Musk promete financiar defesa de quem for punido no trabalho por tweets: jogada de marketing?

Londres – Defensor da livre expressão no Twitter, que rebatizou de X há duas semanas, Elon Musk anunciou sua solidariedade a usuários que sofram represálias de seus empregadores por causa de seus tuítes, prometendo pagar advogados para defendê-los –  no que pode ser mais um lance de marketing do polêmico empresário. 

Em um post no sábado (5), ele disse: 

| “Se você foi tratado injustamente por seu empregador por postar ou dar like em algo nesta plataforma, financiaremos sua defesa jurídica”. 

Musk vai ajudar usuários ‘sem limites’

A oferta é generosa: o homem mais rico do mundo, que comprou o Twitter por US$ 44 bilhões, informou que não há limites para o apoio. 

E ameaçou os empregadores que tomarem atitudes contra manifestações de seus funcionários no Twitter/X: 

“Não vamos apenas processar – será extremamente barulhento e iremos atrás dos conselhos de administração das empresas também.”

Um dos casos mais rumorosos de punição por um tweet aconteceu há três meses no Reino Unido com o ex-jogador de futebol e atual comentarista esportivo da BBC Gary Lineker. 

Ele foi suspenso da emissora, onde apresenta o programa “Match of The Day”, por ter tuitado contra a insensibilidade dos planos do governo em relação à chegada de refugiados ao país. 

Lineker é uma figura popular, e a punição foi objeto de críticas. Ele voltou ao ar e o assunto foi esquecido. Mas agora, Elon Musk se mostra disposto a ajudar outros que se sintam perseguidos.

Leia também | BBC cede a pressões e reintegra apresentador Gary Lineker – e ele volta a tuitar sobre refugiados

Musk também já foi punido por tweets

O próprio Musk já foi uma vítima de punição pelo que tuitou, mas não pelo seu empregador (no caso, ele próprio) e sim por parte do órgão regulador do mercado de ações. 

Em 2018, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, em inglês) o proibiu de tuitar livremente sobre a Tesla, sua empresa de carros elétricos, após comentários polêmicos que impactaram as ações da empresa na bolsa norte-americana.

Na ocasião, Musk disse que tinha um “financiamento garantido” para potencialmente tornar a Tesla privada — o que não era verdade.

Suas mensagens fizeram o preço das ações flutuarem, o que fez a Justiça intervir, determinando a partir dali uma aprovação prévia dos advogados de Tesla dos tweets e outras declarações públicas de Musk sobre a empresa.

Leia também | Sob vigilância: Musk usa Twitter para criticar equipe, mas segue sem liberdade de tuitar sobre Tesla

O marketing de Musk 

O dono do X não deu detalhes sobre como os usuários poderiam pedir dinheiro para pagar os honorários advocatícios, nem em que países a ajuda estará disponível.

No domingo, ele procurou desviar mais uma vez o foco das críticas pelo rebranding do Twitter, retomando a conversa sobre uma luta promocional contra Mark Zuckerberg, dono da Meta. Ele chegou a tuitar um vídeo levantando pesos. 

Mestre em atitudes e declarações polêmicas para chamar a atenção, Elon Musk pode usar os casos dos funcionários punidos nos locais de trabalho como oportunidade de marketing para promover a livre expressão no Twitter, que tem gerado críticas. 

Pesquisas mostram que desde que ele comprou a plataforma em outubro do ano passado, aumentou  a circulação de conteúdo nocivo e de discurso de ódio, o que gerou um prejuízo admitido pelo próprio Musk devido à fuga de anunciantes.

O empresário disse que o fluxo de caixa da plataforma continua negativo por causa de uma queda de quase 50% na receita de publicidade e a uma pesada carga de dívidas.

Na semana passada, o X deu entrada em um processo contra a ONG Center for Countering Digital Hate, por suas críticas contra as regras mais flexíveis de moderação e o retorno à plataforma de figuras públicas banidas por conteúdo inadequado. 

Leia também | Musk move ação contra ONG que denunciou discurso de ódio no Twitter por ‘afastar anunciantes’

Os movimentos para criar visibilidade para a narrativa de defesa da liberdade de expressão podem estar associados, visando objetivos de marketing e não necessariamente de ajudar usuários indefesos pelo mundo. 

Casos de funcionários punidos por empresas por suas manifestações não são tão comuns, ou tão fáceis de provar, o que faz supor que não haverá uma corrida aos cofres do X para pedir dinheiro a Elon Musk. 

Com essa lógica, gastando algum dinheiro com poucos casos, ele pode reforçar seu perfil de defensor da liberdade de expressão, angariando apoio (e quem sabe usuários) para compensar uma parcela das perdas recentes. 

Leia também | À luz do caso Lineker x BBC, uma análise sobre as políticas de mídia social de grandes empresas jornalísticas