Londres – A Unesco escolheu a importรขncia do jornalismo livre para a soluรงรฃo da crise ambiental como tema do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, celebrado nesta sexta-feira (3 de maio) em todo o mundo. 

A data foi estabelecida pela ONU em 1993 para promover a liberdade de imprensa e lembrar os princรญpios fundamentais da liberdade de expressรฃo, reconhecidos na Declaraรงรฃo Universal dos Direitos Humanos e consolidados na “Declaraรงรฃo de Windhoek”.

O documento foi assinado em uma conferรชncia da Unesco na cidade de Windhoek, Namรญbia, em 3 de maio de 1991.

Jornalismo ambiental no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa 

O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa estรก sendo comemorado pela Unesco em uma conferรชncia de trรชs dias em Santiago, no Chile, em que temas como a morte de jornalistas em conflitos armados e ameaรงas como o assรฉdio digital e judicial serรฃo debatidos por profissionais, acadรชmicos e entidades internacionais. 

A organizaรงรฃo justificou a escolha do jornalismo ambiental como foco do evento este ano, entre tantas questรตes importantes: 

“Todas as histรณrias merecem ser contadas. Mas esta pode ser particularmente decisiva.”

A Unesco lembra que  a crise climรกtica e da biodiversidade nรฃo afeta apenas o ambiente e os ecossistemas, mas tambรฉm a vida de milhรตes de pessoas em todo o mundo.

Histรณrias de problemas e perdas merecem ser conhecidas e compartilhadas. Nem sempre sรฃo bonitas de assistir. Podem atรฉ ser perturbadoras. Mas somente sabendo do que se passa a aรงรฃo รฉ possรญvel. Expor a crise รฉ o primeiro passo para resolvรช-la.

ร‰ por isso que o papel dos jornalistas รฉ crucial. ร‰ atravรฉs do seu trabalho, da sua coragem e da sua perseveranรงa que podemos saber o que estรก acontecendo. Eles trabalham na linha de frente da luta coletiva pela saรบde do planeta.”

Um relatรณrio divulgado pela entidade revelou que pelo menos 749 jornalistas ou meios de comunicaรงรฃo que fazem reportagens sobre questรตes ambientais foram atacados nos รบltimos 15 anos, e a desinformaรงรฃo climรกtica online aumentou dramaticamente neste perรญodo. 

Na รndia, segundo a Repรณrteres Sem Fronteiras, quase metade dos 28 jornalistas mortos desde que Narendra Modi assumiu o cargo de primeiro-ministro, hรก dez anos, incluindo diretores de meios de comunicaรงรฃo, repรณrteres de investigaรงรฃo e correspondentes, trabalhavam em reportagens relacionadas ao meio ambiente. 

Jornalismo ambiental รฉ o segundo mais perigoso

Embora muitos profissionais de imprensa tenham morrido recentemente em guerras e conflitos armados, a coalizรฃo de jornalismo climรกtico Covering Climate Now lembrou neste 3 de maio que jornalistas nรฃo precisam estar em uma zona de guerra ativa para se encontrarem em perigo.

Segundo a organizaรงรฃo, a produรงรฃo de reportagens ambientais figura como a segundo tipo de trabalho de imprensa mais perigoso, “com poluidores corruptos e criminosos ambientais em todo o mundo dispostos a matar para esconder a verdade de suas atividades.”

A CCNow relembrou o caso de Dom Philips, repรณrter inglรชs que morreu na Amazรดnia em 2022, junto com o indigenista Bruno Pereira.

“Abusos de direitos humanos, crimes ambientais e ameaรงas ร  imprensa andam de mรฃos dadas.”

A coalizรฃo alerta ainda que defender a liberdade de imprensa nรฃo รฉ apenas defender a seguranรงa dos jornalistas.

“Os repรณrteres nรฃo sรฃo nada sem suas fontes, e as fontes, especialmente aquelas que trabalham para proteger o meio ambiente, estรฃo estatisticamente muito mais em risco do que os jornalistas com os quais trabalham.

Nรบmeros coletados pela ONH Global Witness mostram que pelo menos 1.910 ativistas ambientais foram mortos entre 2012 e 2022, com ativistas indรญgenas e defensores da terra – como o indigenista brasileiro – representados de forma desproporcional. 

O que diz a Declaraรงรฃo que originou o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa 

A Declaraรงรฃo de Windhoek รฉ um documento histรณrico que enfatiza a importรขncia da liberdade de imprensa para o desenvolvimento e manutenรงรฃo das sociedades democrรกticas. Estes sรฃo alguns dos pontos-chave da declaraรงรฃo:

  • Libertaรงรฃo da imprensa: A declaraรงรฃo enfatiza que “a liberdade de expressรฃo, de imprensa e de informaรงรฃo รฉ um direito humano fundamental”.
  • Papel da mรญdia livre: Destaca que “a imprensa livre e independente รฉ um componente essencial de qualquer sociedade democrรกtica”.
  • Acesso ร  informaรงรฃo: Reconhece que “todos os indivรญduos e povos tรชm o direito de buscar, receber e transmitir informaรงรตes e ideias atravรฉs de quaisquer meios e independentemente das fronteiras”.
  • Desenvolvimento da mรญdia: Reconhece que “o desenvolvimento de uma imprensa pluralista, independente e livre รฉ essencial para o desenvolvimento econรดmico e polรญtico sustentรกvel”.
  • Responsabilidade da mรญdia: Observa  que “os jornalistas tรชm o dever de informar, buscar a verdade e servir o pรบblico”.
  • Eliminaรงรฃo da censura: Condena-se “a censura em todas as suas formas e manifestaรงรตes.