Londres – Fotos que documentam uma solução simples para a escassez de água, um dos efeitos mais dramáticos das mudanças climáticas, venceram a primeira edição do prêmio de imagens sobre Sustentabilidade realizado pela primeira vez este ano como parte do projeto Sony World Photo Awards.
O concurso, realizado com a colaboração das Nações Unidas, tem como objetivo reconhecer as histórias, pessoas e organizações cujas ações estejam alinhadas aos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela organização.
O melhor trabalho foi o do italiano Alessandro Cinque, que documentou uma solução inovadora para combater a escassez crônica de água em Lima, no Peru.
Fotos de Cinque retratam solução para falta de água
As fotos de Cinque mostram como as redes de neblina são usadas para capturar gotas de umidade do ar, chegando a coletar cerca de 200 litros de água por dia para os residentes e ajudando a resolver um dos efeitos das mudanças climáticas.
A iniciativa foi de Abel Cruz, que migrou dos Andes para Lima. Diante da escassez, ele resolveu fazer alguma coisa para mudar a situação e fundou uma organização não-governamental.
Sempre que chega a algum lugar novo para instalar as redes de neblina, ele busca recursos para comprar materiais e organizar treinamentos para os moradores, para que possam colocar as redes e mantê-las.
A escassez de água atinge 40% da população mundial, segundo as Nações Unidas.
“É importante destacar os esforços em Lima para combater o problema, na esperança de que histórias como essas mexam com as consciências e que possamos entender a importância da união para enfrentar as mudanças climáticas e criar um mundo mais justo para todos”, disse o autor das fotos.
A imagem retrata uma mulher carregando uma rede de neblina para ser instalada. Espera-se que essas redes proporcionem economia financeira para muitas pessoas.
A foto mostra o bairro após a instalação das redes de neblina. Villa Maria del Triunfo tem uma população de aproximadamente 430 mil habitantes.
De acordo com os últimos dados oficiais do governo peruano, cerca de 21,5% de sua população vive na pobreza ou são extremamente pobres.
Fotos destacam soluções europeias para a mudança climática
Em outro concurso, o World Press Photo, um dos finalistas foi o italiano Simone Tramonte, que documentou na série ‘Transição Net-Zero’ tecnologias inovadoras que oferecem caminhos possíveis para atingir a meta de zerar as emissões, aplicadas na produção de energia, de alimentos e na economia circular.
A União Europeia estabeleceu como meta reduzir as emissões de gases do efeito estufa em pelo menos 55% até 2030 e eliminá-las até 2050.
Um operador realiza uma verificação de rotina de um fotobiorreator em uma instalação de de microalgas em Reykjanesbær, Islândia. A empresa usa algas para produzir um suplemento alimentar rico em antioxidantes.
Um trabalhador colhe tomates em uma estufa em Ostellato, Itália. A alta eficiência das luzes de LED, usando 100% de energia verde, garantem uma colheita sustentável durante toda o ano.
Trabalhadores monitoram o crescimento de mudas em uma fazenda vertical perto de Milão, Itália. A foto mostra o cultivo em pilhas verticais para aumentar a eficiência do uso da terra e reduzir o consumo de água, um dos grandes desafios para proteger o meio ambiente.
A câmara é uma central de conversão de resíduos em energia e fica em Turim. Ela alimenta a maior rede de aquecimento na Itália, servindo cerca de 9,3 mil casas e mais de 500 mil pessoas.
Esta usina solar em Fuentes, na Andalucía, Espanha, pode fornecer energia ininterrupta. Em vez da luz solar, ela usa o calor solar (que é mais facilmente armazenado) para gerar eletricidade.
O outro lado: fotos mostram efeitos das mudanças climáticas ainda sem solução
Enquanto as soluções não chegam para todos, modos de vida e paisagens vão sendo alteradas, muitas vezes forçando a migração. As fotos de efeitos das mudanças climáticas premiadas nas categorias Meio Ambiente, Vida Selvagem & Natureza e Paisagem do concurso principal do Sony Photo Awards retratam situações de mudança e esperança.
Miruku, por Marisol Mendez (Bolívia) e Federico Kaplan (Argentina)
A série de fotos Miruku retrata os Wayuus, uma população indígena de La Guajira, deserto costeiro da Colômbia, que ao contrário dos beneficiados pelo projeto da ONG no Peru, convive com a escassez de água devido às mudanças climáticas e interferência humana.
A imagem mostra um grupo de crianças Wayuu em Polumacho com Emilio, o líder da aldeia, em novembro de 2021.
“No momento não temos água suficiente. A água que temos não podemos usar para beber. Os tempos de seca sempre foram difíceis. Isso acontece nos meses de janeiro, fevereiro, daí por mais uns três ou quatro meses. Se durante o ano não chover, é muito difícil”, conta Emílio.
O aquecimento global agrava o problema, causando secas e fome, e estragando as instalações que ajudam a obter água potável, salientam os autores da série.
Na foto Nina, de 7 anos, uma menina de Polumacho, exibe os adesivos que ganhou por completar suas atividades. No lado direito um pássaro morto na porta de uma casa em Pesuapa.
