Londres – O primeiro aniversário da “vida profissional” do telescópio espacial James Webb foi comemorado pela Nasa, a agência espacial dos EUA, com uma nova foto capturada pelo equipamento que passou a fornecer à ciência imagens nunca vistas do Universo.
O James Webb nasceu oficialmente no Natal de 2021, quando foi lançado, mas apenas há um ano as primeiras imagens começaram a chegar.
Ele abriu uma nova era na astronomia ao observar o universo em luz infravermelha, enquanto seu irmão mais velho, o Hubble continua a estudá-lo principalmente em ondas ultravioletas e ópticas. A diferença são as imagens mais nítidas e de pontos mais longínquos, revelando detalhes de planetas, galáxias, estrelas e nebulosas.
A foto do aniversário
A foto comemorativa do aniversário do James Webb mostra o complexo de nuvens Rho Ophiuchi, a região de formação estelar mais próxima da Terra, como explica a Nasa:
“Jatos saindo de estrelas jovens cruzam a imagem, impactando o gás interestelar circundante e iluminando o hidrogênio molecular, mostrado em vermelho. Algumas estrelas exibem a sombra reveladora de um disco circunstelar, a formação de futuros sistemas planetários.
O telescópio foi batizado com esse nome em homenagem a um antigo diretor da NASA chamado James Edwin Webb, que em sua gestão, entre os anos de 1961 e 1968, supervisionou projetos como o primeiro voo tripulado e a primeira tentativa de levar o homem à lua, na missão Apollo 1.
O nome virou objeto de controvérsia, com uma corrente de cientistas defendendo a troca porque Webb é acusado de cumplicidade com perseguições a pessoas LGBTQ+ na NASA na década de 60.
Indiferente às polêmicas terrenas, o telescópio correspondeu às expectativas em seu primeiro ano de trabalho, explorando o universo oculto, desde planetas vizinhos fora do sistema solar até as galáxias observáveis mais distantes no universo primitivo.
Conheça as principais fotos do James Webb
SMACS 0723
Seis meses após o lançamento, a primeira foto colorida feita pelo James Webb foi divulgada com pompa, em um evento que contou com a presença do presidente dos EUA, Joe Biden,
É a imagem infravermelha mais profunda e nítida do universo distante vista até então.
Conhecido como o primeiro campo profundo, esta imagem do aglomerado de galáxias SMACS 0723 está repleta de detalhes. Esta fatia do universo cobre um pedaço de céu aproximadamente do tamanho de um grão de areia segurado por alguém na Terra.
Milhares de galáxias – incluindo os objetos mais fracos já observados no infravermelho – apareceram no registro pela primeira vez.
Nebulosa Carina – ‘Penhascos Cósmicos’
Uma paisagem de ‘montanhas’ e ‘vales’ salpicados de estrelas brilhantes veio logo em seguida.
A foto do James Webb mostra a borda de uma jovem região próxima de formação de estrelas chamada NGC 3324, na Nebulosa Carina.
Capturada em luz infravermelha pelo novo telescópio, a imagem revela pela primeira vez áreas anteriormente invisíveis de nascimento de estrelas.
Quinteto de Stephan
A foto mostra cinco galáxias, sendo que quatro delas interagem. Este mosaico é a maior imagem capturada até hoje pelo telescópio Webb, cobrindo uma área do céu com um quinto do diâmetro da lua (visto da Terra).
Com sua poderosa visão infravermelha e resolução espacial extremamente alta, o Webb mostra detalhes nunca antes vistos neste grupo de galáxias.
Elas aparecem próximas umas das outras no céu, duas no meio, uma na parte superior, uma na parte superior esquerda e uma na parte inferior. Estão em colisão puxando e esticando umas às outras em uma dança gravitacional.
Quatro dos cinco parecem estar se tocando. Uma está um pouco separada. Na imagem, as galáxias são grandes em relação às centenas de galáxias muito menores (mais distantes) ao fundo. As cinco têm núcleos brancos brilhantes. Cada um tem um tamanho, forma, estrutura e coloração ligeiramente diferentes.
Nebulosa do Anel do Sul – Morte estelar
A estrela mais fraca no centro desta cena envia anéis de gás e poeira há milhares de anos em todas as direções, e o telescópio espacial James Webb da NASA revelou nesta foto pela primeira vez que esta estrela está envolta em poeira.
Duas câmeras a bordo do Webb capturaram a imagem mais recente desta nebulosa planetária, catalogada como NGC 3132 e conhecida informalmente como a Nebulosa do Anel do Sul, que está a aproximadamente 2.500 anos-luz de distância.
Do nascimento à morte como uma nebulosa planetária, o telescópio pode explorar as camadas expelidas de poeira e gás de estrelas envelhecidas que podem um dia se tornar uma nova estrela ou planeta.
