Londres – O News Group Newspapers (NGN), dono do tabloide The Sun, teve nesta quinta-feira  (27) seu pedido de arquivamento do processo movido pelo príncipe Harry rejeitado pelo Supremo Tribunal.  

Entretanto, a vitória não foi completa para Harry: o juiz Timothy Fancourt decidiu que a alegações de hacking de mensagens telefônicas não serão consideradas. Mas outras acusações, incluindo o uso de investigadores particulares para seguir seus passos, irão a julgamento em janeiro de 2024. 

Embora não tenha conseguido seu objetivo de colocar fim ao processo sem julgamento sob o argumento de que todos os crimes haviam prescrito, o NGN comemorou a decisão, que reduz o escopo das queixas e afasta a possibilidade de discussão no tribunal sobre um suposto acordo entre o The Sun e a monarquia para resolver queixas de forma privada. 

Mudanças no processo de Harry contra tabloide 

O processo original, movido em 2019 por Harry, não continha alegações de hackeamento. Elas foram feitas em março deste ano pela equipe jurídica do príncipe, em uma tentativa de adicioná-las à ação. 

O advogado de Harry informou em uma petição que o irmão de Harry, William, teria recebido “uma grande quantia” como indenização por ter sido vítima de escutas telefônicas ilegais por jornais do grupo, fruto do acordo alegado. 

Harry afirmou em março que não tinha informações suficientes para fazer uma reclamação até 2018, quando teria tomado conhecimento do suposto acordo. Mas o argumento não foi aceito, conforme a sentença emitida hoje. 

O juiz entendeu que Harry tinha elementos para desconfiar do hackeamento pelo The Sun desde 2012, quando outro jornal do grupo, o agora extinto The News of The World, protagonizou um escândalo sem precedentes na imprensa britânica devido a escutas telefônicas ilegais de políticos, celebridades e membros da realeza, incluindo ele próprio. 

Ele escreveu que o príncipe “poderia facilmente” ter feito seus advogados investigarem mais a fundo, e um “quadro muito mais completo teria surgido”. Por isso, a sentença considerou a alegação de hacking de mensagens telefônicas “tardia”. 

O magistrado disse ainda não ter ficado convencido do suposto acordo entre a monarquia e o jornal diante de  evidências “vagas e limitadas” fornecidas pelos advogados de Harry. 

Essa é uma boa notícia para a monarquia, que assim fica fora da linha de tiro do príncipe Harry, sem ter suas práticas escrutinadas no tribunal. 

Agora, o jornal será julgado pela contratação de detetives particulares, que levantavam informações confidenciais e pessoais para alimentar os repórteres do The Sun com fatos explosivos envolvendo a vida dos famosos, como Harry e outros. 

O jornal alvo de Harry e Hugh Grant

O The Sun pertence ao magnata da mídia Rupert Murdoch, dono de um conglomerado que inclui jornais sensacionalistas como o tabloide britânico processado por Harry, seu semelhante americano New York Post, a rede de TV Fox News, o Wall Street Journal e o The Times inglês. 

O ator Hugh Grant também está processando o jornal. O The Sun é acusado de usar as mesmas práticas de outro jornal do grupo, o News Of The World.

O escândalo do jornal, que fechou em 2011, deu origem a uma investigação governamental sobre as práticas dos tabloides sensacionalistas, principalmente a escuta ilegal. 

O hackeamento de mensagens era feito de uma forma rudimentar. As caixas de mensagem dos números eram acessadas, e os hackers testavam senhas até conseguir acertar a correta.

A partir daí, ouviam mensagens deixadas por interlocutores dos alvos – políticos, celebridades e artistas – que viravam notícias nos jornais. 

Hugh Grant recebeu uma indenização do grupo NGN em 2012, e agora processa o The Sun pela contratação de investigadores particulares para espionar sua vida de forma ilegal. 

Além do processo contra o The Sun, o príncipe Harry e sua mulher, Meghan, abriram outras batalhas contra a imprensa, e já venceram algumas. 

Entre as vitórias está uma punição ao próprio The Sun pelo texto agressivo de um colunista sobre a duquesa de Sussex.