A desinformação climática não é nova, mas um relatório produzido pela organização não-governamental Center for Countering Digital Hate (CCDH) mapeou o que os pesquisadores chamaram de “novo negacionismo”, usando como exemplo o conteúdo encontrado no YouTube.
O novo foco é atacar a ciência climática e os cientistas e desacreditar as soluções para combater o problema, em vez de negar que o aquecimento global existe ou é influenciado por ações do homem.
Segundo o estudo, essas menagens agora representam 70% de todo o conteúdo negacionista sobre mudanças climáticas encontrado no universo pesquisado no YouTube. Há seis anos, a taxa era de 35%, segundo o CCDH.
A organização é a mesma que está sendo processada pelo Twitter/X por ter apontado aumento de discurso de ódio na rede social após a aquisição por Elon Musk e assim ter “afastado anunciantes”.
O foco no YouTube para o novo estudo é um sinal de que não se trata de um problema pessoal do chefe da ONG, o combativo Imran Ahmed, com Elon Musk.
O tamanho da desinformação climática no YouTube
O resultado da investigação é impressionante quando se leva em conta a penetração do YouTube. Uma pesquisa do Pew Research Center feita nos EUA em setembro do ano passado revelou que 83% dos adultos usam a plataforma regularmente.
A penetração entre adolescentes de 13 a 17 anos é ainda maior: 93% deles consomem conteúdo no YouTube, muito mais do que em TikTok (63%), Instagram (59%) e Facebook (33%).
Toda essa gente está sendo cada vez mais exposta a teses do chamado “novo negacionismo”, que foi mapeado a partir de uma análise realizada com auxílio de uma ferramenta de inteligência artificial chamada CARDS, desenvolvida por acadêmicos.
Os pesquisadores quantificaram a frequência de diferentes tipos de alegações de negação climática em um conjunto significativo de conteúdo.
Foram examinadas transcrições de texto de 12.058 vídeos relacionados com o clima, publicados entre 1º de janeiro de 2018 e 30 de setembro de 2023 em 96 canais do YouTube conhecidos por terem publicado conteúdo negacionista do clima. No total, o conjunto de dados cobre 4.458 horas ou quase 186 dias de conteúdo.
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O velho e o novo negacionismo do clima
O discurso em 2018, quando o mundo não estava tão quente, concentrava-se em duas linhas de argumentação, batizadas de “antigo negacionismo”:
- O aquecimento global não está acontecendo
- Os gases de efeito estufa gerados pelo homem não são a causa do aquecimento global
Só que o aumento da temperatura foi “derretendo” essas argumentações, e as narrativas tiveram que mudar.
A análise do CCDH mostra que o percentual de alegações associadas ao “velho negacionismo” caiu de 65% em 2018 para apenas 30% em 2023. A nova narrativa, que responde por 70%, é apoiada em três linhas de argumentação, segundo os pesquisadores:
- Os impactos do aquecimento global são benéficos ou inofensivos
- As soluções climáticas não funcionarão
- A ciência climática e o movimento climático não são confiáveis
A ONG afirmou que o YouTube fatura até US$ 13,4 milhões por ano com anúncios nos canais estudados, e que as políticas da plataforma proíbem a monetização do velho negacionismo, mas não do novo negacionismo.
ONG pede atualização da política do YouTube para neutralizar desinformação climática
Ainda que parte desses argumentos contra o consenso científico seja em teoria proibida pelas regras da comunidade, o CCDH diz ter encontrado evidências de monetização das antigas teses.
Uma das conclusões do trabalho é a cobrança ao Google para que atualize a política sobre conteúdo de negação climática a fim de refletir as narrativas adaptadas ao momento. O texto da política atual diz:
“Não permitimos conteúdo que contrarie o consenso científico oficial sobre as alterações climáticas.”
O Center For Countering Digital Hate pede que seja alterada para:
“Não permitimos conteúdo que contrarie o consenso científico oficial sobre as causas, impactos e soluções para as alterações climáticas.”
A mudança parece pequena, apenas três palavras. Mas pode fazer diferença para embasar remoções e desmonetização − caso o YouTube queira, é claro.
O relatório completo pode ser visto aqui.
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