Londres – A polícia da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, deteve nesta quinta-feira os jornalistas Lutfiye Zudiyeva e Kulamet Ibraimov, alegando que a cobertura do julgamento de três ativistas tártaros que eles planejavam fazer configurava “participação em um protesto ilegal para dar informações à mídia”.
Os dois foram levados a um tribunal para julgamento imediato. Zudiyeva recebeu uma multa de 12 mil rublos (R$ 630) e passou 13 horas detida, enquanto Ibrainov foi condenado a cinco dias de prisão.
Os profissionais trabalham com o grupo de direitos humanos Solidariedade da Crimeia. Zudiyeva também é correspondente do projeto de mídia ucraniano Graty, e Ibraimov é correspondente do site independente de notícias russo Grani, de acordo com o Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ).
Policiais da Crimeia detiveram jornalistas e ativistas
Os tártaros são um grupo étnico minoritário na Crimeia. Eles não aceitam a anexação pela Rússia e exigem que a região volte ao controle da Ucrânia.
O conflito entre os dois países deu origem à guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Desde a invasão, em março de 2022, aumentou a perseguição a ativistas contrários à anexação e à guerra e a jornalistas que denunciam violações.
Segundo o CPJ, Zudiyeva e Ibraimov mostraram seus cartões de imprensa à polícia antes da detenção associada à cobertura do julgamento, e Zudiyeva disse aos policiais que estava em uma missão editorial.
A polícia também deteve outras 12 pessoas que tentaram comparecer à audiência pública e as levou ao Departamento de Polícia do Distrito de Zheleznodorozhnyy, em Simferopol, capital da região.
Zudiyeva disse que os policiais a instaram a registrar impressões digitais e fornecer amostras de saliva, o que ela recusou.
“As autoridades da Rússia na região ucraniana ocupada da Crimeia continuam a assediar jornalistas que tentam chamar a atenção para a situação alarmante dos direitos humanos na área. Suas reportagens são de interesse público e não devem ser bloqueadas”, disse Gulnoza Said, coordenador do CPJ para Europa e Ásia Central.
“As autoridades devem libertar imediatamente Kulamet Ibraimov, abster-se de contestar o recurso que será apresentado por Lutfiye Zudiyeva e permitir que os membros da imprensa trabalhem livremente.”
Jornalismo cívico na região anexada
A jornalista Zudiyeva cobre julgamentos e questões de direitos humanos na Crimeia para o Graty desde 2019, e Ibraimov também cobriu os julgamentos de ativistas de direitos humanos perseguidos pela Rússia.
O Solidariedade da Crimeia é um grupo de apoio que ajuda os presos políticos da região, divulgando seus processos e defendendo sua libertação, conforme documentado pelo CPJ .
Desde que as autoridades russas passaram a mídia independente na Crimeia após sua anexação em 2014, muitos repórteres se dedicaram ao “jornalismo cívico”, particularmente focado em questões de direitos humanos que afetam os tártaros da Crimeia, segundo o Comitê.
Em agosto de 2022, as autoridades russas na Crimeia detiveram Vilen Temeryanov, correspondente do Grani and Crimean Solidarity.
Temeryanov e pelo menos seis outros jornalistas ucranianos, incluindo outros dois na Crimeia, estavam sob custódia da Rússia na época do censo prisional de 2022 do CPJ.
Um dos casos de maior repercussão é o de Dmytro Khyliuk, sequestrado em Kiev em março de 2022 e levado para uma penitenciária russa.
Ele está detido sem julgamento e a Rússia nunca admitiu oficialmente sua prisão.
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