O Conselho de Ensino Superior do estado americano da Flórida, cujos membros são escolhidos pelo governador Ron DeSantis, aprovou em votação na última quarta-feira a remoção da disciplina de Sociologia como opção no currículo básico das 12 faculdades públicas estaduais.
Elas passarão a a oferecer em seu lugar um curso de história americana como uma das matérias disponíveis para os alunos cumprirem os requisitos básicos de ciências sociais em sua formação.
A medida faz parte de uma série de ações alinhadas ao movimento “anti-woke” que avança nos EUA, contrário a posições consideradas “politicamente corretas” em relação a temas como racismo, colonialismo, sexualidade e identidade de gênero. DeSantis é um de seus principais expoentes.
O conselho também proibiu na semana passada o uso de fundos públicos para programas de diversidade, equidade e inclusão nas faculdades do estado.
Em 2022, DeSantis havia sancionado uma lei proibindo o ensino de estudos afro-americanos nas escolas públicas, sob a justificativa de que não têm valor educacional e violam a lei estadual.
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Comissário da Flórida explica decisão sobre sociologia nas faculdades
Manny Díaz Jr., comissário de educação da Flórida e aliado do governador, defendeu a decisão de extinguir a disciplina nas faculdades estaduais sob o argumento de que “a sociologia foi sequestrada por ativistas de esquerda e não serve mais ao propósito pretendido como um curso de conhecimentos gerais para estudantes”.
Ele acrescentou que o objetivo do sistema de ensino superior da Flórida é preparar alunos para empregos de alta demanda e altos salários, e não na ideologia ‘woke’.
O novo curso que entra no lugar da disciplina de sociologia fornecerá “um relato historicamente preciso da fundação da América, dos horrores da escravidão, do a Guerra Civil resultante e a era da Reconstrução”, informou o conselho em um comunicado anunciando a decisão.
“Estou orgulhoso da decisão do Conselho hoje e aguardo com expectativa o impacto positivo que a inclusão deste curso terá no sucesso futuro dos nossos alunos. Os alunos do nosso Sistema Universitário Estadual da Flórida terão a oportunidade de aprender sobre a criação e o desenvolvimento de nossa nação como parte das opções básicas de curso”, disse o Chanceler Ray Rodrigues.
Associações discordaram da medida
Mas a Associação de Sociologia Americana se disse “indignada”:
“Esta decisão parece vir não de uma perspectiva informada, mas sim de um grave mal-entendido da sociologia como uma disciplina ilegítima impulsionada por uma ideologia ‘radical’ e ‘woke’”.
A entidade argumenta que “a sociologia é o estudo científico da vida social, da mudança social e das causas e consequências sociais do comportamento humano, que estão no cerne da alfabetização cívica e são essenciais para uma ampla gama de carreiras”, e que “a falha em priorizar o estudo científico das causas e consequências do comportamento humano é uma falha no compromisso da Flórida em fornecer educação cívica de alta qualidade e preparação da força de trabalho”.
A Associação Americana de Professores Universitários classificou a remoção da sociologia do currículo básico das faculdades estaduais da Flórida de “golpe trágico para a liberdade intelectual dos estudantes”
O mandato do governador Ron DeSantis, do Partido Republicano, tem sido marcado por atos criticados por defensores da liberdade de expressão e de políticas progressivas, recebidas com preocupação pelo risco de representarem censura e de estimularem a polarização e os preconceitos.
Em 2022, a aprovação da lei apelidada de “Don’t Say Gay” (“Não Diga Gay”, em português) na Flórida fez aumentar em 400% a discriminação contra a comunidade LGBTQIA+ em publicações de língua inglesa nas redes sociais, segundo a ONG Center for Countering Digital Hate (CCDH).
A legislação proíbe aulas sobre gênero e orientação sexual nas escolas até a terceira série do ensino fundamental.
Há uma semana, DeSantis desistiu da disputa pela vaga de candidato do Partido Republicano à presidência dos EUA, liderada por Donald Trump.
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