O veterano jornalista da Argentina Pedro Brieger foi obrigado a se desculpar publicamente depois de uma denúncia coletiva de agressão e assédio sexual feita por 19 mulheres, incluindo 10 colegas de profissão, funcionárias, uma vizinha e alunas ao longo de mais de três décadas.
A denúncia foi feita pelo movimento Periodistas Argentinas a partir dos depoimentos das vítimas e tornada pública no dia 2 de julho durante uma entrevista coletiva no Senado.
Dez dias depois, Brieger publicou um vídeo em suas redes sociais reconhecendo a situação e afirmando que tudo ocorreu há muito tempo, antes ter feito terapia para curar distúrbios. Ele pediu perdão às mulheres agredidas e colocou-se à disposição para “ajudar a romper o pacto existente entre homens”.
Pedro Brieger tem 68 anos e além de ser jornalista e professor de comunicação, leciona Sociologia na Universidade de Buenos Aires. Ele tem passagens por importantes jornais e revistas como El Cronista, La Nación , Página/12 , Perfil, Miami Herald e Le Monde diplomatique .
Até o escândalo explodir, Brieger era diretor do site de notícias Nodal, do grupo Indalo, que o suspendeu um dia após as revelações.
As alegações iniciais surgiram em 23 de junho, quando o jornalista Alejandro Alfie publicou no jornal Clarín os relatos de cinco mulheres acusando Brieger de assédio sexual.
O primeiro caso documentado foi de uma secretária da Universidade de Belgrano, em 1994, quando Brieger dava aulas no curso de jornalismo.
Entre as vítimas dos atos do jornalista, que incluem exibicionismo e masturbação diante de mulheres, estão uma vizinha e jornalistas argentinas conhecidas, como Agustina Kämpfer (apresentadora de TV), Cecilia Guardatti (correspondente da rede de TV estatal Télan na Espanha), Leticia Martínez e a colunista de gênero Julia Kolodny, que disse ter sido forçada a renunciar a um cargo para fugir das investidas.
Jornalista da Argentina pediu desculpas por assédio
Pedro Brieger abre o vídeo dizendo que ao saber das denúncias, “rapidamente” pediu desculpas – embora elas só tenham vindo duas semanas depois da publicação das primeiras notícias pelo jornal Clarín e dez dias depois da entrevista coletiva no Senado.
O repórter Alejandro Alfie, autor da reportagem no Clarín, disse ter consultado Brieger sobre os relatos, e que ele negou tudo, além de ter ameaçado processá-lo e também responsabilizar o jornal e as fontes por difamação.
No entanto, diante das evidências, ele recuou e admitiu a culpa que inicialmente negou.
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Assédio em redações, um problema global
Apesar das desculpas, o caso expôs mais uma vez a prática de assédio e abuso em redações, um problema global.
De acordo com a Pesquisa Regional sobre a Situação das Mulheres Trabalhadoras da Imprensa realizada pela Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) na América Latina e no Caribe em 2023, quase 60% das profissionais sofreram situações de violência por motivos de gênero por parte de colegas ou chefes do sexo masculino.
O mesmo percentual afirmou que não existem ferramentas em seus locais de trabalho para lidar com esse tipo de situação, sobretudo quando o assédio é feito por uma personalidade importante da mídia.
A colunista Julia Kolodny afirmou que muitas tentaram denunciar Pedro Brieger e nada aconteceu.
“Durante anos, Brieger usou sua posição de poder para silenciar suas vítimas, garantindo que suas vozes não fossem ouvidas e sua dor não fosse reconhecida. Esse abuso sistemático e o subsequente encobrimento por instituições que deveriam ter protegido essas mulheres é uma acusação contundente da falha da indústria da mídia em lidar com o assédio sexual”, disse a organizçaão Women Press Freedom.
A entidade “condenou veementemente” não apenas as “ações desprezíveis” de Brieger, mas também as instituições “cúmplices em permitir seu comportamento”.
“As organizações de mídia que negligenciaram o caso e não tomaram medidas efetivas devem ser responsabilizadas. Embora a suspensão de Brieger pelo Grupo Indalo seja uma medida necessária, ela é insuficiente.
Exigimos uma investigação completa sobre a conduta de Brieger e as falhas sistêmicas que permitiram seu abuso.”
A Women Press Freedom acrescentou que “os pedidos públicos de desculpas de Brieger são apenas um começo; ele deve enfrentar consequências legais substanciais”.
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