Londres – À primeira vista parecem fotos de férias normais, mas olhando bem é fácil encontrar erros típicos de fotos geradas com inteligência artificial (IA), como membros do corpo sobrando ou faltando e distorções que beiram o bizarro, uma ideia do finlandês Roope Rainisto para provocar reflexões sobre a contradição entre realidade e simulação.
O trabalho de Rainisto, um dos mais famosos fotógrafos de IA do mundo, foi um dos destacados na Photo London 2024. Para expor a nova série do finlandês, “Férias”, o ambiente foi decorado com cadeiras de praia e bolas coloridas, as únicas coisas verdadeiras exibidas ali.
Erros típicos da IA em fotos remetendo aos EUA na década de 50
Roope Rainisto deixou a carreira em publicidade e criação para se dedicar à fotografia com IA. Usando a inteligência artificial como ferramenta, o finlandês constrói imagens distorcidas e distópicas da realidade em séries temáticas.
As imagens de “Viagens” fazem referência à cultura de consumo americana, mostrando paisagens e situações associadas a férias em praias e hotéis, com pessoas bronzeadas e sorridentes.
Montanhas, roupas e hotéis são renderizados em cores fortes. No entanto, em uma observação mais detalhada, as figuras são bizarramente abstratas e distorcidas, incluindo os letreiros, a proporção dos elementos da cena e os corpos dos personagens.
Para criar as imagens, Rainisto treina modelos personalizados, como a Stable Diffusion, para expressar a narrativa. Ele então usa a IA para produzir milhares de imagens, um processo que combina técnica e intuição.
O artista chama a atenção para a artificialidade da própria fotografia:
“Na minha mente, a fotografia sempre foi relacionada ao contraste entre o real e o irreal. As fotos não são reais. São pedaços de papel 2D. Temos essa aceitação cultural, normas compartilhadas, que nos fazem considerá-las reais.”
Ao desfocar as fronteiras entre real e irreal: autêntico e falso, Rainisto diz esperar que as novas tecnologias promovam o questionamento e o espírito crítico, desafiando a ideia da fotografia como uma fonte objetiva de verdade.
A curadora Luba Elliot, especializada em inteligência artificial na indústria criativa, analisou o trabalho de Roppe Ranisto:
“Ele começa com o realismo de alta qualidade possibilitando por ferramentas de IA de última geração e, em seguida, aproveita ao máximo falhas como membros adicionais ou faltando e placas de hotel sem sentido para dar à coleção uma ângulo de fantasia.
O artista realça o sonho na experiência de viagens de carro sob um céu azul e dando um toque distópico às cenas à beira-mar, onde os efeitos das mudanças climáticas, da poluição e da superpopulação são revelados na companhia de humanos estranhos e deformados.”
As séries anteriores de Rainisto, Life In West America e REWORLD, exploram aspectos da humanidade: o indivíduo livre (LIWA) e as forças sociais (REWORLD).
“As férias são a síntese dessas duas forças: somos indivíduos livres, procurando consolo em um mundo imperfeito. É feliz e triste. Rico e vazio. Emocionante e chato. A sensação de prazer e o medo de perder. Ambos podem existir. E há uma beleza tremenda nisso” diz o finlandês.
Os trabalhos do artista são vendidos como NFT (Non-Fungible Token) por US$ 936, com a opção de uma cópia impressa por um valor adicional, pela galeria Verse Solos, especializada em arte digital.
As fotos foram publicadas com autorização da Galeria Versus e não podem ser reproduzidas.
Leia também | ‘Chocada e irritada’: Scarlett Johansson bate duro na OpenAI por ‘voz parecida’ com a sua no ChatGPT