O vazamento de dados pessoais de pelo menos 324 jornalistas credenciados pela presidência do México para cobrir as entrevistas coletivas diárias do presidente Andrés Manuel López Obrador colocou novamente em questão a segurança da imprensa em um dos países mais perigosos do mundo para o jornalismo.

Segundo o Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), citando reportagens na mídia local, um site exibiu os nomes completos dos jornalistas, o código CURP (um código de identidade pessoal semelhante a um número de segurança social) e uma cópia de um documento de identificação pessoal, que contém o endereço. 

Funcionários do governo disseram que a informação foi extraída de um “site governamental inativo” por alguém usando o nome de usuário e a senha de um ex-funcionário do governo através de um IP registrado na Espanha.

Vazamento de dados dos jornalistas não foi visto pelo governo do México

Os dados foram extraídos no dia 22 de janeiro, mas a falha não foi detectada. O caso só veio à tona quatro dia depois, quando jornalistas alvo do vazamento no México começaram a denunciar nas redes sociais. 

Em nota publicada na sexta-feira (2), a presidência da República informou que o acesso ao site foi bloqueado imediatamente, e que os jornalistas envolvidos estão sendo atendidos pela Subsecretaria de Direitos Humanos, População e Migrações do Ministério do Interior (Segob), por meio do Mecanismo de Proteção a Defensores de Direitos Humanos e Jornalistas.

O governo disse ainda ter instalado no Palácio Nacional um módulo de orientação e informação para receber pedidos de jornalistas que desejem ser incorporados ao mecanismo e fornecer informações para a formalização de denúncias criminais. 

México, um dos países mais perigosos para a imprensa 

“No que continua a ser o país mais perigoso para jornalistas no Hemisfério Ocidental, é chocante que as informações pessoais de centenas de repórteres possam ser tão facilmente extraídas de sistemas governamentais e tornadas públicas […]”, disse em nota Jan-Albert Hootsen, representante do CPJ  no México.

“As autoridades mexicanas devem identificar imediatamente o autor do crime, levá-lo à justiça, realizar uma revisão completa da segurança dos seus sistemas que contêm informações pessoais sensíveis e garantir que vazamentos semelhantes não ocorram novamente.”

A entidade lembra que jornalistas que participam da coletiva de imprensa diária – popularmente conhecida como la mañanera – e fazem perguntas críticas ao presidente foram submetidos a assédio e ameaças no passado. 

Daniel Flores, repórter do site de notícias Reporte Índigo e um dos jornalistas cujas informações pessoais foram vazadas, disse ao CPJ que foi avisado em 26 de janeiro por um ex-editor de que suas informações pessoais, incluindo uma cópia de seu cartão eleitoral, estavam disponíveis em um website.

“Eu e alguns outros repórteres conseguimos baixar as informações desse site, então temos que considerar que outras pessoas também conseguiram fazer o mesmo”, disse Flores ao CPJ. “Minha maior preocupação é que isso possa ser usado para roubo de identidade.”