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Peru: repórteres são agredidos em protestos e OEA manda governo proteger jornalista investigativo

Violência policial atinge jornalistas que cobrem protestos contra governo do Peru

A repressão do governo do Peru a manifestantes que participam de protestos contra a presidente Dina Boluarte está atingindo também jornalistas, com vários episódios de violência policial e detenções arbitrárias durante a cobertura. 

Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), pelo menos nove profissionais foram agredidos nas últimas duas semanas, enquanto muitos estão sendo impedidos pela polícia de cobrir os atos públicos sob o argumento de que não são sindicalizados. 

A animosidade contra a imprensa no Peru também é direcionada a profissionais reconhecidos por criticarem o governo. Na semana passada, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão da OEA (Organização dos Estados Americanos) emitiu uma resolução instando o Estado a adotar medidas para proteger o jornalista investigativo Gustavo Gorriti

Violência policial no Peru 

Artur Romeu, diretor da RSF para a América Latina, protestou contra a exigência de afiliação sindical para documentar manifestações no Peru:

“A exigência […] é simplesmente absurda. Esta é uma medida arbitrária e ilegal destinada a restringir a cobertura dos protestos.

O governo da presidente Boluarte deve se comprometer a acabar com urgência com essas graves violações da liberdade de imprensa, a fim de salvaguardar o direito à notícia e à informação, essencial neste momento crítico para as instituições do país”

Romeu também condenou a violência policial contra profissionais de imprensa que cobrem atos em Lima, capital do Peru, por representarem ameaça à estabilidade da democracia. 

A RSF e a ANP (Associação de Jornalistas do Peru) registraram diversos atos de violência policial contra profissionais de imprensa.

  • Enquanto filmava a violência policial contra os manifestantes descontentes com o governo do Peru em 28 de julho, o cinegrafista Javier Minaya foi jogado ao chão por um policial, batendo com a cabeça na calçada. 
Cinegrafista recebe atendimento depois de violência policial em manifestação no Peru
Divulgação ANP Perú (Associação Nacional de Periodistas)
  • Policiais atropelaram a repórter da TeleSUR Alejandra Elías no mesmo dia.
  • Juan Zapata , fotojornalista do meio digital Wayka que já havia sido vítima de violência policial durante um protesto no início do ano, foi novamente agredido pela polícia enquanto cobria o protesto de 19 de julho. E foi ferido por uma bala de borracha durante o protesto de 28 de julho.
  • O documentarista e fotógrafo Kenty Aguirre foi ficou detido por  43 horas depois de capturado enquanto ele filmava a polícia agredindo um manifestante em 28 de julho. Um médico legista registrou 19 hematomas e escoriações em seu corpo. Seu telefone celular e equipamento fotográfico foram confiscados. 

Na primeira onda de protestos contra o governo do Peru, em dezembro e janeiro, um total de 49 civis foram mortos, centenas de outros ficaram feridos e pelo menos 29 jornalistas foram agredidos, segundo a Repórteres Sem Fronteiras. 

Proteção policial a Gustavo Gorriti

Diretor do projeto de jornalismo investigativo IDL-Reporteros, Gustavo Gorreti é um dos mais conhecidos jornalistas do país, tendo desvendado casos de corrupção e crimes do narcotráfico. 

Gustavo Gorriti (foto: Wikipédia)

No dia 24 de julho, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão da OEA, emitiu uma resolução determinando ao governo do Peru que intensifique as medidas para proteger a vida, a integridade pessoal e o direito ao trabalho de Gorreti, por julgar insuficientes as ações adotadas pelo Estado até o momento.

O jornalista se tornou o principal alvo do grupo extremista La Resistencia, que promove atos violentos contra a imprensa. 

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