Londres – O supertelescópio espacial James Webb, que completou dois anos no espaço no dia 25 de dezembro, atravessou 2023 encantando cientistas e amantes da astrofotografia com fotos surpreendentes de pontos distantes do universo.
Veja algumas das imagens enviadas pelo “astrofotógrafo” da Nasa em 2023, revelando belezas e mistérios de galáxias, estrelas, nebulosas e planetas – como esta de Urano, divulgada no dia 18 de dezembro.
Por que o James Webb é importante
O James Webb abriu uma nova era na astronomia ao ao observar o universo em luz infravermelha, proporcionando visões mais nítidas e de pontos mais longínquos do que seus antecessores.
Ele foi batizado com esse nome em homenagem a um antigo diretor da NASA, James Edwin Webb, que em sua gestão, na década de 1960, supervisionou projetos como o primeiro voo tripulado e a primeira tentativa de levar o homem à lua.
O nome virou objeto de controvérsia, com uma corrente de cientistas defendendo a troca porque Webb teria acobertado perseguições a pessoas LGBTQ+ na agência espacial.
Mas a ideia de trocar o nome não “pegou” , e o James Webb consolidou seu nome em 2023 como símbolo de fotos surpreendentes, mesmo ganhando um concorrente europeu, o Euclides, que em 2023 mandou suas primeiras fotos do universo.
As melhores fotos do James Webb em 2023
Em 13 de dezembro de 2023, o James Webb ajudou os cientistas a identificarem a menor anã marrom flutuante já vista, no conglomerado IC438.
Anãs marrons são corpos celestes que estão no limite entre estrelas e planetas. Formam-se como estrelas, tornando-se suficientemente densas para colapsar sob a sua própria gravidade, mas nunca se tornam densas e quentes o suficiente para começarem a fundir hidrogénio e transformarem-se em estrelas de verdade.
Poucos dias antes, já em clima de Natal, a Nasa apresentou a imagem que chamou de “enfeite redondo e brilhante para adornar a árvore natalina”: uma visão em alta definição de uma estrela explodida “como cacos de vidro”.
Cassiopeia A é um dos remanescentes de supernova mais bem estudados em todo o cosmos, segundo a Nasa. No entanto, o James Webb permitiu uma nova fase nas investigações científica, revelando características novas e inesperadas dentro de sua camada interna.
Em 30 de novembro de 2023, uma nova foto enviada pelo telescópio James Webb mostrou detalhes intrincados do objeto Herbig Haro 797 (HH 797), na constelação de Perseu.
Esses objetos são regiões luminosas que circundam estrelas recém-nascidas (conhecidas como protoestrelas), formadas quando ventos estelares ou jatos de gás expelidos por elas criam ondas de choque que colidem com gás e poeira próximos em alta velocidade.
Também em novembro, o James Webb revelou em novas fotos características nunca vistas – e ainda sem explicação científica – de uma parte da Via Láctea.
A região de formação estelar, denominada Sagitário C, fica a cerca de 300 anos-luz do buraco negro supermassivo central da Via Láctea, Sagitário A.
Entre as estimadas 500 mil estrelas na imagem está um aglomerado de protoestrelas – estrelas que ainda estão se formando e ganhando massa – produzindo fluxos “que brilham como uma fogueira no meio de uma nuvem infravermelha escura”, da descrição poética da Nasa .
O James Webb não trabalha sempre sozinho. Nesta imagem, os cientistas combinaram dados do Observatório de Raios X Chandra da Nasa e imagens enviadas por ele para revelar sinais de um buraco negro em crescimento “apenas” 470 milhões de anos após o big bang.
O buraco negro é mostrado em uma fase inicial de crescimento nunca antes observada, com sua massa semelhante à da sua galáxia hospedeira.
Este resultado pode explicar como se formaram alguns dos primeiros buracos negros supermassivos do Universo.
Outra imagem impressionante do James Webb em 2023 foi esta da Nebulosa de Caranguejo, um remanescente de supernova localizado a 6.500 anos-luz de distância da Terra, na constelação de Touro.
A curiosidade da foto é que esta nebulosa é uma velha conhecida dos astrônomos: o primeiro registro de um evento energético nela foi feito no Século 19.
