Londres – Além dos mais de 40 jornalistas que perderam a vida em Gaza, Israel e Líbano desde os ataques do Hamas em 7 de outubro, há pelo menos 14 profissionais de imprensa presos pelas forças de segurança de Israel na Cisjordânia, denunciou nesta segunda-feira a organização de liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras. 

Segundo a RSF, a maioria deles foi capturada em suas casas e em ataques direcionados praticados entre 15 de outubro e 8 de novembro no território palestino. 

“O aumento da repressão constitui um grave obstáculo à liberdade de imprensa”, disse a organização, exigindo a libertação imediata dos jornalistas. 

Jornalistas da Cisjordânia capturados em casa 

A Cisjordânia, controlada pela Autoridade Palestina (enquanto Gaza é controlada pelo Hamas), é frequentemente palco de confrontos envolvendo forças militares de Israel e jornalistas, como o que resultou na morte da repórter da rede Al Jazeera Shireen Abu Akleh, em 2022. 

Um dos casos destacados pela RSF entre os que estão presos neste momento é o do fotojornalista do site de notícias J-Media Moaz Amarna, visitado por soldados em sua casa no campo de refugiados de Dheisheh, ao sul de Belém.

Quando Moaz Amarna lhes disse que ele era jornalista, os soldados telefonaram ao seu superior, que ordenou imediatamente a sua prisão por “incitamento à violência” de acordo com a organização de liberdade de imprensa palestina Mada Center.

Transferido para a prisão de Megiddo em Israel, o jornalista foi condenado, duas semanas mais tarde, a uma detenção administrativa de 6 meses.

De acordo com seu advogado, ele tem sofrido violência diária por parte de seus carcereiros, que também o privam de cuidados médicos básicos, disse a Repórteres Sem Fronteiras.

O repórter sofre de sequelas de ferimentos graves no crânio causados por um tiro do exército israelense enquanto cobria um confronto armado perto de Jerusalém em 2019, no qual perdeu a visão de um dos olhos.

O diretor da produtora Space Media, que também é responsável pelo serviço de imprensa do município de Hebron, foi preso em sua casa no sul da cidade por volta da 1 da manhã de 20 de outubro, relatou a RSF.

Thaer Ziyad Al-Fakhouri, 32 anos, foi cercado por soldados israelenses, de acordo com seu pai, enquanto sua esposa, filhos e o resto da família foram forçados a permanecer em outro andar.

Depois de confiscar suas chaves e seu telefone, os militares o algemaram, vendaram e o levaram em um carro para um local desconhecido.

“A RSF denuncia um aumento da repressão, caracterizada por mais prisões abusivas por parte das forças israelenses de ocupação na Cisjordânia de jornalistas cobrindo a guerra em Gaza. Exigimos a libertação imediata e incondicional, bem como o fim das pressões e ameaças que impedem o trabalho dos repórteres palestinianos” disse Jonathan Dagher, chefe do escritório do Oriente Médio da RSF. 

Censura e prisões na Cisjordânia 

Além das prisões de Moaz Ibrahim Ata Amarna e Thaer Ziyad Al-Fakhouri, há segundo a RSF pelo menos mais doze jornalistas independentes ou que trabalham para a mídia palestina, incluindo Palestine Information Center, Alam Falastin, J-Media, Al Hadath e as agências de notícias Quds Press e Maan News Agency.

Entre eles estão Sojoud Assi (jornalista da Al Hadath), Alaa Hassan al-Rimawi (diretor da J-Media), e Abed al Naser Lahham (fotojornalista da Maan News Agency)

A organização regitrou ainda pelo menos sete outros jornalistas independentes detidos e interrogados por algumas horas em postos de controle militares ou policiais antes de serem libertados.

Outros profissionais da informação estão impedidos de cobrir as notícias na Cisjordânia, diz a Repórteres Sem Fronteiras:

As equipes da J-Media, as das redes de televisão jordaniana (JRTV) e palestina (Dafa), bem como os jornalistas independentes palestinos ou internacionais estão encontrando dificuldades para cobrir protestos de apoio em Gaza.

Alguns foram agredidos fisicamente, outros foram ameaçados verbalmente ou intimidados, e outros foram alvo de bombas sonoras pelas forças armadas.”

De acordo com jornalistas que trabalham no local, essa violência já existia, mas se intensificou desde 7 de outubro, quando o Hamas atacou Israel.