O rio moribundo, por Jonas Kakó, Alemanha
O rio Colorado já se estendeu por mais de 2 mil quilômetros, das Montanhas Rochosas ao Golfo da Califórnia, cortando o oeste dos Estados Unidos. Mas foi secando e não chega mais ao delta.
A agricultura extensiva e o desvio de água para as áreas metropolitanas provocaram essas mudanças, além de represas, enormes sistemas de canais e cidades em crescimento no deserto.
A imagem feita no Arizona em novembro de 2021 mostra que o nível da água do Lago Mead diminuiu drasticamente nos últimos anos.
Hoje, mais de 44 milhões de pessoas dependem da água do rio Colorado, mas menos neve nas montanhas intensifica a luta por ela. Agricultores têm que declarar falência e investidores compram fazendas para obter direitos sobre a água.
Antonia Torres Gonzáles aparece nas margens do Colorado perto de El Mayor, México. Ela teme que, com desaparecimento do rio e de seus peixes, as tradições do povo Cucapá (povo da água) também se percam.
Os jovens da tribo se mudam em busca de emprego, mas ela tenta preservar sua cultura ensinando o trabalho com contas e rituais para as novas gerações.
Distopia verde, por Axel Javier Sulzbacher, Alemanha
O fotógrafo alemão Axel retratou em seu projeto o impacto ambiental da popularidade do abacate, que explodiu nas últimas décadas, com o ônus da crescente demanda recaindo principalmente sobre o estado mexicano de Michoacán.
A alta demanda internacional levou a plantações mais extensas e numerosas, com florestas derrubadas ilegalmente para plantar mais abacates.
Isso aconteceu porque mais de 300 mil empregos dependem direta ou indiretamente da produção e comercialização dessa fruta na região, que gera uma receita anual de US$ 2,5 bilhões.
Nas fábricas que embalam abacates, como esta da foto em Aztecavo, o trabalho é feito em turnos, 24 horas por dia, 365 dias por ano. Michoacan é a única região do mundo onde os abacates podem ser colhidos o ano todo.
Em 2021, Michoacán produziu cerca de 1,8 milhão de toneladas da fruta e os cartéis de drogas agora são atraídos pelo potencial de receita do comércio de abacate.
Com o aumento da violência, o governo teve que enviar militares para manter a ordem. Em meados de 2022, as exportações para os Estados Unidos – o maior consumidor da fruta – tiveram que ser interrompidas temporariamente.
Na categoria Vida Selvagem & Natureza, animais invadem a área urbana
Cidades se tornaram selvagens, por Corey Arnold, USA
O fotógrafo Corey Arnold foi o vencedor da categoria Vida Selvagem & Natureza do Sony Photography Awards em 2023, com uma série de fotos registrando ursos negros, coiotes e guaxinins resistindo ao crescimento das cidades, enquanto outros animais estão desaparecendo.
O fotógrafo acompanhou esses animais em cidades dos EUA e retratou uma visão mais íntima de como a vida selvagem está se adaptando à urbanização.
O coiote da foto encontrou um espaço para uivar como se estivesse em plena floresta, sem se importar com os prédios e luzes da cidade ao fundo.
Os temidos ursos se aproximam cada vez mais das pessoas, e são bem-vindos. Arnold capturou o momento em que dois deles visitam o quintal de uma residência e interagem com a moradora – que por via das dúvidas preferiu ficar protegida pela porta de vidro.
O fotógrafo registrou filhotes de urso preto brincando em um balanço de corda montado no quintal de uma casa em Asheville, Carolina do Norte.
Os ursos negros urbanos em Asheville estão se tornando mais ousados e destemidos, resultando em um grande fluxo de animais vagando pelos bairros residenciais.
Na categoria Paisagem, inundação no Sudão do Sul
Perdas e danos, por Fabio Bucciarelli, Itália
A série produzida pelo fotógrafo italiano retrata as inundações no Sudão do Sul. O país tem sido atormentado pela violência política e pela instabilidade desde sua independência do Sudão, em 2011. E agora está passando por grandes inundações pelo quarto ano consecutivo.
Nas aldeias, a maioria das casas é construída com palha de madeira e lona plástica, o que agravou ainda mais as consequências das enchentes.
A foto mostra um tukul, casa típica no Sudão do Sul, perto de Mayendit, estado de Unity. Inundações sem precedentes submergiram grandes áreas do país e deslocaram centenas de milhares de pessoas.
Desde 2019, a crise das mudanças climáticas limática aumentou a intensidade das chuvas, provocando destruição de casas, propriedades, plantações, gado, escolas e centros de saúde, além de danos a estradas e pontes.
A imagem mostra um carro submerso pelas águas da enchente em Mayendit, uma das muitas aldeias que desaparecem debaixo d’água. Em 2020, mais de 12 mil pessoas viviam lá, mas nos últimos dois anos cerca de dois terços delas partiram, tornando-se deslocados internos.
As imagens foram divulgadas pela organização dos concursos de fotografia Sony World Photography Awards World Press Photo e não podem ser reproduzidas.
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