Londres – Para marcar a aniversário de 35 anos da violenta repressão a manifestantes que pediam reformas sociais econômicas na praça Tiananmen, em Pequim, 52 organizações não-governamentais divulgaram hoje um manifesto pela defesa do direito à informação na China.

Entre os dias 3 e 4 de junho de 1989, tanques do exército chinês avançaram sobre os que protestavam no centro da capital, a maioria estudantes. O número de mortos nunca foi confirmado, nem o destino do homem fotografado enfrentando um blindado, imagem chamada de “Tank Man”, que virou símbolo de Tiananmen.

A declaração divulgada no aniversário de Tiananmen 

O Círculo 19 é um grupo independente  formado em 2023 em Paris, composto por cerca de 30 profissionais da mídia e especialistas da diáspora chinesa e da comunidade internacional, que defende o direito à informação com base em fontes intelectuais chinesas.

O nome “Círculo 19” refere-se ao Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que consagra o direito à liberdade de opinião e expressão.

A declaração de princípios, divulgada neste 4 de junho, afirma que o direito à informação é parte integrante do legado da China e é fundamental para o desenvolvimento do país. 

Entre as 52 organizações signatárias da Declaração de Princípios do movimento publicada no aniversário do massacre de Tiananmen está a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que em seu Global Press Freedom Index classifica a China em 172º lugar entre 180 países. 

Participante do Círculo 19, Chang Ping, jornalista premiado e curador do Museu de Memória e Direitos Humanos 4 de Junho, disse esperar que o grupo “enfrente a máquina de propaganda do Partido Comunista Chinês e dê uma contribuição significativa para a mudança na China”.

símbolo do movimento Circle 19, que divulgou manifesto no aniversário do massacre de Tiananmen, na China
Símbolo do Circle 19

Xiao Qiang, fundador e diretor do jornal independente China Digital Times, que opera no estrangeiro noticiando assuntos do país, afirma que “o mundo deve se opor à negação do direito dos cidadãos à informação na China, que os priva de sua dignidade ”.

“Apesar dos esforços persistentes do regime de Pequim para acabar com a dissidência e controlar a informação, o espírito de resistência que continua 35 anos após o movimento de Tiananmen demonstra a luta pelo direito à informação que ainda existe na China até hoje”, disse Rebeca Vincent, diretora de campanhas globais da RSF.

Entre as organizações que também assinam o manifesto estão Freedom House, Article 19 e Coalition for Women in Journalism. 

O que diz o manifesto

O manifesto diz que “o Estado de partido único da China exerce uma influência maligna no livre fluxo de informação, tanto em nível interno como global, e justifica os seus abusos através de uma narrativa errónea e perigosa que nega a universalidade dos direitos humanos e os transforma em “valores ocidentais” supostamente incompatíveis com os chineses”. 

A chamada “escassez de informação confiável” priva o público do pleno exercício dos direitos civis e políticos, o que também dificulta a possibilidade de um debate público saudável, essencial para expor o abuso de poder e abordar questões sociais”, diz o documento, acrescentando que o “apagão de informação mina a confiança no governo e impede transparência e responsabilização do Estado. 

Na visão do Círculo 19, a censura e a propaganda do Estado de partido único não só ameaça as instituições, mas também o desenvolvimento econômico do país, uma vez que o investimento sustentável exige confiança na integridade da informação disponível.

O movimento pede que a comunidade internacional apoie os esforços por direito à informação na China, “pressionando o Estado a desmantelar o aparato legal e tecnológico que permite a censura e a repressão”, e a libertar todos os jornalistas detidos e defensores da liberdade de imprensa. 

O massacre de Tiananmen e a foto que entrou para a história 

  • Em abril de 1989, manifestantes começaram a se reunir na Praça Tiananmen, em Pequim, para lamentar a morte do líder liberal do Partido Comunista, Hu Yaobang, expressando decepção com a lentidão de reformas prometidas.
  • No dia 13 de maio, estudantes iniciaram uma greve de fome para forçar uma conversa com o governo, e conseguiram isso em 19 de maio. 
  • No dia seguinte, no entanto, o governo da China decretou Lei Marcial, e os protestos se intensificaram 
  • Durante a noite de 3 para 4 de Junho , o governo enviou dezenas de milhares de soldados armados e centenas de veículos militares blindados para “restaurar a ordem” na capital.
  • Segundo a Anistia Internacional, não se sabe quantas pessoas morreram ou ficaram feridas. Há relatos de que manifestantes teriam sido executados e levados em sacos a bordo de caminhões para fora da cidade. 
  • A foto Tank Man não é apenas uma. Na verdade pelo menos quatro fotógrafos registraram a mesma cena, de ângulos diferentes, e a CNN fez imagens mostrando o homem se movimentando quando o tanque tenta contorná-lo para seguir em frente.
  • Ela foi estampada em jornais de todo o mundo e tornou-se símbolo dos protestos. É considerada uma das imagens mais importantes da história. 

  • A identidade do homem solitário, de camisa branca, carregando sacos de compras, enfrentando uma fila de tanques militares, nunca foi confirmada. Nem as especulações de que ele teria sido preso e executado.