A nebulosa do Anel do Sul é chamada de nebulosa planetária, mas apesar de “planeta” no nome, que vem de como esses objetos apareceram pela primeira vez para os astrônomos que os observaram centenas de anos atrás, na verdade são conchas de poeira e gás lançadas por estrelas moribundas semelhantes ao Sol.
WASP-39b
Uma atmosfera de exoplaneta (planeta fora do sistema solar) foi capturada pelo telescópio Webb. O WASP-39b é um planeta diferente de qualquer outro do sistema solar – um gigante do tamanho de Saturno que orbita sua estrela mais perto do que Mercúrio está do Sol.
Este exoplaneta foi um dos primeiros examinados pelo Webb. Os instrumentos super sensíveis do telescópio forneceram um perfil atmosférico do WAP-39b e identificaram uma infinidade de conteúdos, incluindo água, dióxido de enxofre, monóxido de carbono, sódio e potássio.
Pilares da Criação
A imagem dos famosos ‘Pilares da Criação’, estrutura localizada no coração do aglomerado estelar Nebulosa da Águia – a 6.500 anos-luz de distância da Terra, foi divulgada pela NASA em outubro de 2021.
A foto feita pelo James Webb mostra com detalhes as estruturas semelhantes a pilares que são, na verdade, colunas de gás hidrogênio interestelar e poeira que também servem de berço para a formação de novas estrelas.
Os Pilares da Criação ficaram famosos em 1995, quando foram registrados pelo telescópico espacial Hubble pela primeira vez. Em 2014, a paisagem foi revisitada e estudada por diversos observatórios.
O clique do supertelescópio mostra pequenos pontos vermelho brilhantes, que segundo a NASA são jovens estrelas com “apenas algumas centenas de milhares de anos.”
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L1527 e proestrela
A protoestrela dentro da nuvem escura L1527, mostrada nesta imagem da câmera de infravermelho próximo do telescópio espacial James Webb (NIRCam), está embutida em uma nuvem de material alimentando seu crescimento.
Os lançamentos da estrela limparam as cavidades acima e abaixo dela, cujos limites brilham em laranja e azul. A região central superior exibe formas semelhantes a bolhas devido a lançamentos estelares. O James Webb também detectou na foto filamentos feitos de hidrogênio molecular que foram atingidos por ejeções estelares anteriores.
A região no canto inferior direito aparece azul, pois há menos poeira entre ela e o Webb do que as regiões laranja acima dela.
Galáxia anã
Uma porção da galáxia anã Wolf–Lundmark–Melotte (WLM) capturada pela câmera de infravermelho do telescópio espacial demonstra a notável capacidade do Webb de identificar estrelas fracas fora da Via Láctea. E mostra uma gama de cores: azul, ciano, amarelo e vermelho.
Netuno
Esta imagem do sistema de Netuno, capturada pela câmera de infravermelho próximo do James Webb (NIRCam), revela imagens impressionantes dos anéis do planeta, que não eram vistos com essa clareza há mais de três décadas.
A nova imagem de Netuno também captura detalhes da atmosfera turbulenta do planeta. Netuno, um gigante do gelo, tem um interior muito mais rico em elementos mais pesados que o hidrogênio e o hélio, como o metano, do que os gigantes gasosos Júpiter e Saturno. O metano aparece azul em comprimentos de onda visíveis, como fica evidente na imagem.
Essas nuvens de metano-gelo são visíveis na imagem do telescópio como listras e manchas brilhantes, que refletem a luz solar antes de ela ser absorvida pelo gás metano.
No canto superior esquerdo do planeta aparece uma das luas de Netuno, Tritão, que exibe os distintos oito picos de difração do Webb, um artefato da estrutura do telescópio.
O James Webb também capturou mais seis das 14 luas conhecidas de Netuno, junto com diversas galáxias distantes que aparecem como manchas escuras e uma estrela próxima.
Galáxia Cartwhell
A imagem do Mid-Infrared Instrument (MIRI) do telescópio mostra um grupo de galáxias, incluindo uma grande galáxia distorcida em forma de anel conhecida como Cartwheel.
A Cartwheel, localizada a 500 milhões de anos-luz de distância na constelação do Escultor, é composta por um anel interno brilhante e um anel externo ativo. A luz infravermelha média capturada pelo MIRI mostra detalhes sobre essas regiões cheias de poeira cósmica e estrelas jovens dentro da galáxia Cartwheel, que são ricas em hidrocarbonetos e outros compostos químicos, bem em como poeira de silicato, como grande parte da poeira na Terra.
Estrelas jovens, muitas das quais estão presentes no canto inferior direito do anel externo, energizam a poeira de hidrocarboneto circundante, fazendo com que ela brilhe em laranja.
Por outro lado, a poeira claramente definida entre o núcleo e o anel externo, que forma os “raios” que inspiram o nome da galáxia, é principalmente poeira de silicato. A galáxia espiral menor no canto superior esquerdo de Cartwheel exibe muito do mesmo comportamento, mostrando uma grande quantidade de formação estelar.
