Londres – “É fácil ficar hipnotizado por essas galáxias espirais”, disse a equipe do James Webb  no comunicado explicando a importância científica e a beleza das novas fotos do universo capturadas pelo supertelescópio que inscreveu seu nome na história da astrofotografia. 

O novo conjunto de imagens faz parte de um projeto de longa data, o Physics at High Angular Resolution in Near GalaxieS (PHANGS), que tem a participação de mais de 150 astrônomos em todo o mundo.

Galáxias espirais fotografadas pelo telescópio James Webb

O programa já tinha imagens dessas galáxias, capturadas por equipamentos como o telescópio Hubble. Mas segundo a Nasa, a agência espacial americana que lidera o projeto James Webb, as novas fotos forneceram várias novas peças do quebra-cabeça – além de encantar até os que não acompanham pesquisas astronômicas de perto. 

“As imagens são extraordinárias”, disse Janice Lee, cientista de projetos para iniciativas estratégicas no Space Telescope Science Institute, em Baltimore.

“Eles são alucinantes mesmo para pesquisadores que as estudam há décadas. Bolhas e filamentos são exibidos nas menores escalas já observadas e contam a história do ciclo de formação estelar.”

Galáxias espirais pelas lentes do James Webb

Em uma das imagens, a  galáxia espiral NGC 628 está dividida diagonalmente. Os registros feitos pelo Telescópio Espacial James Webb aparecem à esquerda, e os do Telescópio Espacial Hubble à direita. As imagens de Webb e Hubble mostram um contraste impressionante, o inverso da escuridão e da luz.

Galáxia espiral NGC 628 em nova foto do telescópio James Webb
NASA, ESA, CSA, STScI, Janice Lee (STScI), Thomas Williams (Oxford) e a equipe PHANGS

Nas imagens de Webb, é possível ver poeira brilhando em luz infravermelha. Nas imagens do Hubble, as regiões escuras são onde a luz das estrelas é absorvida pela poeira.


A galáxia espiral NGC 628 está a 32 milhões de anos-luz de distância, na constelação de Peixes. A imagem feita pelo James Webb mostra uma galáxia densamente povoada, ancorada por sua região central, que tem uma névoa azul clara. Dentro do núcleo estão populações de estrelas mais antigas, representadas por muitos pontos de luz azul. 

Braços espirais em tons de laranja, compostos por estrelas, gás e poeira, partem do centro e estendem-se até as bordas, lembrando uma seção transversal de uma concha de náutilo. 

Os pontos adicionais de luz azul brilhante são estrelas espalhadas pela galáxia. 


A foto da NGC 1300 mostra uma galáxia espiral barrada de frente, ancorada por sua região central, circular. O núcleo é minúsculo comparado ao resto da galáxia, estendendo-se até a estrutura de barras diagonais preenchida com uma névoa azul de estrelas.

A galáxia espiral NGC 1300 está a 69 milhões de anos-luz de distância, na constelação de Eridanus.NASA, ESA, CSA, STScI, Janice Lee (STScI), Thomas Williams (Oxford) e a equipe PHANGS

Filamentos de poeira laranja cruzam a barra, estendendo-se diagonalmente para cima e para baixo, conectando o círculo amarelo no núcleo central aos braços espirais da galáxia. 


Esta imagem do James Webb da NGC 1087 mostra uma galáxia espiral densamente povoada. Braços espirais filamentares feitos de estrelas, gás e poeira começam no centro e se estendem até as bordas superior e inferior. 
A galáxia espiral NGC 1087 está a 80 milhões de anos-luz de distância, na constelação de Cetus.NASA, ESA, CSA, STScI, Janice Lee (STScI), Thomas Williams (Oxford) e equipe PHANGS

Há tanta luz nesta região que os braços espirais da galáxia parecem confusos. Eles são em grande parte laranja, variando do laranja escuro ao laranja brilhante.


A NIRCam (Near-Infrared Camera) do James Webb capturou milhões de estrelas nessas imagens, algumas espalhadas pelos braços espirais e outras agrupadas em aglomerados de estrelas.

É possível distinguir a poeira brilhante ao redor e entre as estrelas, algumas ainda não formadas completamente – envoltas no gás e na poeira que alimentam o seu crescimento, “como sementes vermelhas brilhantes nas pontas dos picos poeirentos”, descreveram os cientistas.

“É aqui que podemos encontrar as estrelas mais novas e mais massivas das galáxias”, disse Erik Rosolowsky, professor de física na Universidade de Alberta, em Edmonton, Canadá.


As fotos do James Webb também surpreenderam os astrônomos ao mostrarem grandes conchas esféricas no gás e na poeira, como na imagem da NGC 2835.

A galáxia espiral NGC 2835 está a 35 milhões de anos-luz de distância, na constelação de Hydra. NASA, ESA, CSA, STScI, Janice Lee (STScI), Thomas Williams (Oxford) e a equipe PHANGS

“Esses buracos podem ter sido criados por uma ou mais estrelas que explodiram, abrindo buracos gigantes no material interestelar ”, explicou Adam Leroy, professor de astronomia na Universidade Estadual de Ohio, em Columbus.


As evidências mostram que as galáxias crescem de dentro para fora – a formação estelar começa nos núcleos das galáxias e espalha-se ao longo dos seus braços, seguindo em forma de espiral para longe do centro. 

Quanto mais longe uma estrela estiver do núcleo da galáxia, maior será a probabilidade de ela ser mais jovem. As áreas próximas dos núcleos que parecem iluminadas por um holofote azul são conjuntos de estrelas mais antigas.

A galáxia espiral NGC 1512 está a 30 milhões de anos-luz de distância, na constelação Horologium. NASA, ESA, CSA, STScI, Janice Lee (STScI), Thomas Williams (Oxford) e a equipe PHANGS

Os núcleos de galáxias inundados de picos de difração rosa e vermelhos indicam que pode existir um buraco negro supermassivo ativo, segundo Eva Schinnerer, cientista do Instituto Max Planck de Astronomia em Heidelberg, Alemanha.

“Ou os aglomerados de estrelas em direção ao centro são tão brilhantes que saturaram aquela área da imagem.”

“As estrelas podem viver durante milhares de milhões ou bilhões de anos”, explicou Adam Leroy, destacando o valor das imagens capturadas pelo James Webb para a ciência: 

“Ao catalogar com precisão todos os tipos de estrelas, podemos construir uma visão holística e mais confiável dos seus ciclos de vida.”