MediaTalks em UOL

Príncipe Harry vai ganhar ‘quantia substancial’ em acordo com tabloide que hackeou seu telefone

Príncipe Harry no julgamento do processo contra tabloide Mirror em Londres

Príncipe Harry chegando ao tribunal para o julgamento da causa movida contra o grupo Mirror (reprodução SkyTV YT)

Londres – Depois de vencer em dezembro o processo movido contra o Mirror Newspapers por hackeamento e espionagem, o príncipe Harry anunciou um acordo como o grupo que edita alguns dos principais tabloides britânicos para colocar fim à causa, evitando novos julgamentos em torno de outras 115 reportagens que não fizeram parte da primeira condenação. 

Segundo o advogado de Harry, o MGN concordou em pagar “uma quantia adicional substancial”, além das 140 mil libras já determinadas pela justiça em dezembro, incluindo uma indenização ao príncipe e as custas judiciais. 

No despacho, o juiz determinou um pagamento provisório de 400 mil libras. 

Timothy Fancourt considerou que houve “hackeamento extensivo” por parte dos jornais entre 2006 e 2011. Os jornais do Mirror Group também foram condenados por contratar detetives particulares para espionar Harry. 

O juiz concluiu que o telefone de Harry foi hackeado entre o 2003 e 2009. Das 33 matérias apresentadas como fruto de práticas ilegais, 15 foram aceitas pelo magistrado. O acordo encerra a revisão de outras. 

O príncipe ainda tem processos contra dois outros jornais, o The Sun e o Daily Mail, como parte de uma luta épica contra a imprensa britânica que a família real nunca quis encarar, e segundo ele, o desencorajou a travar. 

“Nossa missão continua”, disse Harry em comunicado diante do tribunal de Londres por seu advogado.

Ao anunciar acordo com tabloide, Harry atacou ex-editor 

A nota lida pelo advogado David Sherborne nesta sexta-feira (9) mencionou uma das principais figuras da mídia britânica, Piers Morgan, em termos duros. 

Ex-editor do Mirror e desafeto de Harry e Meghan, Morgan sempre negou que soubesse do hackeamento ou da espionagem, uma tese questionada por quem conhece seu estilo de trabalho e pela equipe jurídica de Harry. 

A decisão de dezembro disse que havia evidências “convincentes” de que Morgan, que foi editor do Daily Mirror entre 1995 e 2004, sabia as escutas telefônicas quando comandava o jornal.

A nota lida pelo advogado na sexta-feira diz que o processo serviu para provar a maneira “chocantemente desonesta pela qual o Mirror agiu por tantos anos e depois procurou esconder a verdade”. 

E  “à luz de tudo isso”,  apelou às autoridades “pela defesa do estado de direito, provando que ninguém está acima dele.”

“Isso inclui o Sr. Morgan, que, como editor, sabia perfeitamente bem o que estava acontecendo, como o juiz entendeu. 

Mesmo seu próprio empregador percebeu que simplesmente não poderia chamá-lo de testemunha da verdade.

Seu desprezo pela decisão do tribunal e seus ataques contínuos desde então demonstram por que era tão importante obter um julgamento claro e detalhado.”

Piers Morgan tem hoje um programa na rede TalkTV, uma emissora de pouca expressão comparada a outras mais influentes, incluindo a ITV, de onde ele saiu após um incidente envolvendo Meghan. 

O jornalista apresentava o programa matinal Good Morning Britain, em horário nobre, e questionou a veracidade das declarações dadas na entrevista à apresentadora americana Oprah Winfrey em 2021 de que teria tido pensamentos suicidas como resultado de pressões da família real. 

As críticas de Morgan causaram fúria, e Piers Morgan perdeu o posto.

Além do programa na TalkTV, que ele anunciou esta semana estar transferindo para o YouTube, o jornalista escrever artigos com críticas regulares ao casal, que acusa de estar destruindo a monarquia britânica. 

Na época da condenação, em dezembro, o grupo Mirror não tentou defender seu ex-editor e admitiu os erros. 

“Uma vez que más práticas aconteceram, pedimos desculpas, assumimos a responsabilidade e pagaremos a indenização”. 

Nesta sexta-feira, o grupo voltou a admitir a culpa nas acusações. 

“Estamos satisfeitos por ter chegado a este acordo, o que dá à nossa organização mais clareza para avançar a partir de eventos que ocorreram há muitos anos e pelos quais nos desculpamos”.

Entenda o processo de Harry contra o Mirror 

A prática de coletar informações começou em 1995, mas se tornou frequente a partir de 1996, segundo o processo que levou Harry a se tornar o primeiro integrante da monarquia a depor em um tribunal desde o século 19. 

  • Ele afirmou que todas as reportagens listadas no processo foram produto de hacking ou “blagging” por telefone – obtendo informações fazendo-se passar por outra pessoa.
  • Hackers ligavam para os números telefônicos de celebridades como Harry, desvendavam a senha de acesso à secretária eletrônica e assim ouviam as mensagens gravadas.
  • A maioria das queixas de Harry está relacionada a seus relacionamentos com as ex-namoradas Chelsy Davy, Cressida Bonas, Laura Gerard-Leigh e Natalie Pinkham – incluindo detalhes de seus sentimentos em relação a elas, seus planos e conversas.
  • O julgamento ocorreu ao longo de sete semanas, e em junho o príncipe enfrentou oito horas de interrogatório durante dois dias.
  • Dezenas de testemunhas prestaram depoimento pessoalmente ou por escrito, incluindo ex-jornalistas, editores, investigadores particulares e executivos da MGN. 

O advogado do duque, David Sherborne, afirmou que os jornalistas do Mirror chegaram a ouvir mensagens de correio de voz da princesa Diana enquanto Piers Morgan era editor do jornal.

Harry abre caminho para novas reclamações 

A vitória no processo é importante para Harry, que tem ações judiciais contra vários outros jornais, e para a mídia britânica, pois coloca em pauta novamente as práticas muitas vezes ilegais e abusivas dos tabloides sensacionalistas e pode abrir caminho para outras reclamações judiciais. 

Em seu livro Spare e na série Harry e Meghan, da Netflix, o príncipe e a mulher disparam contra a imprensa sensacionalista, nem sempre deixando claro que o foco é o segmento de tabloides, o que acaba contribuindo para uma má percepção sobre a imprensa de forma geral. 

É uma luta épica, e Harry e Meghan tem colecionado mais vitórias do que derrotas.

 Os únicos grupos de jornais britânicos que eles não processaram ou não estão processando são os que editam o The Guardian, o Financial Times e o Daily Telegraph. 

Embora em algumas queixas os jornais tentem desqualificar os processos sob o argumento de que o prazo legal para reclamações já passou, as práticas dos tabloides estão sendo expostas como nunca antes. O acordo com o Mirror é mais uma derrota para eles. 

Sair da versão mobile