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Europa além dos cartões-postais: coletânea de fotografia aborda temas como migração, autoritarismo, identidade cultural e feminismo

A Europa real não é só a que aparece em cartões-postais e selfies de turistas, aparentemente sem os mesmos problemas que afetam outras regiões do mundo, como mostra uma coletânea exibida em um festival de fotografia europeia realizado pela Fondazione Palazzo Magnani, na Itália.

As imagens produzidas por fotógrafos contemporâneos revelam questões universais que também estão presentes na região, como migração, direitos humanos, feminismo, ameaças ambientais e as raízes do conflito territorial que levou a uma guerra que já dura mais de um ano. 

Um dos ensaios premiados é o da ucraniana Yelena Yemuchuk, fascinada desde criança pela cidade de Odessa, localizada na Crimeia disputada por Rússia e Ucrânia. 

Conflitos na Europa contemporânea 

Yemchuk começou a fotografar a cidade em 2015, um ano depois que a Rússia invadiu a Ucrânia e anexou a Crimeia.Ela registrou imagens de jovens da Academia Militar de Odessa, quando combates aconteciam na fronteira oriental do país. 

Embora a intenção inicial fosse documentar os rostos dos jovens indo para a luta, a fotógrafa percebeu a importância de dar mais contexto às suas vidas, retratando-as fora do combate. 

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Odesa. Foto: Foto: ©Yelena Yemchuk, / Festival Fotografia Europea
Odesa. Foto: Foto: ©Yelena Yemchuk, / Festival Fotografia Europea

Migrações do passado e do presente na Europa 

Portugal: desconstrução do preconceito

Em “A Ilha”, Mônica de Miranda procura desconstruir preconceitos enraizados na sociedade portuguesa, valorizando a participação de homens e mulheres de origem africana que viveram e vivem em Portugal. 

Assobio ao vento, Portugal, 2022. Foto: © Mônica de Miranda / Festival Fotografia Europea

Sob uma perspectiva feminina negra, o trabalho conta histórias que desafiam as convenções patriarcais e questiona noções padronizadas de identidade baseadas em categorias de raça e gênero. 

O almoço na praia (depois de Manet), Portugal, 2022. Foto: © Mônica de Miranda / Festival Fotografia Europea

Itália: visões opostas dos dois lados da fronteira Bilateral, por Samuel Gratacap

O projeto de Samuel Gratacap, Bilateral, aborda a paisagem vista dos dois lados da fronteira – o sul da Itália e os Alpes pela ótica dos que tentam atravessá-la.

“É em um clima social de desconfiança que tenho procurado fotografar e ouvir as pessoas, que atravessam ou tentam transpor fronteiras”.

Série Bilateral, 2018/2022. Foto: © Samuel Gratacap / Festival Fotografia Europea

“Mas o desafio desse trabalho é também representar aqueles que lutam para tornar o mundo menos violento, mobilizando-se nos lugares onde vivem, como forma de reparar a violência”.

Série Bilateral, 2018/2022. Foto: © Samuel Gratacap / Festival Fotografia Europea

França: Do mar para a terra

Distanciando-se da fotografia documental, Cédrine Scheidig lança um olhar subjetivo e poético sobre os jovens da França e da Martinica.

Ouro, 2022 Foto: © Cédrine Scheidig / Festival Fotografia Europea

A artista explora as narrativas pessoais da juventude na diáspora em seu processo de autodescoberta, ao mesmo tempo em que abre espaços de reflexão sobre temas políticos como o passado colonial, a dualidade cultural, a masculinidade modernas e a migração.

Christopher e Farah, 2022. Foto: © Cédrine Scheidig / Festival Fotografia Europea

Turquia: Mudanças na sociedade
Adeus, por Jean-Marc Caimi e Valentina Piccinni

“‘GüleGüle’ (Adeus em turco), de Jean-Marc Caimi e Valentina Piccini, é um relato pessoal de Istambul e das dramáticas mudanças que estão ocorrendo na cidade e na sociedade turca contemporânea. 

Uma das imagens é a de uma menina refugiada síria em Tarlabasi. Ela perdeu os pais durante a guerra e foi levada para Istambul por alguns amigos da família, que agora cuidam dela.

Güle Güle (Adeus). Foto: ©Caimi & Piccinni / Festival

A gentrificação, a situação crítica de classes sociais vulneráveis, a crescente discriminação contra a comunidade LGBTQ+, o afluxo maciço de refugiados sírios e a endêmica questão curda são apenas algumas das realidades por trás dos temas retratados, explicam os autores. 

“Em Istambul, a poluição do ar atingiu o nível mais alto dos últimos anos, principalmente nos distritos de Yenibosna, Kadıköy e Esenyurt, devido aos efeitos do transporte, do uso do carvão e da transformação urbana”.

Güle Güle (Adeus). Foto: ©Caimi & Piccinni / Festival Fotografia Europea

Resgatando identidades da Europa 

Itália: reconstrução da identidade cultural

Olhos Paralelos, de Alessia Rollo, é um projeto multimídia que se propõe a chamar a atenção para a construção da identidade cultural do sul da Itália em termos visuais e sociológicos, deixando para trás estereótipos que geraram a crença de uma sociedade arcaica e primitiva. 

