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Dia da Terra: relatório mostra como os jornalistas ambientais sofrem ameaças pelo mundo

Fotógrafo segura câmera sob luz do sol na natureza

Foto: Jean Pierre Brungs / Unsplash

Londres – Ao mesmo tempo em que a consciência sobre o impacto das mudanças climáticas e de práticas predatórias sobre a natureza e sobre as pessoas cresce, aumenta também o risco para profissionais de jornalismo ambiental em todo o mundo – um problema pouco lembrado em datas comemorativas como o Dia da Terra, celebrado neste 22 de abril. 

Essa é a conclusão de um relatório produzido pelo International Press Institute (IPI), de autoria da jornalista italiana Barbara Trionfi, ex-diretora da instituição. 

O documento Climate and Environmental Journalism Under Fire é resultado de entrevistas com 40 jornalistas em 21 países, traçando um quadro sombrio que vai além dos riscos pessoais. Ele mostra como a liberdade é comprometida por essas ameaças, afetando negativamente os esforços para reverter a crise ambiental e climática. 

No Dia da Terra, a lembrança das ameaças aos jornalistas ambientais

A lista de problemas que afetam os que praticam o jornalismo ambiental é longa: prisões, assédio legal; assédio online e campanhas de ódio nas redes sociais; restrições à liberdade de circulação e obstáculos no acesso à informação – e é claro, a violência que muitas vezes acaba em morte. 

O caso do jornalista britânico Dom Philips, assassinado na Amazônia junto com o indigenista Bruno Pereira, é um exemplo que ficou famoso e é citado no trabalho. Ele não estava fazendo uma reportagem, mas documentava a situação no Vale do Javari para um livro, que até hoje não saiu.

A família e amigos conseguiram apoio para levar a obra até o fim, o que é uma exceção à regra. Outros repórteres desistem de pautas ou morrem após denúncias, uma situação comum na América Latina e que afeta sobretudo jornalistas cidadãos ou de veículos comunitários, sem a proteção de grandes organizações de mídia. 

Jornalistas ameaçados em suas próprias comunidades 

Este é um dos aspectos destacados no relatório. Trionfi aponta que muitos desses profissionais são freelancers e acabam atacados por membros de suas próprias comunidades envolvidos ou se beneficiam de atividades ilegais. 

O estudo salienta ainda as ligações políticas, o poder econômico de atores ligados a atividades poluidoras e prejudiciais ao meio ambiente, a polarização em torno de questões climáticas gerando hostilidade contra jornalistas, o envolvimento do crime organizado com essas atividades e a impunidade, que estimula a violência. 

Os problemas acontecem em países com baixo grau de liberdade de imprensa, mas também em nações avançadas como a França. 

Um dos cases apresentados no relatório do IPI narra a união de jornalistas ambientais na Bretanha para desafiar o que foi chamado de “lei do silêncio” na região, cobrando das autoridades locais a liberdade de expressão e acesso a informações sobre questões relacionadas ao agronegócio. Mais de 450 jornalistas e organizações de mídia subscreveram a carta.

O jogo é pesado. A jornalista investigativa Morgan Large personifica a extensão das ameaças: a rádio onde ela trabalhava foi invadida e perdeu propaganda de prefeituras locais. Seu cachorro foi envenenado.

Ela foi alvo de assédio nas redes sociais e as rodas de seu carro foram afrouxadas duas vezes depois de reportagens críticas. Mesmo assim, pediu proteção e não conseguiu. 

Enquanto Dia da Terra é comemorado, aumenta a hostilidade contra jornalistas 

Barbara Trionfi observa que a hostilidade contra os jornalistas está ligada ao ativismo de duas formas, sobretudo na Europa e na América do Norte. 

Em primeiro lugar, os jornalistas ambientais e climáticos dão voz a fontes críticas, incluindo cientistas que apontam verdades que os negacionistas não querem ouvir, seja por ideologia ou por ir contra seus interesses. E assim viram objeto de críticas ou de ataques. 

Mas os próprios profissionais de imprensa acabam sendo vistos como ativistas da causa ambiental, mesmo quando são independentes e seguem as boas práticas jornalísticas em seu trabalho. 

Assim como a lista de problemas, a de soluções também é longa e não traz nada muito diferente daquilo que já se sabe. 

Aos jornalistas e empresas jornalísticas o relatório recomenda cuidados avaliar os riscos de uma cobertura, a aliança com repórteres locais familiarizados com a região (no caso de locais remotos) e buscar a colaboração, inclusive transfronteiriça. 

Os Estados são instados a garantir acesso às informações, prover segurança para os jornalistas ambientais e combater a impunidade. 

O estudo também pede aos grupos de apoio ao jornalismo atenção à formação em segurança, fomento de redes de apoio e suporte jurídico para defesa de profissionais que sofrem assédio judicial. 

Embora não sejam conselhos novos, são vitais para apagar a fogueira que se abate sobre o jornalismo climático e ambiental, que pode não estar sendo lembrada tanto quanto deveria nesse Dia da Terra.  

O relatório completo pode ser visto aqui. 

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