Mas o supertelescópio revelou o que os antigos jamais poderiam imaginar ver, e deu aos cientistas elementos para tentar entender que tipo de explosão a produziu.
Em 2023, o supertelescópio da Nasa também encontrou dezenas de corpos celestes do tamanho do planeta Júpiter ‘flutuando’ dentro da Nebulosa de Órion.
Eles foram chamados de Jumbos (Jupiter-mass binary objects, ou objetos binários com a massa de Júpiter), descritos como pequenos demais para serem estrelas e diferentes da classificação de planeta por não orbitarem em torno de uma estrela-mãe.
Segundo o consórcio, essa nebulosa é “um tesouro” para os astrônomos que estudam a formação e evolução inicial das estrelas, com uma rica diversidade de fenômenos e objetos, incluindo fluxos e discos de formação de planetas em torno de estrelas jovens; protoestrelas incorporadas; anãs marrons; objetos de massa planetária flutuantes e regiões de fotodissociação – as regiões de interface onde a radiação das estrelas massivas aquece, molda e influencia a química do gás.
No dia 3 de agosto de 2023 foram divulgadas fotos da Nebulosa do Anel feitas pelo James Webb. Também conhecida como Messier 57, ela fica na constelação de Lyra e é visível para entusiastas do céu durante o verão.
As novas imagens ns permitiram observar em detalhes os capítulos finais da vida de uma estrela dentro da nebulosa a partir das cores emitidas pelos diversos elementos químicos, que mesmo os telescópios mais avançados não tinham ainda conseguido exibir.
A foto do aniversário de ‘trabalho’ do James Webb
A foto comemorativa do primeir0 aniversário ‘de trabalho’ do James Webb, em julho de 2023 (ele mandou suas primeiras fotos em julho do ano anterior), mostra o complexo de nuvens Rho Ophiuchi, a região de formação estelar mais próxima da Terra, como explicou a Nasa
Jatos saindo de estrelas jovens cruzam a imagem, impactando o gás interestelar circundante e iluminando o hidrogênio molecular, mostrado em vermelho. Algumas estrelas exibem a sombra reveladora de um disco circunstelar, a formação de futuros sistemas planetários.
Estrelas podem ser indisciplinadas, como demonstrou essa foto que a Nasa chamou de “travessuras de um par de estrelas jovens em plena formação”.
Imagens como estas dão aos cientistas uma visão sobre a quantidade de massa que as estrelas acumulam ao longo do tempo, permitindo projetar como o nosso próprio Sol, que é uma estrela de baixa massa, se formou – juntamente com o seu sistema planetário.
Outra revelação do supertelescópio da Nasa em 2023 foi a do buraco negro supermassivo ativo mais distante já visto até o momento.
A galáxia, CEERS 1019, existiu pouco mais de 570 milhões de anos após o big bang, e o seu buraco negro é menos massivo do que qualquer outro já identificado no Universo primitivo.
Em maio de 2023, os astrónomos usaram o James Webb para obter imagens da poeira quente em torno de uma estrela jovem próxima, a Fomalhaut. E tiveram uma surpesa.
Foram encontradas estruturas de poeira cósmica muito mais complexas do que os cinturões de poeira de asteróides do nosso sistema solar.
Os cinturões de poeira são resultantes de colisões de corpos maiores, análogos a asteróides e cometas, e são descritos como “ discos de detritos ”
Outra linda e importante imagem enviada pelo telescópio da Nasa em 2023 mostra pela primeira vez a formação de estrelas, gás e poeira em galáxias próximas, com resolução sem precedentes em comprimentos de onda infravermelhos.
Em janeiro de 2023, uma das primeiras foto do ano mostrou NGC 346, uma das regiões de formação estelar mais dinâmicas em galáxias próximas, que se tornou menos misteriosa.
Ela está localizada na Pequena Nuvem de Magalhães (SMC), uma galáxia anã próxima à Via Láctea. A SMC contém concentrações mais baixas de elementos mais pesados que o hidrogénio ou o hélio, que os astrónomos chamam de metais, em comparação com a Via Láctea.
Como os grãos de poeira no espaço são compostos principalmente de metais, os cientistas esperavam que houvesse pequenas quantidades de poeira e que fosse difícil de detectar, mas o Webb revelou o oposto, prenunciando um ano de novas descobertas.
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