Ampulheta de fogo
O telescópio James Webb capturou nesta foto uma nuvem multicolorida em forma de ampulheta contra o fundo preto e estrelado do espaço. Esta nuvem de poeira e gás é iluminada pela luz de uma protoestrela, uma estrela nos primeiros estágios de formação.
A ‘luz’ superior da ampulheta é laranja, enquanto a inferior transita de branco para azul escuro. Juntos, os dois bulbos se estendem como asas de borboleta viradas 90 graus para o lado.
Estendendo-se dos bulbos superiores e inferiores, há filamentos coloridos longos e finos, lembrando fogo ardente.
No centro da forma da ampulheta há uma pequena linha de demarcação escura. Esta linha é uma visão lateral de um disco protoplanetário, de material sendo puxado para dentro de uma estrela à medida que ela se forma.
Galáxias em fusão
Duas galáxias parecendo girar juntas em uma massa azul e rosa foram registradas pelo telescópio da NASA. Os braços espirais longos e azuis se estendem verticalmente, mais fracos nas bordas.
Tentáculos de gás quente se espalham horizontalmente sobre os braços azuis, principalmente rosa coral brilhante com muitos pequenos pontos dourados de formação estelar.
O centro dessas galáxias em fusão é extremamente brilhante, irradiando oito grandes picos dourados de difração. O fundo é preto, com muitas galáxias minúsculas em laranja e azul.
Tarântula cósmica
A imagem mostra milhares de estrelas jovens nunca vistas antes na Nebulosa da Tarântula.
O berçário estelar 30 Doradus recebeu o apelido de Nebulosa da Tarântula devido aos seus filamentos longos e cheios de poeira estelar. Localizada na galáxia da grande nuvem de Magalhães, é a maior e mais brilhante região de formação de estrelas perto da nossa própria galáxia, além de abrigar as estrelas maiores e mais quentes conhecidas.
Na fotografia do telescópio Webb, nuvens fofas de nebulosa em tons de bronze, com destaques para a cor ferrugem, cercam uma área central preta. Dentro dessa área, o ponto focal da imagem é uma grande estrela amarela com oito pontas longas e finas.
À direita desta estrela está um aglomerado estelar brilhante em forma oval. As estrelas dentro do aglomerado parecem pequenos brlhos azuis pálidos.
Na parte infeior da imagem, vários braços parecem sair em espiral de um botão castanho nublado, lembrando uma aranha. Outras estrelas de oito pontas azuis e amarelas, bem como galáxias distantes, estão espalhadas pela imagem.
‘Aneis de árvore’
Esses “aneis de árvore” cósmicos contam uma história escrita pelas estrelas. A cada oito anos, as duas estrelas nesta imagem são reunidas por suas órbitas – criando fluxos de gás em colisão que, sob as condições certas, formam um novo anel de poeira.
O telescópio Webb revela 15 dos 17 anéis vistos aqui pela primeira vez em tons alaranjados. Os anéis têm uma forma ligeiramente retangular e são muito claros e definidos a partir de cerca de 1 hora no mostrador de um relógio.
Eles começam a se romper um pouco viajando no sentido horário ao redor da imagem. Ao chegar na posição das 8 horas, apenas partes de cerca de seis anéis podem ser vistos.
Este par de estrelas, conhecido como Wolf-Rayet 140 (WR 140), contém uma estrela Wolf-Rayet. As estrelas Wolf-Rayet são difíceis de encontrar – apenas 600 foram descobertas até o momento. Isso porque elas têm uma vida incrivelmente curta.
Elas geram ventos poderosos que empurram enormes quantidades de gás para o espaço. Os cientistas acreditam que a estrela Wolf-Rayet neste par pode já ter perdido metade de sua massa original neste processo.
Encontro galáctico
A imagem mostra duas galáxias em fusão. Os núcleos das galáxias são coloridos em azul e um está acima e à esquerda do outro.
Esses dois núcleos são cercados por tentáculos brilhantes de regiões formadoras de estrelas de coral, que se estendem acima e abaixo. À direita do núcleo galáctico superior está um aglomerado de formação estelar particularmente brilhante com picos de difração fracos.
A galáxia inferior tem uma forma espiral regular, enquanto a galáxia superior foi distorcida em um bolo muito mais condensado. Há também um arco semitransparente de poeira pálida acima de ambas as galáxias em fusão. O fundo é preto e muitas minúsculas galáxias distantes pontilham a cena.
“Em seu primeiro aniversário, o telescópio espacial James Webb já cumpriu sua promessa de revelar o universo, presenteando a humanidade com um tesouro de tirar o fôlego de imagens e ciência que durará décadas”, disse Nicola Fox, da Missão Científica da Nasa em Washington.
As fotos do telescópio James Webb foram divulgadas pela NASA
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