Jornalistas e profissionais de imprensa que trabalham no Global Media Group (GMG), dono de importantes títulos de Portugal como o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias, entraram em greve de 24 horas nesta quarta-feira (10) em protesto contra o plano de eliminar até 200 dos 550 postos de trabalho, além de atrasos no pagamento de salários e do bônus de Natal.
Em setembro de 2023, o World Opportunity Fund (WOF) adquiriu uma fatia de 51% na empresa Páginas Civilizadas, proprietária da Global Media, ficando com 25,8% de participação social e dos direitos de voto no grupo, que também tem acionistas portugueses. O fundo tem sede nas Bahamas e é gerido pela sociedade Union Capital Group, baseada na Suíça, que enfrenta problemas com autoridades regulatórias locais.
A situação do GMG, que de acordo com mídia portuguesa teria registrado perdas de 7 milhões de euros em 2023, entrou no radar da política, com a criação de uma comissão de inquérito na Assembleia da República (o parlamento português), um processo no órgão regulador de imprensa para examinar questões societárias e manifestação de preocupação por parte do presidente de Portugal, Marcelo Rabelo de Sousa, sobre a crise da sustentabilidade do jornalismo no país.
Greve de jornalistas convocada por diversas entidades sindicais de Portugal
A greve foi convocada pelo SJ (Sindicato dos Jornalistas de Portugal), pelo SITE-Norte (Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte) e pelo Sindicato dos Trabalhadores de Telecomunicações e Comunicação Audiovisual (STT).
O movimento envolve os profissionais do Jornal de Notícias, Diário de Notícias (os dois listados entre os de maior circulação em Portugal), Rádio TSF, jornal esportivo O Jogo, Diário de Notícias Madeira, jornal econômico Dinheiro Vivo, Açoriano Oriental, Rádio Comercial dos Açores e gráfica Naveprinter.
No site do Diário de Notícias, um aviso informa que a página não está sendo atualizada e que a edição impressa só retornará às bancas em 11 de janeiro.
O Sindicato dos Jornalistas convocou também uma paralisação entre as 14h e as 15h de todos jornalistas de todas as redações que quisessem apoiar simbolicamente o protesto contra o GMG.
Grupo detém títulos importantes do jornalismo de Portugal
O GMG é composto por sete jornais (seis impressos e um digital), 14 revistas (incluindo Men’s Health e Women’s Health), duas rádios e duas gráficas, além de empresas focadas na distribuição e comercialização das marcas.
O grupo detém títulos de referência como a rádio TSF, jornais centenários como o Diário de Notícias (fundado em 1864) e o Jornal de Notícias (fundado em 1888).
Empresas de mídia nas ilhas de Madeira e de Açores também fazem parte do portfólio, com veículos como o Açoriano Oriental, o jornal regional mais antigo de Portugal, fundado em 1835. A circulação impressa total supera 1,8 milhão de exemplares, segundo dados divulgados pelo grupo.
O World Opportunity Fund (WOF) é o acionista majoritário nas empresas Palavras Civilizadas e Grandes Notícias. Elas possuem 50,25% da GMG. Os outros acionistas são os empresários Kevin Ho (29,35%) e José Pedro Soeiro (20,40%).
O GMG tem uma dívida de 7,5 milhões de euros com a Autoridade Tributária e Segurança Social, que está sendo paga por meio de um acordo denominado Regime Excepcional de Regularização Tributária. A administração atual responsabiliza as gestões anteriores por estes encargos.
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Presidente de Portugal falou sobre a crise que levou à greve dos jornalistas
Em 30 novembro do ano passado, a comissão executiva do GMG emitiu um comunicado acusando o presidente da República de ingerência política no grupo e comunicou internamente que os problemas causados pelos ataques externos levariam a atrasos no pagamento dos salários.
No início de dezembro, o presidente executivo nomeado pelo fundo, José Paulo Fafe, divulgou comunicado afirmando que o GMG se encontrava numa situação financeira muito grave, e disse que seria preciso cortar cerca de 200 profissionais.
Na semana passada, em discurso na cerimônia do Prêmio Gazeta, organizado pelo Clube de Jornalistas de Portugal, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Souza, falou sobre a situação preocupante da indústria de mídia em Portugal.
“Este é o momento de chegar a entendimentos sobre esta matéria. Isto porque repetem-se os diagnósticos, a situação piora, vai piorando, depois pode ficar rigorosamente irrecuperável. […]”
Rebelo de Souza criticou a indefinição “em que ninguém é responsável: não é o proprietário, não é o gestor, não é o financiador, não é ninguém com responsabilidades administrativas – morreu solteira a culpa”.
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Situação do grupo de imprensa é investigada no parlamento de Portugal
Para investigar a situação do GMG, foi formada uma Comissão Parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, na Assembleia da República, a pedido do Bloco de Esquerda.
Várias audiências têm sido realizadas nessa semana para entender o cenário e se houve erros da atual administração perante a legislação portuguesa que rege os meios de comunicação.
A agência reguladora da imprensa no país (ERC) abriu processo administrativo contra o WOF. O processo pode decretar a suspensão dos direitos de voto e dos direitos patrimoniais do fundo.
O órgão irá ainda avaliar se houve modificação não aprovada pela ERC na rádio TSF e as consequências da reestruturação que possam afetar o pluralismo e a preservação das linhas editoriais dos vários veículos do grupo.
por Lena Miessva, de Portugal
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