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Netanyahu diz que ‘agirá imediatamente’ para banir TV árabe Al Jazeera de Israel: ‘canal terrorista’

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, quer rede Al Jazeera banida do país

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel (foto: Twitter / X)

Londres – O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, usou palavras duras para confirmar que agirá imediatamente para que a rede árabe Al Jazeera seja banida do país, após a aprovação de uma lei nesta segunda-feira (1) dando ao governo o poder de encerrar temporariamente as atividades de veículos de imprensa vistos como risco à segurança nacional. 

Em um post no Twitter/X, Netanyahu disse: “A Al Jazeera prejudicou a segurança de Israel, participou ativamente no massacre de 7 de outubro e incitou a população contra os soldados. É hora de retirar o braço do Hamas do nosso país”.

E completou: “O canal terrorista Al Jazeera não transmitirá mais de Israel. Pretendo agir imediatamente de acordo com a nova lei para interromper a atividade do canal.”

A Al Jazeera protestou contra a nova lei e a decisão de bani-la. Em um comunicado, a rede disse: 

 “Netanyahu não conseguiu encontrar qualquer explicação para oferecer ao mundo justificando os seus contínuos ataques à Al Jazeera e à liberdade de imprensa, exceto a apresentação de novas mentiras e calúnias inflamatórias contra a rede e os direitos dos seus funcionários.

“A Al Jazeera responsabiliza o primeiro-ministro israelense pela segurança de seu pessoal e das instalações da rede em todo o mundo, após seu incitamento e esta falsa acusação vergonhosa.”

Al Jazeera no alvo para ser banida de Israel desde outubro 

Em outubro de 2023, um regulamento havia sido adotado pelo governo permitindo que Israel impedisse o funcionamento de meios de comunicação considerados ameaças à segurança nacional, aparentemente tendo a Al Jazeera como alvo.

Mas naquele momento o Catar estava intermediando negociações para libertação de reféns em poder do Hamas, o que pode ter sido motivo para a emissora financiada pelo país ter sido poupada.

Apenas o canal de notícias libanês Al-Mayadeen  foi fechado, sob acusação de ser “porta-voz” do grupo Hezbollah e de seus jornalistas atuarem como terroristas fingindo-se de repórteres.

Na segunda-feira (1), o Parlamento de Israel aprovou por 71 votos a 10 a nova lei, permitindo que emissoras estrangeiras classificadas por Israel como ameaça à segurança nacional sejam banidas “temporariamente”. O jornal The Times de Israel a chamou de “Lei Al Jazeera”. 

Após aprovação do primeiro-ministro e do gabinete de segurança, o ministro da Comunicação pode agora ordenar aos produtores de conteúdo que interrompam as transmissões e fechem escritórios em territórios de Israel.

O governo pode ainda confiscar equipamentos, determinar que o site do veículo saia do ar, se estiver em um servidor em Israel, ou bloquear o acesso se estiver fora do país.

A proibição vigoraria por um período de 45 dias consecutivos, que poderia ser renovado. A lei permaneceria em vigor até julho ou até o fim dos combates significativos em Gaza. 

Segundo o Times of Israel, o Ministro das Comunicações, Shlomo Karhi, prometeu que o canal de notícias Al Jazeera seria fechado “nos próximos dias”, dizendo que “não haverá liberdade de expressão” para porta-vozes do Hamas em Israel.”

Al Jazeera e Israel

Criada em 1996, a Al Jazeera se transformou em uma rede de TV global e já recebeu diversos prêmios de jornalismo. A relação com Israel é tensa, marcada por tragédias envolvendo seus profissionais. 

Em 2022 uma das personalidades mais conhecidas da mídia no mundo árabe, a repórter Shireen Abu Akleh, foi baleada por soldados israelenses quando participava da cobertura de uma operação militar na Cisjordânia, junto com outros profissionais de imprensa e devidamente identificada. 

Na guerra com o Hamas em Gaza, que já deixou mais de 100 jornalistas mortos desde outubro, o jornalista da rede Hamza Al-Dahdouh perdeu a vida em janeiro quando o carro de reportagem em que viajava foi atingido por um míssil disparado por um drone, ato confirmado por Israel sob o argumento de que havia um terrorista no veículo operando uma aeronave”. 

Ele era filho de Wael Dahdouh, chefe do escritório da Al Jazeera em Gaza, e que já tinha perdido filhos, a mulher e um neto em um bombardeio em outubro. Após a morte do filho, jornalista deixou Gaza para tratamento médico no Catar. 

E os jornalistas Elie Brakhya e Carmen Joukhadar, da Al Jazeera, estão entre os seis feridos num ataque de 13 de outubro no sul do Líbano vindo da direção de Israel, no qual o cinegrafista da Reuters, Issam Abdallah, foi morto.

A preocupação com a segurança de profissionais fora de Israel ou dos territórios em guerra, mencionada pela Al Jazeera na nota sobre o possível banimento, é justificada.

Na semana passada, um jornalista de um canal de notícias de oposição ao regime do Irã sobreviveu a um esfaqueamento em Londres, caso que está sendo investigado como ato terrorista pelas autoridades britânicas. 

Reação internacional ao risco de a Al Jazeera ser banida 

A Casa Branca se manifestou contra a decisão de Israel de banir a Al Jazeera. Na entrevista coletiva diária desta segunda-feira (1), a secretária de imprensa de Joe Biden, Karine Jean-Pierre, disse que “se for verdade, a medida é preocupante”. 

“Acreditamos na liberdade de imprensa. Os Estados Unidos apoiam o trabalho extremamente importante que os jornalistas de todo o mundo realizam, e isso inclui aqueles que cobrem  o conflito em Gaza.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) apelou ao governo israelense para que não feche o escritório da emissora e permita que a mídia informe livremente sobre os acontecimentos em Israel e Gaza durante o conflito.

“O CPJ está profundamente preocupado com a nova legislação que autoriza o governo de Netanyahu a fechar a Al-Jazeera em Israel”, disse Carlos Martínez de la Serna, diretor do CPJ.

“A lei concede ao governo o poder de fechar qualquer meio de comunicação estrangeiro que opere em Israel, representando uma ameaça significativa para a mídia internacional no país. Isto contribui para um clima de autocensura e hostilidade em relação à imprensa, uma tendência que se intensificou desde o início da guerra Israel-Gaza”, apontou. 

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