Londres – O blogueiro russo Oleynik Hilmi, de 29 anos, foi condenado esta semana por um tribunal de Moscou a três anos de prisão, sob acusação de produzir e distribuir pornografia na internet, crime previsto no Código Penal da Rússia. 

De acordo com o advogado que o representa, o blogueiro admitiu ter postado “cenas de relações sexuais” em 2022, mas o canal no Telegram usado foi excluído antes de as acusações que levaram à condenação serem formalizadas.

No entanto, ele continuou aparecendo em outros canais com roupas de mulher e atitude provocativa, irritando figuras proeminentes que estão ao lado do governo de Vladimir Putin na onda de pressões contra pessoas LGBT na Rússia.

‘Propaganda gay’ e ‘pornografia’ contra a lei na Rússia

O regime de Vladimir Putin tornou ilegal o movimento no país LGBT. Em dezembro de 2022, o país aprovou uma lei proibindo “propaganda gay”. Em novembro deste ano, tornou ilegal o movimento LGBT no país. 

Oleynik, que se apresenta nas redes como Hilmi Forks, iniciou um canal no YouTube em 2014. No Instagram ele conta mais de 400 mil seguidores. Desde 2021 o influenciador passou a postar vídeos em que aparece vestido de mulher. 

Ele diz que não se identifica como uma pessoa trans, mas sim como um homem na forma feminina, de acordo com uma entrevista à publicação Paper.

Blogueiro russo Hilmi Oleynik 'Forks' condenado na Rússia
Hilmi Oleynik ‘Forks’ diante do Kremlin, em Moscou (foto: Instagram)

 

As postagens seguem o estilo dos influencers, exibindo marcas e estilo de vida luxuoso, com irreverência e o corpo muitas vezes exposto. 

Segundo a assessoria de imprensa do tribunal da Rússia que condenou o blogueiro, em novembro de 2022 ele “gravou um vídeo com pornografia de si mesmo no celular e postou na internet em canais públicos, acessíveis a um número ilimitado de pessoas.”

A deputada estadual Yana Lantratova formalizou então uma denúncia contra Hilmi e contra a blogueira trangenero Dasha Koreika, da qual ele é amigo, ao Gabinete do Procurador-Geral e ao Roskomnadzor, órgão regulador de mídia.

Os motivos alegados foram disseminação de propaganda LGBT, “transgenerismo”, e “promoção de comportamento imoral e insulto aos sentimentos dos fiéis”.

Ela escreveu: 

O problema não é que alguém tenha uma orientação sexual não tradicional ou tenha decidido mudar de gênero – este é um assunto pessoal de cada um.

Mas por que tornar esta informação pública e atrativa? Especialmente em um formato tão pervertido?

Em resposta ao pedido da deputada, um processo administrativo foi aberto em janeiro de 2023. 

Canal do blogueiro já estava excluído 

O advogado de Forks, Konstantin Erokhin, relatou no Telegram que após a acusação, seu cliente admitiu culpa, tirou do ar o canal “no qual havia dúvidas relacionadas à distribuição de material pornográfico”, cooperou com a investigação e também “participou na transferência de fundos para organizações de caridade que lidam com questões morais”.

Em setembro, o blogueiro chegou a ser detido por 48 horas após uma denúncia de uma mulher desconhecida de que ele teria sugerido mudança de sexo à sua filha adolescente.

A conversa com a jovem teria acontecido diante de uma escola, onde ele parou para fotos com estudantes que o reconheceram, mas as denúncias não foram formalizadas, o que dificultou um processo baseado nelas. 

Em seguida, Hilmi passou 12 dias preso após uma briga em um restaurante, acusado de “vandalismo e perturbação da ordem pública”. 

Blogueiro russo Hilmi Oleynik 'Forks' condenado na Rússia
Blogueiro russ Hilmi Oleynik “Forks” no Tribunal (foto: Telegram)

No entanto, ele acabou condenado pelas postagens no canal já excluído, com base na lei de pornografia na Internet.

Como parte da onda moralista que avança na Rússia, na semana passada, uma festa de fim de ano com celebridades convidadas a comparecerem com traje “quase nu” em Moscou resultou em prisões, multas e cancelamento de contratos dos participantes e da influenciadora que organizou o evento.