Londres – O número de jornalistas mortos em menos de quatro semanas no conflito entre o Hamas e Israel em Gaza ultrapassou o do período até então mais mortífero para a imprensa na região: já são pelo menos 24 fatalidades, contra 13 durante a Segunda Intifada, no início dos anos 2000, que era a recordista de perdas.
A comparação foi feita pelo Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), que registra dados de profissionais de imprensa mortos e feridos no mundo desde 1992.
As perdas nessas quatro semanas desde que o Hamas atacou Israel incluem profissionais a serviço e aqueles que foram vítimas de bombardeios às suas residências.
Mais jornalistas palestinos mortos em Gaza
Mas a conta pode ser ainda mais alta. Em entrevista à rede pública americana NPR, a diretora de emergências da organização, Lucy Westcott, disse que estão sendo investigados pelo menos 100 outros relatos de profissionais mortos, desaparecidos, detidos ou ameaçados.
“Sem precedentes”, disse.
Dos jornalistas que morreram, 20 eram palestinos, três eram israelenses e um libanês, o cinegrafista da agência Reuters Issam Abdallah. O CPJ confirmou oito profissionais feridos e três sobre os quais não há notícias.
Os casos mais recentes são os de Mohammed Imad Labad, jornalista do site de notícias Al Resalah, e Roshdi Sarraj, cofundador da Ain Media. Ambos morreram em bombardeios em Gaza nos dias 22 e 23 de outubro.
Nesta quarta-feira, o chefe da sucursal da rede árabe Al Jazeera em Gaza, Wael Dahdouh, perdeu a mulher, o filho, a filha e um neto em um ataque.
O CPJ estima que 48 instalações de imprensa em Gaza foram atingidas ou destruídas, deixando muitos jornalistas sem um local seguro para realizar o seu trabalho, uma vez que também enfrentam cortes de energia, escassez de alimentos e água e, por vezes têm de fugir com as suas famílias.
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Agressões e prisões de jornalistas
A organização registrou ainda diversos incidentes de agressões, prisões, ameaças, ataques cibernéticos e censura contra jornalistas enquanto realizavam seu trabalho em Israel e nos dois territórios palestinos, Gaza e Cisjordânia, envolvendo equipes locais e internacionais.
Um dos casos foi com uma equipe da BBC. Muhannad Tutunji, Haitham Abudiab e os demais integrantes do grupo foram retirados do veículo em que viajavam, revistados e mantidos sob a mira de uma arma pela polícia em Tel Aviv, apesar de seu veículo estar marcado como “TV” e os profissionais terem apresentado credenciais.
A BBC disse em nota que Tutunji foi atingido no pescoço e seu telefone foi jogado no chão enquanto tentava filmar o incidente.
A polícia de Israel emitiu um comunicado, citado pela BBC, afirmando que os seus agentes notaram “um veículo suspeito e o pararam para inspeção”, tendo revistado o veículo “por medo de posse de armas”.
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Em 7 de outubro, a Sky News Arabia disse que sua equipe na cidade de Ashkelon, no sul de Israel, foi atacada pela polícia israelense.
O correspondente do canal, Firas Lutfi, relatou que a polícia apontou rifles para sua cabeça, obrigou-o a se despir, confiscou seus telefones e os escoltou para fora da área, segundo a Sky News Arabia e o Alwafd news, com sede no Cairo .
Em 16 de outubro, quatro jornalistas palestinos – Mustafa Al-Khawaja, Sabri Jabr, Abdel Nasser Al-Laham e Muath Amarna – foram presos na Cisjordânia pelas forças de Israel.
Em 18 de outubro, dois jornalistas palestinos, Alaa Rimaway e Imad Abu Awad, foram presos pelas Forças de Defesa de Israel, segundo o Sindicato dos Jornalistas Palestinos, informação confirmada pelo CPJ.
A organização, que tem sede em Nova York, conversou com as famílias de quatro dos seis jornalistas, que confirmaram as prisões e disseram acreditar que seus eles foram capturados em reação a comentários nas redes sociais sobre o conflito.
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