Se a onda de calor deu a sensação de que muita gente parecia mais irritada nos últimos dias, pode não ser só impressão: uma pesquisa aponta que as pessoas reclamam mais nas redes sociais quando o tempo não dá trégua.
Um estudo publicado no periódico acadêmico Natural Hazards coletou dados do Twitter (agora X) para avaliar como os comportamentos e interações nas plataformas digitais mudam durante uma onda de calor.
Desenvolvido pela Universidade Charles Darwin (CDU) em colaboração com a Universidade Pardeborn, na Alemanha, o trabalho explora como estas redes podem servir de termômetro para a gravidade destes fenômenos naturais.
Onda de calor promove dor, notícia e ciência nas redes
Intitulado “Responses to heat waves: what can Twitter data tell us?” (“Respostas a ondas de calor: o que os dados do Twitter nos contam?”, em tradução livre), a pesquisa avaliou 62.920 tweets entre janeiro e abril de 2022.
O período selecionado pela pesquisa é o mesmo com registros de temperaturas acima da média na América do Sul, Ásia, Austrália e nos oceanos Atlântico e Pacífico.
As publicações foram classificadas por “clusters” — conjuntos das principais palavras ligadas a termos como “onda de calor”, “alerta de calor” e “insolação” — que foram divididas entre cinco tópicos, conforme abaixo:
Segundo a análise, 66% dos tweets coletados estavam diretamente ligados ao clima extremo, enquanto outros 34% falavam de eventos esportivos nas redes sociais, sem relação direta com as ondas de calor.
Dentre o percentual de postagens dentro do tema, 20% (10,299 tweets) mencionavam reclamações sobre impactos diretos do clima na saúde pessoal, enquanto 17% envolviam notícias sobre mudanças climáticas, com mais links e compartilhamentos.
Por fim, a pesquisa notou que 16% das publicações continham diversas expressões mais pessoais de raiva e frustração sobre o clima, enquanto uma menor parte (13%) misturava estas reclamações com as questões de saúde.
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Redes servem para desabafo, mas não fake news durante o calor
Para a professora associada da CDU e líder do estudo, Kerstin Zander, os clusters mostram como as redes sociais servem de desabafo, mas também de indicativo para a gravidade das ondas de calor.
“Muitos usuários usam o Twitter para compartilhar como eles se sentem sobre o clima insuportável e as comunicações no Twitter também foram usadas, embora em menor escala, para falar sobre como lidar e se aliviar do estresse [causado] pelo calor.”
Para Andy Nguyen, cientista de dados e co-autor da pesquisa, os dados e metadados de comportamento podem ser úteis em ações de enfrentamento ao clima extremo:
“Nós também identificamos as circunstâncias sob quais os tweets são mais prováveis de ser compartilhados, incluindo as janelas de oportunidade das redes sociais que podem ajudar quando organizações precisam disseminar informações durante emergências.”
No entanto, os dados apontam que serviços emergenciais do governo possuem pouco engajamento público em ocasiões como essa.
Zander informou que as postagens mais compartilhadas originavam de cientistas, sites de notícias e organizações climáticas, e poucas de desinformação:
“Nós detectamos pouquíssimas fake news ou atividades de contas de usuários que disseminam informação falsa sobre mudança climática, algo que as vezes acontece nas redes sociais.”
Para a pesquisadora, isso é um indicativo de que as pessoas tendem a confiar na ciência e na imprensa quando o assunto é onda de calor, já que notícias falsas não chegam a alcançar a mesma proeminência.
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