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Ucrânia abre inquérito sobre intimidação a repórter investigativo pressionado por soldados a se alistar

Cãmeras de segurança registraram os soldados que abordaram o jornalista da Ucrânia em um shopping

Câmeras de segurança registraram a abordagem do jornalista por soltados em um shopping center (divulgação)

Londres – A Procuradoria Geral da Ucrânia abriu investigação sobre a denúncia de tentativa de intimidação por parte de soldados do exército contra o repórter Yevhen Shulhat, abordado em um shopping center e intimado a comparecer a um escritório de alistamento militar. 

 Shulhat trabalha no veículo de jornalismo investigativo Slidstvo.info e havia publicado dias antes uma reportagem sobre negócios imobiliários de uma autoridade do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU). 

Ele se recusou a acompanhar os soldados e a cena foi filmada. Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o caso está sendo tratado pela Procuradoria como “obstrução ao trabalho jornalístico” e “abuso de autoridade por parte de um funcionário”, em investigação aberta no dia 8 de abril. 

Embora a Rússia tenha adotado práticas ainda mais repressivas contra a mídia independente após o início da guerra com a Ucrânia, o país invadido também foi alvo de críticas de entidades de defesa da liberdade de imprensa por restrições como obstáculos ao acesso a zonas de conflito e dificuldades para concessão de vistos. 

Jornalista recusou-se a ir ao centro de alistamento da Ucrânia

A abordagem ao jornalista aconteceu em um centro comercial no norte de Kiev, no dia 1º de abril.

No vídeo do encontro, os dois soldados começaram por chamá-lo pelo primeiro nome, dando a entender que já sabiam quem ele era. Depois de questioná-los sobre uma ligação com seu trabalho jornalístico, Shulhat recusou-se a aceitar a convocação.

A RSF apontou que o encontro ocorreu três dias antes de o Slidstvo.info publicar uma reportagem de Shulhat sobre imóveis de propriedade de Ilya Vityuk, general que chefia o departamento de segurança cibernética do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU).

Ele encontrou imóveis no valor de mais de 25,5 milhões de hryvnias (a moeda ucraniana, equivalente a R$ 3,2 milhões) em posse da  família do Vityuk. O salário oficial de um funcionário não seria suficiente para adquirir os imóveis, segundo o veículo. 

A tentativa de alistamento pode ter sido orquestrada diretamente pela SBU, disse o Slidstvo.info num artigo publicado em 6 de abril. Nas imagens de vídeo de vigilância do shopping center obtidas pelo Slidstvo.info, um homem à paisana, que poderia ser um oficial da SBU, indica o jornalista aos dois soldados. 

“Este caso é uma grave tentativa de intimidação, que visa dissuadir os jornalistas de publicarem investigações, sob a ameaça de serem convocados”, disse Jeanne Cavelier, chefe do escritório da RSF para a Europa Oriental e Ásia Central.

Ela salientou que os meios de comunicação de investigação ucranianos desempenham um papel essencial no país, tanto em termos de crimes de guerra como de luta contra a corrupção, e cobrou apuração do ato praticado pelos soldados.

“Embora a abertura de uma investigação por parte do poder judicial ucraniano seja um primeiro passo, a RSF apela a que esta seja realizada de forma independente, completa e transparente, a fim de identificar os responsáveis ​​e garantir que este tipo de ameaça não volte a acontecer.”

Em uma declaração conjunta publicada em 7 de abril, várias organizações e meios de comunicação ucranianos apelaram ao presidente, ao Ministério da Defesa e à SBU para iniciarem processos penais contra os envolvidos na intimidação a Yevhen Shulhat

A RSF  já denunciou tentativas de ameaçar a mídia investigativa e os repórteres em janeiro passado. Elas ainda são objeto de investigações judiciais.

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