Londres – O ex-presidente Donald Trump foi derrotado em uma tentativa de receber indenização de US$ 474 milhões (R$ 2,2 bilhões) da rede CNN em um processo por difamação alegando ter sido comparado várias vezes a Hitler. 

Nesta sexta-feira (29) o juiz federal Raag Singhal, nomeado pelo próprio Trump em 2019, encerrou o processo protocolado no ano passado, por considerar “opinião” o uso da expressão “a Grande Mentira” pela CNN para se referir às alegações de fraude eleitoral feitas pelo ex-presidente. 

O juiz entendeu que as declarações usando a frase associada ao nazismo foram “repugnantes, mas não difamatórias”, e assim não poderiam ser objeto de um processo judicial. 

Processo em comarca com juízes nomeados por Trump

O processo foi impetrado em Fort Lauderdale, na Flórida, comarca em que a maioria dos juízes tinha sido indicada por  Donald Trump quando era presidente, incluindo o que decidiu pelo arquivamento. 

A frase the Big Lie (a Grande Mentira)  é associada à propaganda nazista contra os judeus, e foi usada por Adolf Hitler para referendar o preconceito.

O processo aberto por Donald Trump listava pelo menos cinco ocasiões em que a expressão apareceu com referências a ele, bem como outras situações que o ex-presidente alegou representarem comparações com o nazista.

Uma reportagem especial de janeiro de 2022 do apresentador Fareed Zakaria sobre Trump que incluiu imagens do ditador alemão foi uma delas.

Outra foi uma entrevista feita pelo então colunista de mídia da CNN, Brian Stelter, com o psiquiatra Allen Frances. O entrevistado afirmou ao âncora: “Trump é uma pessoa tão destrutiva neste século quanto Hitler, Stalin e Mao foram no século passado”.

“Como parte de seu esforço conjunto para inclinar o equilíbrio político para a esquerda, a CNN tentou manchar [a honra] do apelante com uma série de rótulos cada vez mais escandalosos, falsos e difamatórios como ‘racista’, ‘lacaio russo’, ‘insurrecionista’ e, finalmente, ‘Hitler’”, afirmava o processo.

Juiz não viu ‘inferência plausível’ contra Trump

Ele não convenceu. No despacho do arquivamento, o juiz escreveu: 

“O uso da frase ‘a Grande Mentira’ pela CNN em conexão com os desafios eleitorais de Trump não dá origem a uma inferência plausível de que Trump defende a perseguição e o genocídio de judeus ou qualquer outro grupo de pessoas. 

Nenhum espectador razoável poderia (ou deveria) fazer essa referência de forma plausível”.

O juiz Raag Singhal deu em abril ganho de causa à CNN em outro processo de difamação, movido por Alan Dershowitz, ex-advogado de Trump e professor de direito de Harvard. 

O advogado questionou o tratamento da rede à sua defesa do ex-presidente em um processo de impeachment, mas perdeu a causa. 

Também em abril, a Fox News fez um acordo judicial de quase R$ 4 bilhões com a empresa de urnas eletrônicas Dominion, que alegou prejuízos ao ser apontada como suspeita de ter fraudado as eleições que deram a vitória a Joe Biden. 

Trump promete responsabilizar CNN por ‘maus tratos’

Apesar de o processo contra a CNN ter sido arquivado, Trump parece inclinado a continuar em sua guerra contra a mídia, e em particular contra a rede de TV, que em junho perdeu seu CEO justamente por uma polêmica entrevista com o candidato à presidência. 

Um porta-voz do ex-presidente, que está em campanha para voltar ao cargo, disse:

“Concordamos com as conclusões do juiz altamente respeitado de que as declarações da CNN sobre o presidente Trump são repugnantes.

A CNN será responsabilizada por seus maus-tratos indevidos ao presidente Trump e seus apoiadores.”

Donald Trump não se manifestou diretamente sobre o arquivamento do processo contra a CNN em sua conta na rede Truth Social, que lançou depois de ter sido banido das principais Big Techs. 

Em outro processo envolvendo jornalistas, a colunista E.Jean Carrol tenta recebeu mais US$ 10 milhões do ex-presidente por continuar a ser insultada após vencer uma ação judicial de abuso sexual contra ele.