Milão – Sonia, 32 anos, sempre sonhou com uma carreira no jornalismo, mas hoje ela tem de se desdobrar para realizar o que chama de “trabalhos extras” como freelancer na Itália para pagar as contas.
Este é um dos percalços enfrentados por mais de 39% dos colegas de Sonia que atuam em jornalismo no país.
As preocupações da categoria na Itália são variadas: pressão por parte dos chefes para reportar rapidamente as “breaking news”, horas intermináveis dentro da redação, uma ínfima remuneração e o consequente esgotamento físico e mental.
Crise ‘real e profunda’ no jornalismo da Itália
A crise no setor editorial é real e profunda. E já não é mais um tabu dizer que vivemos sob constante estresse. Culpa de uma profissão com um ritmo frenético e extenuante”, afirma Alessandra Costante, secretária-geral da Federação Nacional da Imprensa Italiana (FNSI).
A batalha por novos contratos, garantia de emprego e perigo do uso da IA estão na pauta do FNSI.
“Exigir melhores salários, compromisso dos grupos editoriais e fazer com que a informação não seja delegada a um algoritmo faz parte de nossa luta diária para o bem-estar físico e mental dos colegas.”
Os primeiros passos em relação à saúde mental dos repórteres e editores italianos já estão sendo dados.
A Casagit, fundo de saúde da categoria, desenvolve um estudo sobre o tema e em breve colocará em prática um serviço de consultoria e apoio psicológico dentro e fora das redações.
E entrou em vigor um acordo preliminar com o Cnop (Conselho Nacional de Psicólogos), que oferece aos jornalistas inscritos na Casagit um desconto de 20% para sessões de psicoterapia e psicologia com profissionais conveniados.
Leia também | ‘Breaking up with the news’: maioria dos jornalistas americanos já pensou em largar a profissão devido ao burnout
Jornalista italiana escreveu “A vida não é uma corrida”
“As empresas deveriam oferecer mais autonomia, respeito e flexibilidade aos seus empregados, além de permitir que passem mais tempo com a família, com amigos ou simplesmente praticando um esporte” , diz a jornalista cientifica e escritora Eliana Liotta.
Colunista do jornal Corriere della Sera e autora de vários best-sellers sobre saúde e bem-estar voltados para o público, ela acaba de lançar “La vita non è una corsa: Le quattro pause che fanno guadagnare salute e giovinezza” (A vida não é uma corrida: As quatro pausas que fazem ganhar saúde e juventude).
Eliana Liotta acredita que uma assistência psicológica é fundamental e quase obrigatória.
“O estresse crônico produz um estado inflamatório generalizado em nosso corpo que é a base de inúmeras patologias”, observa ela, que aconselha exposição ao sol por alguns minutos ao dia, atividade física, socialização com amigos e familiares e sobretudo se desconectar dos aparelhos eletrônicos.
Junto com especialistas da Universidade e do Hospital San Raffaele de Milão (neurocientistas, endocrinologistas, gastroenterologistas, psicólogos, médicos do sono e fisiatras), Liotta aponta no livro quatro pausas fundamentais:
- Pausas da natureza, ditadas pelos nossos biorritmos, do sono à respiração profunda e rápida
- Pausas para reduzir a velocidade do pensamento, procurando equilíbrio entre trabalho e vida privada, desconectando de dispositivos eletrônicos e atuando em causas como o voluntariado
- Rupturas sentimentais, que constroem e fortalecem nossos vínculos com os outros
- Rupturas inegociáveis e muito pessoais que proporcionam sensação de bem-estar
Reportagem Especial MediaTalks – Comunicação, Imprensa, Redes Sociais e a crise da Saúde Mental