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Israel aprova regulamento abrindo caminho para suspender rede árabe Al Jazeera no país

Redação da rede de TV árabe Al Jazeera, que pode ser fechada pelo governo de Israel

Estúdio de TV da Al Jazeera (reprodução YouTube)

Londres – O governo de Israel aprovou um novo regulamento que permitirá o encerramento temporário de canais de notícias que “minem a segurança nacional, a ordem pública ou sirvam de base para a propaganda inimiga”. 

O alvo principal é a rede árabe Al Jazeera, controlada pelo governo do Catar e vista pelo governo de Israel como hostil ao país. 

A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) condenou a decisão e alertou para o risco de que o novo regulamento seja usado para encerrar outros meios de comunicação que operam em Israel e nos territórios palestinos ocupados.

Al Jazeera está presente em Gaza e em Israel

Criada em 1996, a Al Jazeera é uma das poucas empresas de mídia globais com presença física tanto em Gaza como em Israel.

Além de ser estatal do Catar, país que abriga o escritório político do Hamas e é um dos financiadores do grupo, a rede entrou em confronto direto com Israel após o assassinato da repórter Shireen Abu Akleh, em 2022, por forças militares israelenses.

Os jornalistas Elie Brakhya e Carmen Joukhadar, da Al Jazeera, estão entre os seis feridos num ataque de 13 de Outubro no sul do Líbano vindo da direção de Israel, no qual o cinegrafista da Reuters, Issam Abdallah, foi morto.

Em maio de 2021, um prédio na Faixa de Gaza onde funcionava o escritório da Al Jazeera e também de outras empresas de mídia internacionais, como a AP, foi destruído por um ataque aéreo de Israel após um aviso de evacuação. 

O que prevê o regulamento do governo de Israel 

Segundo o jornal Times of Israel, o regulamento anunciado na sexta-feira (20) dá poderes ao ministro das comunicações – com a concordância do ministro da defesa – para “ordenar aos canais de televisão que parem de transmitir; fechar seus escritórios em Israel, apreender seus equipamentos e encerrar seu site ou restringir o acesso, dependendo da localização do  servidor .”

A decisão deve ser aprovada pelo gabinete de segurança, deve ser baseada em pareceres jurídicos do órgão de segurança confirmando que o meio de comunicação está prejudicando a segurança nacional, e está sujeita à revisão de um tribunal distrital. 

O regulamento, válido por três meses ou até que o estado de emergência decretado por Israel seja revogado, estabelece que as intervenções terão duração de 30 dias, podendo ser prorrogadas. 

As autoridades israelenses confirmaram que a intenção era aplicar as medidas sobre a Al Jazeera. 

“As transmissões e reportagens da Al Jazeera constituem um incitamento contra Israel, ajudam o Hamas-ISIS e as organizações terroristas com a sua propaganda e encorajam a violência contra Israel”, disse o ministro das comunicações, Shlomo Karhi, ao anunciar a aprovação da regulamentação.

Israel já ameaçou fechar rede árabe antes 

Não é a primeira vez que a rede árabe desagrada Israel.

O governo do país ameaçou fechar o escritório da Al Jazeera em Jerusalém e expulsar a emissora em 2017, acusando-a de promover violência no noticiário sobre os protestos ocorridos na época, mas acabou não concretizando a ameaça. 

Antes do anúncio do novo regulamento, na semana passada, o Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) estava entre as entidades que instaram Israel a deixar a Al Jazeera funcionar sem restrições e permitir que os jornalistas da rede façam o seu trabalho. 

“Estamos profundamente preocupados com as ameaças das autoridades israelenses de censurar a cobertura da mídia sobre o atual conflito Israel-Gaza, usando vagas acusações de prejudicar o moral nacional ”, disse Sherif Mansour, coordenador do CPJ para o Oriente Médio e Norte da África.

“O CPJ insta Israel a não proibir a Al-Jazeera e a permitir que os jornalistas façam o seu trabalho.

Uma pluralidade de vozes da mídia é essencial para responsabilizar o poder, especialmente em tempos de guerra.”

Ao mesmo tempo, o governo de Israel também intensificou medidas para evitar manifestações favoráveis à Palestina nas redes sociais, com prisões e investigações. 

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