Londres – As organizações internacionais PEN America, Repórteres Sem Fronteiras e Front Line Defenders uniram-se à Fundação Narges em uma nova campanha para pressionar o Irã a libertar a jornalista, escritora e defensora dos direitos humanos Narges Mohammadi, presa desde 2021 e vencedora do Nobel da Paz 2023.
Narges foi condenada em diversos processos por crimes como como propaganda e conluio contra o Estado. As sentenças somadas ultrapassam 35 anos de cadeia e incluíram também penas como chibatadas e confinamento solitário por longos períodos.
Segundo a Coalizão Free Narges (#FreeNarges), um novo processo cuja audiência foi realizada em 8 de junho a portas fechadas pode prorrogar ainda mais seu tempo na prisão.
Com 52 anos, Narges Mohammadi sofre de problemas de saúde. Segundo a Coalizão, ela foi submetida a uma cirurgia cardíaca há um ano e não está recebendo cuidados médicos adequados.
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Jornalista presa não pôde receber o Nobel da Paz em Oslo.
A jornalista e ativista foi homenageada com vários prêmios internacionais, incluindo o Nobel da Paz – que não pôde receber pessoalmente por estar presa – em reconhecimento à sua luta contra contra a discriminação e opressão das mulheres no Irã, causa que abraçou na década de 90.
Em 2003 ela passou a atuar com o Centro de Defensores dos Direitos Humanos em Teerã, uma organização fundada pela ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Shirin Ebadi.
Mohammadi ajudou ativistas encarcerados e suas famílias e participou ativamente de movimentos contra a pena de morte e contra o uso sistemático da tortura e da violência sexual pelo regime nas prisões iranianas.
“A situação de Mohammadi lança luz sobre as graves violações dos direitos humanos no Irã, onde muitos são punidos por exercerem o seu direito à liberdade de expressão e outras liberdades fundamentais”, diz a Coligação em seu manifesto de fundação.
A Coligação Free Narges exige a libertação imediata e incondicional de Mohammadi “como figura emblemática que representa as muitas outras vozes perseguidas e silenciadas no Irã, juntamente com a de todos os presos políticos no país, defendendo o seu direito de falar e agir livremente sem medo de perseguição.”
Rebeca Vincent, da Repórteres Sem Fronteiras, destacou o “preço elevado” que Narges pagou pela sua coragem, com uma vida dedicada ao jornalismo e à defesa dos direitos humanos.
“Agora é a nossa vez de falar em nome de Narges e de lançar luz sobre as muitas violações pelas quais ela sacrificou a sua própria liberdade.”
Irã, 179º do mundo em liberdade de imprensa
A Coalizão Free Narges fará uma apresentação na Conferência Nobel da Paz 2024, que será realizada em Oslo no dia 5 de setembro.
Até lá, o Irã já deverá ter um novo presidente em substituição a Ebrahim Raisi, que morreu em maio em um acidente de helicóptero.
As eleições estão marcadas para 28 de junho, e organizações apontam que a repressão a jornalistas e ativistas aumentou às vésperas do pleito.
O país é controlado pelo líder supremo, Ali Khamenei, e as eleições não devem mudar o cenário.
O país ocupa a 176ª posição no Global Press Freedom Index 2024 da Repórteres Sem Fronteiras, que lista 180 nações.
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