Londres – Quatro semanas após o ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro, a organização de liberdade de imprensa Comitê de Proteção a Jornalistas registrou 36 profissionais de mídia mortos em Gaza, em Israel e no Líbano, representando uma média de mais de um por dia – ou nove por semana. 

A lista inclui fatalidades em coberturas externas e também jornalistas mortos em bombardeios que atingiram suas residências, sem que haja ainda comprovação de que estavam trabalhando no momento do ataque. 

O caso mais recente foi o de Mohammed Abu Hatab, do canal local TV Palestina, que perdeu a vida no dia 2 de novembro junto com 11 parentes em um ataque aéreo israelense em sua casa em Khan Yunis, sul da Faixa de Gaza. 

Dois dias antes, dois outros palestinos – Majd Fadl Arandas, do site de notícias Al-Jamaheer, e Iyad Matar, da TV Al-Aqsa, afiliada ao Hamas, foram mortos em circunstâncias semelhantes.

É o maior número de mortes de profissionais de imprensa em conflitos na região, superando as fatalidades na Segunda Intifada. Na Ucrânia, morreram até hoje 17 profissionais, segundo o CPJ, mas o número não inclui os que morreram comprovadamente fora de serviço. 

Jornalistas mortos, presos, detidos, feridos e ameaçados em Gaza 

O CPJ disse estar também investigando diversos relatos não confirmados de outros jornalistas mortos, desaparecidos, detidos, feridos ou ameaçados, e de danos a redações e residências de jornalistas.

Até 3 de novembro, a organização registrou 18 incidentes de jornalistas que foram alvo de ataques não fatais enquanto realizavam o seu trabalho em Israel e nos dois territórios palestinos, Gaza e Cisjordânia.

Foram pelo menos oito prisões, além de agressões, ameaças, ataques cibernéticos e censura. Em 31 de outubro, a rede Al Jazeera divulgou um comunicado confirmando que os seus websites e servidores foram alvo de um ataque cibernético. 

Jornalistas podem ter sido alvo de ataques deliberados 

A lista do CPJ, que tem sede em Nova York, é baseada em  informações obtidas diretamente de suas fontes na região e em reportagens da mídia. 

Embora não esteja claro se todos estes jornalistas cobriam o conflito no momento das suas mortes, a organização incluiu na contagem enquanto investiga as circunstâncias. 

Outra questão envolvendo as mortes de jornalistas na guerra entre o Hamas e Israel na Faixa de Gaza é a possibilidade de que alguns dos mortos tenham sido vítimas de ataques deliberados. 

É o caso da morte do cinegrafista da Reuters Issam Abdallah, no dia 13 de outubro na fronteira de Israel com o  Líbano. Ele estava em uma posição de imprensa junto com equipes de diversos meios de comunicação internacionais, incluindo a rede árabe Al Jazeera, quando o local foi atingido por mísseis. 

Uma investigação da organização Repórteres Sem Fronteiras apontou que o ataque foi feito por forças de Israel que teriam conhecimento de que o grupo era formado por jornalistas, após um sobrevoo de helicóptero registrado pelas câmeras.

Os profissionais usavam coletes e capacetes de imprensa, e os automóveis estavam sinalizados. 

Israel disse que não pode garantir segurança de jornalistas em Gaza 

Segundo o CPJ, o comando das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) disse às agências de notícias Reuters e Agence France Press que não poderiam garantir a segurança de seus jornalistas que operam na Faixa de Gaza, depois de terem buscado garantias de que eles não seriam alvo de ataques israelenses. 

A Repórteres Sem Fronteiras protocolou um pedido de investigação de crimes de guerra no Tribunal Penal Internacional, com base em relatos de jornalistas mortos de forma deliberada no conflito em Gaza. 

“O CPJ enfatiza que os jornalistas são civis que realizam um trabalho importante em tempos de crise e não devem ser alvo”, disse Sherif Mansour, coordenador do CPJ para o Médio Oriente e Norte de África.

“Os jornalistas de toda a região estão fazendo grandes sacrifícios para cobrir este conflito doloroso. Os que estão em Gaza, em particular, pagaram, e continuam a pagar, um preço sem precedentes e enfrentam ameaças exponenciais”, disse.