Londres – O que para muitos seria uma vergonha acabou sendo aproveitado como um poderoso instrumento de marketing político para Donald Trump: a foto ‘mug shot’ feita pela polícia do condado de Fulton, na Georgia, está sendo compartilhada pelo próprio ex-presidente e por seus seguidores –  e viralizou. 

Trump se apresentou nesta quinta-feira (24) às autoridades em seu quarto indiciamento, pagou uma fiança de US$ 200 mil e não ficou preso sob algumas condições, incluindo a de não usar redes sociais para intimidar réus e testemunhas. 

No entanto, para tirar máximo partido da oportunidade em seu marketing, ele tuitou pela primeira vez desde que havia sido banido da plataforma, logo após a invasão do Capitólio – e a ideia deu certo. O post passava de 106 milhões de visualizações e mais de 800 mil likes na manhã desta sexta-feira, nove horas após a publicação – e não pára de subir. 

Embora a conta de Donald Trump tenha sido reativada por Elon Musk em novembro passado, o ex-presidente continuava postando apenas em sua própria rede, a Truth Social.

Ontem ele quebrou o jejum e postou a “mug shot”  – com um corte ocultando a logomarca da polícia da imagem original – acompanhada de uma mensagem desafiadora mas não dirigida a uma organização ou pessoa em particular. 

Donald Trump optou por uma expressão enfezada, que lembra combate. O texto, em letras maiúsculas, repete a narrativa adotada desde a derrota nas eleições para Joe Biden, em 2020, e que faz parte do motivo do indiciamento: 

“Interferência eleitoral. Rendição nunca”.

Donald Trump poderia ter irritado o novo dono do Twitter ao incluir na postagem um endereço eletrônico que leva o usuário a um outro site, prática que Musk tenta evitar para não perder tráfego. 

Mas vale tudo na campanha que tem o apoio do próprio Elon Musk. Ele foi um dos que retuitou a postagem de Trump, com um lacônico “Next Level” (próximo nível). 

O link no Tweet leva para uma página na internet com uma mensagem do candidato declarando sua revolta pelo novo indiciamento e pedindo doações para a campanha. 

Trump é o primeiro presidente retratado em uma mug shot 

Embora esta seja a quarta vez que Trump é indicado, nas anteriores as autoridades consideraram desnecessário produzir a foto oficial de identificação.

Desta vez ele foi fichado e identificado como “Donald Trump, prisioneiro número P01135809, “1,91 metros de altura, 98 quilos de peso, olhos azuis e cabelos ruivos”.

O processo o acusa de diversos crimes, como organização e gestão de uma associação de criminosos, incitação ao perjúrio em cargo público, incitação à personificação de cargo público e conspiração para cometer falsificação de documentos oficiais.

A foto está sendo considerada histórica, pois é a primeira vez que um ex-presidente é registrado em uma “mug shot”. E aproveitá-la em uma estratégia de mobilização de campanha está se revelando uma aposta acertada.

Trump tem 86 milhões de seguidores do Twitter, e passou seu mandato usando a plataforma para se posicionar sobre acontecimentos, desafiar adversários e jornalistas que o criticavam e anunciar medidas governamentais. 

Trump segue forte no Twitter

O interesse no primeiro post de Trump depois de quase três anos fora do Twitter mostra que os usuários da rede social não o esqueceram, e que os algoritmos funcionaram a seu favor. Em menos de 1h, havia quase 15 milhões de visualizações. 

Além dos que viram o post original, os retuítes também estão atraindo multidões. O de Elon Musk tinha mais de 22 milhões de visualizações. 

Hasghtags como #Georgia e #He’sBack estão entre os trending topics em vários países, com seguidores postando vídeos e mensagens de apoio.

Formalmente Trump não ameaçou ou intimidou ninguém, como estabelecido no acordo firmado entre os seus advogados e a promotora distrital do condado de Fulton, Fani Willis, que especifica: 

“O acima deve incluir, mas não está limitado a, postagens nas redes sociais ou republicações de postagens feitas por outros indivíduos nas redes sociais”. 

Trump também está proibido de comunicar de qualquer forma sobre os fatos do caso com qualquer co-réu ou testemunha, exceto através de advogados.

Mas a promotoria pode entender diferente, e tomar alguma atitude, o que provavelmente seria de novo aproveitado na campanha para reforçar a ideia de perseguição por inimigos. 

Apesar de indicado quatro vezes, Trump continua favorito nas pesquisas para se tornar o candidato do Partido Conservador. Ele esnobou o primeiro debate entre candidatos, promovido pela Fox News na última quarta-feira.