Madalena que por força da razão se tornou Maria, Basilicata 2022. Foto: ©Alessia Rollo / Festival Fotografia Europea

O projeto combina materiais de arquivo histórico e fotografias produzidas pela artista, modificadas por meio de técnicas analógicas e digitais, para mostrar como rituais de um mundo mágico e festivo. 

Êxtase nupcial, 2021. Foto: ©Alessia Rollo / Festival Fotografia Europe
Reino Unido: o que é ser britânico?

O fotógrafo Simon Roberts explora desde 2007 eventos e lugares em toda a Grã-Bretanha que aproximam as pessoas, reunidas no projeto Merri Albion. 

Um deles é o Broadstairs Dickens Festival, criado em 1937 para comemorar o centenário do nascimento do escritor Charles Dickens. É realizado anualmente em junho, e só deixou de acontecer nos anos da Segunda Guerra Mundial.

Os eventos incluem degustação de gim em um palácio vitoriano, um baile e um piquenique na praia em trajes de banho típicos.

Broadstairs Dickens Festival, Ilha de Thanet, 2008. Foto: © Simon Roberts

Roberts retratou também pessoas caminhando nas falésias Seven Sisters. O local, entre a costa de Seaford e Eastbourne é um símbolo da Grã-Bretanha.

“Os penhascos representam para muitos, uma fronteira entre terra e mar, alto e baixo, entre a Grã-Bretanha e o mundo exterior”, diz o fotógrafo. 

Beachy Head, Seven Sisters Country Park, East Sussex,. Foto: © Simon Roberts / Festival Fotografia Europea

A Europa que protesta 

 

 
Polônia: Ativismo social
Você nunca andará sozinho, por Joanna Musiał, Rafał Milach e Wojtek Radwański

Em “Você Nunca Andará Sozinho”, Joanna Musial, Rafal Milach e Wojtec Radwanski documentam o ativismo social e as iniciativas que se opõem às decisões políticas e às violações das normas democráticas e dos direitos humanos, “um alerta contra o populismo e a discriminação”, dizem. 

Um desses momentos foi a greve de mulheres protestando contra a proibição quase total do aborto, em Varsóvia. As fotos mostram o protesto de outubro de 2020. 

Foto: © Rafał Milach, cortesia The Archive of Public Protests / Festival Fotografia Europea
Foto: © Wojtek Radwanski, cortesia The Archive of Public Protest / Festival Fotografia Europea
Foto: © Joanna Musiał, cortesia The Archive of Public Protests / Festival Fotografia Europea

França: catadores de plantas silvestres e autodescoberta dos jovens
O ouro das ruínas, por Geoffroy Mathieu

Explorando um modo alternativo de subsistência em áreas suburbanas, o fotógrafo seguiu os personagens que buscam produtos naturais nas bordas de áreas cultivadas ou em terrenos baldios.

O ouro das ruínas, Grand Paris, 2020. Foto:©Geoffroy Mathieu / Festival Fotografia Europea

“Aqui, amoras, cerejas, cogumelos, plantas aromáticas ou plantas medicinais como a artemísia podem ser colhidos por pessoas sozinhas, em grupo ou em família”.

O ouro das ruínas, Grand Paris, 2020. Foto ©Geoffroy Mathieu / Festival Fotografia Europea

Mulheres da Europa contemporânea
Em dias claros você pode ver a Europa, por Myriam Meloni

O trabalho de Myriam Meloni constrói um retrato da ‘Europa contemporânea’ mostrando mulheres jovens, autônomas e profissionais.

Cláudia. Da série: Em dias claros você pode ver a Europa, Tânger 2023. Foto: © Myriam Meloni / Festival Fotografia Europea

Vivendo entre Barcelona e Tânger, a fotógrafa faz uma representação crítica sobre a contaminação cultural, enfatizando o diálogo dessas jovens que ‘da margem, em dias claros, olham a Europa’.

Dança e biologia. Da série: Em dias claros você pode ver a Europa, Tanger, 2023. Foto: © Myriam Meloni / Festival Fotografia Europea

Albânia: a queda de um regime
Grande Pai, por Camila de Maffei

Camilla de Maffei, ganhadora do European Photography Open Call 2023, apresenta ‘Grande Pai’, um projeto de longo prazo que, a partir do caso particular da Albânia, convida à reflexão sobre a relação global entre o indivíduo, a sociedade e os poderes dominantes.

“O colapso do regime, simbolizado pela demolição da estátua de Enver Hoxha na Praça Skanderbeg, em 20 de fevereiro de 1991, confrontou os albaneses com a liberdade que eles ansiavam por décadas, mas também os deixou com um vazio enorme”.

Grande Pai, Albânia, 2021. Foto: © Camilla De Maffei / Festival Fotografia Europea

O processo de investigação, iniciado em 2018 em colaboração com o jornalista Christian Elia, proporciona uma imersão na Albânia contemporânea e visa explorar as implicações e consequências da ascensão e queda de um regime totalitário após 45 anos.

Grande Pai, Albânia, 2021. Foto: © Camilla De Maffei / Festival Fotografia Europea

 


As imagens foram publicadas com autorização da organização do Festival Fotografia Europea e não podem ser reproduzidas.


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