Londres – O escritor Milan Kundera, nascido na República Checa em 1929, morreu nesta terça-feira aos 94 anos deixando uma extensa obra literária em que se destaca o romance “A Insustentável Leveza do Ser, de 1984. 

“Infelizmente, confirmo que o Sr. Milan Kundera faleceu ontem (terça-feira) após uma longa doença”, disse em nota Anna Mrazova, porta-voz da Biblioteca Milan Kundera. A informação também foi transmitida por seu editora francesa de longa data, a Gallimard.

Kundera escreveu 10 romances, três coletâneas de poesia, uma coletânea de contos e muitos ensaios literários. 

Seu primeiro livro, “A piada”, é uma crítica à propaganda do regime comunista e foi proibido na então Tchecoslováquia após a invasão soviética de Praga, em 1968, quando ele também perdeu o emprego como professor de cinema. 

Silenciado pelo regime comunista de seu país, o autor se mudou para Paris em 1975 e em 1981 ganhou a cidadania francesa, definindo-se durante toda a vida como um escritor francês. Em 1995, passou a escrever no idioma do país que o acolheu, mas com certa amargura. 

“Se alguém me dissesse quando menino: um dia você verá sua nação desaparecer do mundo, eu teria considerado isso um absurdo, algo que eu não poderia imaginar. Um homem sabe que é mortal, mas tem como certo que sua nação possui uma espécie de vida eterna”, disse ele ao autor Philip Roth em uma entrevista ao New York Times em 1980, um ano antes de se naturalizar cidadão francês.

Membro do Partido Comunista na juventude, Milan Kundera foi expulso do partido duas vezes, uma após “atividades anticomunistas” em 1950, e novamente em 1970 durante a repressão que se seguiu à Primavera de Praga de 1968, da qual foi um dos as principais vozes, clamando publicamente por liberdade de expressão e direitos iguais para todos.

A Insustentável leveza do Ser conta a história de Tomáš e Tereza, um casal que vive a Primavera de Praga navegando por turbulências políticas ao mesmo tempo em que lidavam com a infidelidade. 

A obra foi adaptada para o cinema em 1988 por Philip Kaufman e contou com Daniel Day-Lewis, Lena Olin e Juliette Binoche nos papéis principais. Kundera não gostou da adaptação e recusou convites para liberar outras obras para se tornarem filmes. 

O escritor também tinha restrições quanto ao trabalho da imprensa. Uma de suas declarações famosas foi: 

“Um autor, uma vez citado por um jornalista, não é mais senhor de sua palavra… E isso, claro, é inaceitável.”

Depois de 40 anos fazendo apenas visitas esporádicas e sob anonimato ao seu país natal, Milan Kundera e sua mulher, Vera, ganharam de volta a cidadania tcheca em 2019.

Apesar de sua obra reconhecida, Milan Kundera não ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, embora tenha recebido importantes homenagens ao longo de sua extensa carreira.