LondresGustavo Gorriti, o jornalista investigativo mais reconhecido do Peru e perseguido há anos pelas autoridades por suas denúncias de corrupção no governo e no sistema judiciário, está enfrentando agora uma nova acusação: a de que teria “subornado” dois promotores públicos, promovendo-os em troca de notícias exclusivas. 

O promotor público de Lima, Alcides Chinchay, abriu em 27 de março uma investigação preliminar contra Gorriti, editor-chefe do site de notícias investigativas  IDL-Reporteros, que entre outras denúncias foi o responsável por revelar a corrupção praticada pela Odebrecht em países da América Latina. 

Gorriti disse ao Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) que suas interações com os promotores públicos constituem uma relação normal entre um jornalista e suas fontes, e qualificou a investigação preliminar de “absurda”.

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Segundo o CPJ, a notificação de 15 páginas recebida pelo jornalista afirma que ele não tem direito a manter o anonimato de suas fontes e que deve revelar à Procuradoria-Geral da República os números de telefones que utilizou entre 2016 e 2021 .

Gustavo Gorriti afirmou que o IDL-Reporteros defenderá o direito dos jornalistas de manter fontes anônimas e de publicar denúncias de representantes do governo, “não importa o custo”. 

Adriana León, porta-voz do Instituto de Imprensa e Sociedade, com sede em Lima, disse ao CPJ que a constituição do Peru protege os direitos dos jornalistas de manter o sigilo de fontes.

Este é um princípio fundamental da liberdade de imprensa, pois permite que informantes revelem à mídia informações verdadeiras e de interesse público sobre crimes e más práticas sem o medo de serem punidas, assim como os jornalistas que as recebem. 

“As autoridades peruanas devem parar de forçar Gustavo Gorriti a revelar suas fontes, abandonar esta investigação e respeitar o direito do repórter a comunicações confidenciais”, disse Carlos Martínez de la Serna, diretor do CPJ, em Nova York.

“Os jornalistas devem poder fazer reportagem sobre questões de interesse público livres de assédio judicial e retaliação pelo seu trabalho.”

Em parte como resultado das reportagens do IDL-Reporteros, dezenas de autoridades, funcionários públicos, advogados, juízes e empresários peruanos estão sob investigação por atos criminosos, salientou o CPJ, enquanto Gustavo Gorriti tem sido alvo de  manifestantes de direita e de funcionários do governo. 

Em julho de 2023, a  Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão da OEA, emitiu uma resolução determinando ao governo do Peru que intensificasse as medidas para proteger a vida, a integridade pessoal e o direito ao trabalho de Gorreti, por julgar insuficientes as ações adotadas pelo Estado até o momento.

O jornalista virou o principal alvo do grupo extremista La Resistencia, que promove atos violentos contra a imprensa.