Londres – Fotografias representando as perdas pessoais irreversíveis em Gaza, a demência em Madagascar, a vida dos migrantes no México e o trauma da guerra na Ucrânia receberam os principais prêmios este ano no World Press Photo Contest, principal concurso global de fotojornalismo, cujos vencedores foram anunciados esta semana em Amsterdã.
O fotógrafo palestino Mohammed Salem, que vive na região e trabalha para a agência Reuters, foi o vencedor da principal categoria do prêmio, Foto Única, com um dos mais impressionantes registros da guerra entre o Hamas e Israel: o abraço de Inas Abu Maamar ao corpo da sobrinha de cinco anos morta em um ataque israelense, junto com a mãe e a irmã.
A história da fotografia de Gaza vencedora do World Press Photo 2024
O fotógrafo descreveu a imagem, capturada poucos dias após o parto da sua própria esposa, como um “momento poderoso e triste que resume o sentido mais amplo do que estava acontecendo na Faixa de Gaza”.
O júri comentou como a imagem foi composta com cuidado e respeito, oferecendo ao mesmo tempo um vislumbre metafórico e literal de uma perda inimaginável. Salem já tinha vencido o World Press Photo há dez anos.
O World Press Photo recebeu este ano mais de 61 mil inscrições em quatro categorias: Foto Única, Série, Projeto de Longo Prazo e Formato Aberto. As inscrições foram avaliadas primeiro por seis júris regionais, que elegeram as melhores imagens de cada uma.
Na América do Sul, a imagem única vencedora, que concorreu com a foto de Gaza, foi uma visão da Amazônia registrada pelo brasileiro Lalo de Almeida para a Folha de S.Paulo. Ele retratou um pescador solitário caminhando no leito de um afluente do rio Amazonas em Tefé, representando visualmente a extensão da maior seca já vista na região.
Veja os outros premiados
Registros de outra guerra, a da Ucrânia, que perdeu visibilidade após o conflito de Gaza mas continua a provocar perdas e sofrimento, venceram o World Press Photo na categoria Formato Aberto.
Em “Guerra é pessoal”, a fotojornalista ucraniana Julia Kochetova reuniu o fotojornalismo com o estilo de documentário pessoal de um diário para mostrar ao mundo como é viver em guerra. O projeto combina imagens fotográficas com poesia, clipes de áudio e música em colaboração com um ilustrador e DJ.
O vencedor do Word Press Photo 2024 na categoria Projeto de Longo Prazo acompanhou com um olhar muito pessoal o drama dos migrantes. Desde 2019, as políticas de imigração do México sofreram uma mudança significativa, passando de uma nação historicamente aberta a migrantes e requerentes de asilo na sua fronteira sul para um país que aplica políticas de imigração rigorosas.
Com base na própria experiência de migração da sua Venezuela natal para o México em 2017, o fotógrafo Alejandro Cegarra (New York Times / Bloomberg) iniciou este projeto em 2018. O júri considerou que a própria posição deste fotógrafo como migrante proporcionou uma perspectiva sensível centrada no ser humano.
O prêmio de Série do Ano foi para Lee-Ann Olwage, da África do Sul. Ela documentou a jornada de Paul Rakotozandriny, ‘Dada Paul’, de 91 anos, que vive com demência há 11 anos e é cuidado por sua filha Fara Rafaraniriana.
Durante nove anos, ninguém sabia que Dada Paul estava doente. Os seus dez filhos presumiram que ele tinha “enlouquecido” ou atribuíram os sintomas ao consumo excessivo de álcool. Apenas sua filha Fara percebeu algo diferente quando seu pai, um motorista aposentado, não conseguiu encontrar o caminho de casa depois de um dia buscá-la no trabalho.
Ela nunca tinha ouvido falar dos termos “demência” ou Alzheimer, mas foi aconselhada a contactar Masoandro Mody, a única organização em Madagáscar que fornece apoio e formação a familiares de pessoas que vivem com demência. A organização forneceu-lhe o conhecimento e o apoio de que necessitava para cuidar de Dada Paul.
Nesta foto, ele aparece preparando-se para ir à igreja com a neta.
Conheça também os vencedores do World Press Photo 2024 Foto Única nas seis regiões do mundo.
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