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Relatório da Unesco reprova uso de celulares nas escolas e ‘excessos’ da tecnologia na educação

Professor escreve no quadro enquanto aluna olha o smartphone, que na opinião da Unesco deve ser proibido nas escolas

Foto: Giovanna Cornelio / Pixabay

Londres – Um relatório publicado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência Cultura)  nesta quarta-feira (26/7) propõe a proibição dos smartphones nas escolas e alerta para o uso excessivo de ferramentas tecnológicas na educação de crianças e jovens. 

No estudo intitulado “A tecnologia na educação”, a agência da ONU afirma que os benefícios que as tecnologias trazem para o setor são anulados quando elas são utilizadas em excesso ou sem a orientação de um professor. 

Embora esses riscos sejam conhecidos e objeto de debates há muitos anos, apenas uma em cada quatro nações do mundo proibiu o uso de smpartphones nas escolas, segundo a Unesco. A organização propõe um banimento global. 

Smartphones atrapalham aprendizado na escola, diz Unesco

O documento da Unesco faz uma análise extensa e abrangente do impacto da tecnologia na educação, cujo uso aumentou durante a pandemia da covid-19. E defende vários de seus benefícios, sobretudo a ampliação do acesso a recursos educacionais e do conhecimento. 

Mas chama a atenção para questões como a importância de as ferramentas tecnológicas não serem vistas como substitutas de professores, e a influência negativa de interesses comerciais sobre o ensino. 

O relatório mostra que algumas tecnologias podem apoiar o aprendizado em alguns contextos, mas prejudicá-lo quando não usadas adequadamente.

O principal vilão é o smartphone, que segundo a Unesco comprovadamente atrapalha o desempenho dos alunos: 

“Um estudo que analisou alunos do ensino pré-primário até o ensino superior em 14 países revelou que o uso do smartphone tira a atenção.  

O simples fato de ter um telefone celular por perto com notificações já é suficiente para fazer com que os alunos se distraiam. Eles podem levar até 20 minutos para se concentrar novamente no que estavam estudando, depois de ter a atenção desviada pelo smartphone.”

Uma das pesquisas citadas no documento da Unesco revelou que a proibição de smartphones nas escolas da Bélgica, Espanha e Reino Unido resultou em melhoria na aprendizagem, especialmente para alunos que não estavam tendo um desempenho tão bom quanto seus colegas.

“A revolução digital tem um potencial imensurável. Mas assim como têm sido feitos alertas sobre a forma como a sociedade deve usar as tecnologias, deve ser dada a mesma atenção à forma como elas são utilizadas na educação”, afirmou Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco. 

Outros países que proibiram smartphone na escola

Segundo a ONU, a proibição de smartphones nas escolas é mais comum na Ásia. 

Bangladesh e Cingapura proíbem o uso de smartphones durante as aulas, mas permitem seu uso nas dependências da escola. A França proibiu totalmente o uso de smartphones, a menos que estritamente para fins pedagógicos ou para apoiar crianças com deficiência.

Alguns países optaram pela proibição de aplicativos específicos em ambientes educacionais por questões de privacidade.

A Dinamarca e a França baniram o Google Workspace, enquanto a Alemanha proibiu os produtos da Microsoft em alguns estados. Nos EUA, algumas escolas e universidades começaram a banir o TikTok.

Preocupação com privacidade, segurança e bem-estar de alunos 

Preocupações com privacidade de dados, segurança e bem-estar também sustentam debates sobre o uso de algumas tecnologias nas escolas, especialmente por alunos mais jovens. 

Existem questões de privacidade levantadas quando aplicativos específicos coletam dados do usuário que não são imprescindíveis para o seu funcionamento, salienta a Unesco. 

O diretor de Monitoramento da agência da ONU,  Manos Antoninis, alertou sobre o perigo de vazamentos de dados, já que apenas 16% dos países garantem por lei a privacidade dos dados da tecnologia educacional.

O diretor explica que grande quantidade de dados está sendo usada sem a regulamentação adequada, o que pode servir para fins não educacionais, violando direitos.

Uma análise descobriu que 89% dos 163 produtos de tecnologia educacional recomendados durante a pandemia poderiam coletar dados das crianças. Além disso, 39 dos 42 governos que ofereceram educação online durante a pandemia promoveram usos que arriscaram ou infringiram os direitos das crianças.

O Brasil é um deles, segundo um relatório recente da Human Rights Watch. 

Cautela com uso da tecnologia nas escolas 

As preocupações da Unesco não se resumem ao uso dos smartphones pelos alunos nas escolas.  Os autores do estudo chamaram também a atenção para o risco de substituição total do papel pelas telas dos dispositivos, além da troca das enciclopédias pela Wikipédia, que em 2021 registrou 244 milhões de acessos por dia.

De acordo com a agência da ONU, em 2022, cerca de 50% das escolas secundárias do mundo estavam ligadas à Internet para fins pedagógicos.

No entanto, o relatório afirma ser necessário debater “até que ponto queremos que a tecnologia ocupe espaço na sala de aula”, bem como as desigualdades no acesso. 

Segundo o levantamento, havia no máximo 10 computadores para cada 100 estudantes no Brasil e no Marrocos. Já em Luxemburgo, eram 160 computadores para cada 100 estudantes.

O órgão da ONU recomenda que os países estabeleçam diretrizes para o uso da tecnologia a fim de garantir que ela complemente o ensino presencial, “que continua sendo crucial para o aprendizado”.

E volta a ressaltar entre essas diretrizes a proibição dos smartphones nas escolas. 

“Os alunos precisam aprender os riscos e oportunidades proporcionados pela tecnologia e não serem totalmente alijados dela. 

Mas os países precisam dar melhores orientações sobre quais tecnologias são permitidas na escola e quais não são, e sobre seu uso responsável.”

Para a Unesco, somente ferramentas tecnológicas que têm um papel claro no apoio à aprendizagem devem ser permitidas nas escolas.

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