Porto –  O jornalista Júlio Magalhães, da CNN Portugal, pediu afastamento voluntário das atividades de âncora de noticiários no canal em função de sua “indisponibilidade para se apresentar ao trabalho”, conforme comunicado distribuído pela TVI, do grupo Media Capital, após a execução de um mandado de busca e apreensão em sua casa como parte da Operação Maestro, da qual é um dos investigados.

No epicentro da Maestro está o empresário Manuel Serrão, presidente da Associação Selectiva Moda e que seria sócio de Magalhães em empresas. Serrão iniciou a carreira no jornalismo esportivo e depois passou a se dedicar a negócios ligados à indústria têxtil, mas continua atuando como comentarista de futebol na TV. 

A Selectiva Moda ganhou o direito de aprovar projetos financiados pela União Europeia destinados a promover a empresas do têxteis e de gastronomia local e internacionalmente por meio de eventos como feiras de moda, festivais de cinema e concursos de fotografia. Mas 14 deles estão sob suspeita de fraude, com desvios de quase 40 milhões de euros, informou a Polícia Judiciária em nota sobre a operação. 

O órgão disse que foram executados no dia 19 de março 78 mandados de busca e apreensão em residências e outros locais, com o objetivo de recolher evidências relacionadas a fraudes na obtenção de subsídios, fraude fiscal qualificada, lavagem de dinheiro e abuso de poder, “que lesaram os interesses financeiros da União Europeia e do Estado português”. 

De acordo com a Polícia Judiciária de Portugal, o esquema era baseado na criação de estruturas empresariais complexas para justificar contratos referentes a serviços e fornecimento de bens financiados por fundos comunitários como parte do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (POCI), entre 2015 e 2023. 

A Polícia Judiciária apontou ainda suspeitas de envolvimento de funcionários públicos na Operação Maestro. Nuno Mangas, da Compete 2020, empresa estatal responsável pela gestão de fundos europeus, também está entre os investigados.

Jornalista investigado em Portugal tem 40 anos de carreira na imprensa 

Júlio Magalhães, de 61 anos,  é uma personalidade conhecida na mídia portuguesa, com quase 40 anos de trabalho em jornais, rádio e televisão, incluindo a estatal RTP. Ee foi também diretor-geral da rede de TV Porto Canal, que deixou em 2021 alegando divergências com os rumos editoriais.

No mesmo ano, recebeu convite do grupo que opera a CNN em Portugal para apresentar um telejornal em horário nobre. Ele também fala na Rádio Observador, e em fevereiro lançou um romance. 

De acordo com a reportagem da CNN Portugal, Magalhães teria usado sua influência para ajudar Manuel Serrão “a abrir portas”.

De acordo com a nota da TVI, “é entendimento mútuo que essa situação [o afastamento do jornalista] se deverá manter até esclarecimento complementar dos factos aludidos na Operação Maestro”.

“A TVI pautará a sua conduta pelo respeito que lhe merece o jornalista, em obediência, também, ao princípio da presunção de inocência a que todos os cidadãos têm direito”, disse a empresa em nota. 

O Ministério Público levanta ainda dúvidas sobre a função do jornal digital T, criado com o objetivo de “divulgar a indústria têxtil e de vestuário portuguesa. Segundo a ficha técnica disponível no site, é propriedade da Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal (ATP).

A investigação, a cargo da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ, prosseguirá com a análise das provas recolhidas. 


Colaboração Lena Miessva, do Porto