Londres – A jornalista investigativa chinesa Huang Xueqin, que iniciou o movimento #MeToo na China, foi condenada por um tribunal de Guangzhou nesta quinta-feira (13) a cinco anos de prisão por “incitação à subversão do poder do Estado”.
A jornalista, que também é conhecida como Sophia Huang, foi capturada em setembro de 2021, um dia antes de deixar a China a fim de fazer um mestrado no Reino Unido. Junto com ela foi preso o ativista de direitos humanos Wang Jianbing, que prestava assistência a vítimas de abusos sexuais.
O julgamento dois dois aconteceu em setembro de 2023, a portas fechadas, mas o veredito não foi divulgado na época. Ele recebeu uma pena de três anos e seis meses sob a mesma acusação.
Huang Xuequin ficou conhecida como a principal face do movimento #MeToo na China, realizando campanhas e reuniões semanais com ativistas em sua casa, que Wang Jianbing ajudava a organizar, segundo as autoridades chinesas.
Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, durante a sua detenção ela não pôde falar com familiares e sofreu maus-tratos, relatando dores agudas na cintura resultantes de interrogatórios prolongados na “cadeira de tigre”, um instrumento de tortura utilizado pela polícia chinesa.
Dezenas de amigos foram intimados pela polícia e tiveram as suas casas revistadas e os dispositivos eletrônicos confiscados.
Organizações de direitos humanos e de liberdade de imprensa fizeram vários movimentos conjuntos em defesa da jornlalista, mas as autoridades chinesas ignoraram os protestos.
Reações à prisão da jornalista do #MeToo na China
Cédric Alviani, Diretor do Escritório da RSF na região Ásia-Pacífico, instou a comunidade internacional a pressionar a China para libertar Sophia Huang Xuequin, junto com outros 118 jornalistas e defensores da liberdade de imprensa presos no país.
“Ela apenas fez um trabalho de interesse público ao lançar luz sobre questões sociais e nunca deveria sequer ter sido detida, muito menos torturada e condenada a uma pena de prisão tão pesada.”
A Diretora da Anistia Internacional na China, Sarah Brooks, disse que as condenações prolongarão a detenção “profundamente injusta” e terão um efeito negativo adicional sobre os direitos humanos e a defesa social em país onde os ativistas enfrentam uma crescente repressão por parte do Estado.
“Eles não cometeram nenhum crime real. Mas o governo chinês inventou desculpas para considerar o seu trabalho uma ameaça […].
O movimento #MeToo fortaleceu vítimas de violência sexual em todo o mundo, mas neste caso as autoridades chinesas procuraram fazer exatamente o oposto, erradicando-o.”
Segundo a Anistia, a China utiliza sistematicamente acusações de segurança nacional com disposições extremamente vagas, como “subverter o poder do Estado” e “incitar à subversão do poder do Estado”, para processar advogados, acadêmicos, jornalistas, ativistas e profissionais de ONGs.
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Investigação mostrou assédio sexual na imprensa da China
Como jornalista investigativa, Huang Xuequin cobria uma série de temas, incluindo direitos humanos e questões ambientais.
Ela deu voz à versão chinesa do movimento #MeToo em 2018, quando realizou uma investigação revelando assédio baseado no gênero na indústria dos meios de comunicação.
Ela também ajudou a apresentar o primeiro caso #MeToo da China em uma das universidades mais prestigiadas do país, em Pequim, e criou uma plataforma de mídia social para reportagens sobre assédio sexual.
Em seu trabalho como ativista, ela ajudou mulheres que acusaram de assédio sexual um professor da Universidade Beihang, em Pequim.
Em junho de 2019, participou de protestos em Hong Kong contra o projeto de extradição apresentado pelo governo, que acabou sendo retirado, e atualizava seguidores usando um blog.
Em outubro de 2019, a jornalista foi detida por “criar brigas e provocar problemas” e foi libertada três meses depois.
Três meses antes de ser presa pela segunda vez, em 2021, ela ganhou um prêmio da Society of Publishers in Asia por sua reportagem sobre Li Qiaochu, mulher detida após falar em nome de seu companheiro, o advogado dissidente Xu Zhiyong.
A China, país com mais jornalistas e defensores da liberdade de imprensa na prisão, está classificada em 172º lugar entre 180 nações no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa da RSF de 2024 .
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