos EUA, número que não pode ser desprezado.
São pessoas que não se sentiram constrangidas ao expor sua posição contra o caso Floyd e contra políticas inclusivas.
Por coincidência, os 10 anos da #BlackLivesMatter são celebrados em meio a uma nova controvérsia racial. Na semana passada, a Suprema Corte dos EUA decidiu que a raça não pode mais ser levada em conta para admissão em universidades.
E em meio a uma crise que parece sem saída para o Twitter, ameaçado pelo lançamento da concorrente Threads depois que a proliferação de discurso de ódio, incluindo racismo, afastou usuários e principalmente anunciantes.
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A hashtag e o ativismo online nos EUA
Além de analisar as estatísticas, o Pew fez uma pesquisa com mais de 5 mil americanos sobre ativismo online e o papel das mídias digitais e da imprensa.
De novo, o BML se destaca: 77% dos entrevistados disseram ter visto conteúdo associado ao movimento nas redes.
Já o engajamento direto não é tão grande. Apenas 24% disseram já ter postado ou compartilhado conteúdo em apoio à causa, e 10% admitiram que usaram as redes para expressar opinião negativa.
Naturalmente o percentual de apoio sobe entre pessoas negras: 52% delas afirmaram ter endossado o BML por meio de suas contas.
E cai para 1 a cada 5 entre brancos, asiáticos e hispânicos, embora os últimos também sejam alvo recorrente de discriminação e tratamento diferenciado pela polícia no país.
O mesmo comportamento se repete quando os entrevistados são indagados sobre a extensão do problema da violência policial.
Ao todo, 81% acham que é um grande problema. Entre negros o percentual é de 85%. Entre os brancos, 36% pensam o mesmo. Hispânicos e asiáticos têm visão parecida, 56% e 50% respectivamente.
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Quem ajuda mais: redes sociais ou imprensa?
E quem está mais credenciado a ajudar a transformar a realidade: mídias sociais ou imprensa tradicional?
Nessa a imprensa saiu perdendo: 35% acham que ela pode ser extremamente ou muito eficaz em chamar atenção para o problema, enquanto 43% disseram o mesmo das redes sociais. No entanto, nenhuma das duas passou dos 50%.
O estudo do Pew revela ainda uma tendência de redução da importância das redes no engajamento político e social.
Quatro em cada dez usuários dizem que as plataformas são um pouco ou muito relevantes para encontrar pessoas que compartilham das mesmas opiniões; 30% as valorizam como instrumento para se envolver com essas questões e 27% acham que são muito importantes como canal para expressar visões.
Em 2020, auge do BlackLivesMatter, as taxas eram respectivamente de 45%, 44% e 40%.
Ainda que 67% dos pesquisados achem que a mídia social destaca questões que não receberiam atenção de outra forma, 82% dizem que elas distraem sobre o que realmente importa.
E 76% acreditam que criam uma ilusão de estar “fazendo a diferença” que não corresponde à realidade.
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