Londres – A família da jornalista ucraniana Oleksandra Kuvshynova, que morreu aos 24 anos em março de 2022 cobrindo a guerra da Ucrânia, entrou com um processo em um tribunal de Nova York contra a Fox News, para a qual ela trabalhava como produtora.
A família argumenta que Sasha, como era conhecida, foi pressionada se aventurar em áreas perigosas. O ataque ao carro em que a jornalista estava, nos arredores de Kiev, vitimou também o cinegrafista Pierre Zakrzewki e deixou gravemente ferido o repórter Benjamin Hall, que perdeu a perna direita, o pé esquerdo e a visão de um dos olhos.
Os pais dela, Andriy Kuvshynov e Iryna Mamaysur, também acusam a Fox News de fraude e difamação, incluindo o acobertamento de fatos relativos às circunstâncias da morte, que teriam tido a colaboração do repórter.
Os acusados pela família da jornalista ucraniana
Os réus no processo são a Fox Corporation, a CEO da Fox News, Suzanne Scott; Rupert Murdoch, o magnata da mídia que é dono da rede; o repórter Benjamin Hall e a editora Harper Collins, que publicou seu livro “Saved”.
Hall e a editora são acusados de ocultar fatos relativos à reportgem que culminou com a morte de Sasha no livro, como parte de uma campanha para proteger a Fox News. Os fatos seriam contraditórios com uma investigação encomendada pela família.
O advogado da família disse que após o ataque, a Fox ofereceu o pagamento do salário de Oleksandra, o valor do seguro de vida e as despesas do funeral, mas obrigou o pai dela a assinar um documento abrindo mão de qualquer outra indenização.
Entre os argumentos para sustentar a tese de que a equipe foi enviada para uma missão perigosa está a morte do documentarista americano Brent Renaud, ocorrida 24 horas antes em um local próximo onde ocorreu o ataque que tirou a vida da jornalista e do cinegrafista.
O consultor de segurança britânico Shane Thomson, que assessorava a Fox News, é co-autor do processo movido contra a rede americana. Ele não estava com a equipe, mas disse que advertiu sobre o perigo. O prefeito da cidade de Kiev teria também alertado sobre os riscos, segundo o processo.
A investigação da família apurou que o consultor de segurança teria sido deixado para trás porque o motorista do carro que levava a equipe se recusou a seguir em frente para o local do ataque devido aos riscos, e um carro menor teve que ser usado. Sem o consultor, a equipe teria então cometido erros fatais que a expuseram ainda mais.
O carro foi atacado perto de um posto de controle abandonado e pegou fogo.
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A resposta da Fox News
Em nota, a Fox News disse:
“Embora entendamos o luto e continuemos a lamentar a perda de Pierre Zakrzewski e Sasha Kuvshynova, nos defenderemos respeitosamente contra as alegações imprecisas dentro deste processo.
A segurança de nossos jornalistas sempre foi nossa prioridade número um. Somos imensamente gratos aos repórteres da Fox News que cobriram a guerra na Ucrânia e continuamos comprometidos em fazer a cobertura da região.”
O processo da família da jornalista ucraniana Oleksandra Kuvshynova expõe a fragilidade dos chamados “fixers”, jornalistas locais que ajudam equipes estrangeiras em missões em locais perigosos ou em conflitos, como foi o caso dela.
Eles atuam como tradutores, ajudam a marcar entrevistas e a destravar obstáculos para as coberturas. Podem também gravar entrevistas no idioma local para depois serem transcritas e usadas em reportagens.
Na maior parte das vezes eles não têm os mesmos direitos trabalhistas do que os profissionais empregados nas redes, recebem pagamento baixo e não ganham crédito pela sua contribuição.
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