Nenhuma estatística sobre as queimadas na Amazônia é tão contundente quanto as fotos aéreas feitas no fim de julho pela organização internacional Greenpeace, mostrando do alto largas extensões de floresta sendo consumidas pelo fogo e cobertas de fumaça.
A organização sobrevoou o sul do Amazonas e o norte de Rondônia para monitorar o desmatamento e as queimadas no bioma, que bateram em julho o recorde em mais de 20 anos. Foram registrados 11,4 mil focos de calor, um aumento de 98% em relação ao mesmo período do ano passado.
Incêndios florestais e queimadas também aconteceram em terras indígenas e unidades de conservação. Confira as imagens divulgadas pelo Greenpeace Brasil, de autoria da premiada fotojornalista Marizilda Cruppe, que vive em Manaus e conhece de perto a realidade amazônica.
Fotos das queimadas feitas pelo Greenpeace mostram trechos da floresta nativa consumidos pelo fogo
O termo “foco de calor” é utilizado pelas organizações científicas e ambientais como medida padrão para fins de comparação.
Uma queimada pode ser formada por mais de um foco de calor, ou um foco de calor pode ser registrado mais de uma vez, em especial se perdurar por dias queimando, como acontece na Amazônia, deixando poucas árvores de pé, como na foto.
- Segundo o Greenpece Brasil, o Amazonas foi o estado com maior número de focos de calor, com 4241 registros, recorde histórico para o mês – o uso do fogo no sul do estado está proibido desde 5 de julho
- Pará, com 3265 focos, e Rondônia, com 1617 focos, aparecem em segundo e terceiro lugares
- Os municípios campeões em focos de calor no mês foram Apuí e Lábrea, no Amazonas, e Porto Velho, em Rondônia
- As terras indígenas que mais concentram focos de calor em julho são as que mais sofrem com garimpo historicamente: TI Munduruku e TI Kayapó;
Imagens como essas podem se tornar ainda mais dramáticas. A organização alerta para a possibilidade de aumento no desmatamento e nas queimadas na Amazônia entre julho e outubro, quando a maioria dos estados passa pelo “verão amazônico”, período em que há diminuição da chuva e da umidade relativa do ar e do aumento da temperatura, o que deixa a vegetação mais seca e sujeita ao fogo.
“No entanto, cabe lembrar que, mesmo assim, a grande maioria desse fogo tem sua origem por ação humana, seja propositalmente para desmatar ou queimar a floresta no chão, seja por perder o controle da queima de pastos e áreas de agricultura que acabam se espalhando”, explica o especialista em campanhas do Greenpeace Brasil, Rômulo Batista.
“É preciso abandonar o uso do fogo na pecuária e agricultura, ficando seu uso restrito a povos indígenas, populações tradicionais que historicamente manejam o fogo em áreas muito pequenas e pequenos agricultores que não tem outra opção viável tecnicamente e financeiramente”, afirma Batista.
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Para o Greenpeace Brasil, a Amazônia precisa de um planejamento sistemático do bioma, que passa por continuar combatendo o desmatamento e atingir o Desmatamento zero o quanto antes, mas também prevenção, manejo integrado do fogo e “criação de verdadeiros batalhões de combate a queimadas e incêndios de biomas naturais que sejam estruturados, bem pagos e equipados para esse combate”.
Locais com difícil acesso, como no Pantanal e na Amazônia, precisam que o Brasil invista em um esquadrão de combate ao fogo, inclusive com aviões de grande porte dando suporte a esse combate. Não adianta termos somente brigadistas em parte do ano na Amazônia, diz a organização.
Imagens como essas são poderosos instrumentos para sensibilizar a sociedade sobre as ameaças à Amazônia em escala global. O fotógrafo brasileiro Lalo de Almeida foi um dos premiados no World Press Photo, principal prêmio internacional de fotojornalismo, documentando a seca na Amazônia.
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