Londres – “Para jornalistas no Irã, toda liberdade é condicional”, disse a organização Repórteres Sem Fronteiras reagindo a novas detenções de jornalistas que haviam sido indultados em fevereiro pelo líder supremo do país, Ali Khamenei ou libertados sob fiança.
Na última semana, dois profissionais acusados ou sentenciados por acusações relacionadas à cobertura da morte da jovem curda Mahsa Amini foram recapturados, em uma nova forma de intimidação por parte do regime.
Hossein Yazdi foi novamente libertado nesta terça-feira (12), enquanto Nazila Maroufian, condenada por ter entrevistado o pai de Amini para o site de notícias Rouydad24, segue presa.
Ela havia sido detida em 30 de outubro de 2022. Em janeiro, recebeu uma sentença de dois anos de prisão (com a pena suspensa) por propaganda antigovernamental e disseminação de notícias falsas e deixou a cadeia mediante pagamento de fiança.
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A jornalista relatou no Twitter que no dia 4 de julho estava saindo de casa quando agentes bloquearam seu caminho, apreenderam seu telefone, ordenaram que ela abrisse a porta e fizeram uma busca minuciosa, confiscando objetos pessoais. Eles também apreenderam e leram seu diário.
Maroufian foi convocada para um interrogatório no tribunal da prisão de Evin, em Teerã, em 8 de julho, e desde então segue detida.
Segundo a Repórteres Sem Fronteiras, não foi estabelecida uma fiança para sua libertação, nem há informações sobre o motivos da nova prisão – se existem outras acusações ou se a captura está relacionada à condenação anterior.
Jornalista libertado no Irã é hospitalizado
O jornalista Hossein Yazdi , diretor do canal de notícias Iran Times no Telegram e do site de notícias Mobin 24, teve melhor sorte.
Acusado de propaganda antiestatal, Hosssein Yazdi havia sido condenado a um ano de prisão e indultado em fevereiro, junto com outros 12 profissionais.
Ele foi detido após ser intimado para interrogatório no dia 4 de julho pelas forças de segurança em Isfahan.
O jornalista foi transferido para a prisão de Dastgerdi. Uma fiança de 90 milhões de riais (RS$ 10 mil) foi estabelecida para a sua libertação.
Na quarta-feira (12) a filha do jornalista, Saba Yazdi, informou que o pai foi libertado sob fiança.
Durante o período da detenção, ela fez uma mobilização nas redes sociais afirmando que não tinha permissão para visitá-lo e que a família temia por falta de cuidados médicos.
O jornalista foi internado após ganhar a liberdade.
“Esta é a mensagem que a República Islâmica quer enviar ao prender novamente dois jornalistas recentemente indultados”, disse Jonathan Dagher, diretor da RSF para o Oriente Médio.
“Seus perdões nunca foram outra coisa senão ameaças. Mas o jornalismo não é um crime que precisa ser perdoado. Pedimos a libertação imediata e incondicional de Hossein Yazdi e Nazila Maroufian, bem como de todos os outros 21 jornalistas detidos no Irã ”, completou.
Quando protestos antiestatais em massa varreram o Irã após a morte de Mahsa Amini sob custódia policial, em setembro de 2022, as autoridades prenderam pelo menos 95 jornalistas, tornando o país o maior carcereiro de jornalistas do mundo pelo censo do Comitê de Proteção a Jornalistas.
Em abril, outro jornalista iraniano Kayvan Samimi, foi recapturado depois de ganhar a liberdade em janeiro. Ele estava preso desde 2020, em um caso não relacionado à morte da jovem curda.
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