Londres – A série de animais que o misterioso artista Banksy vem espalhando diariamente há uma semana pelas ruas de Londres – o de hoje é um rinoceronte parecendo apoiado sobre um carro -colocou novamente sob os holofotes uma das personalidades mais curiosas do mundo artístico, cuja identidade nunca foi revelada apesar de seus trabalhos serem vendidos por até US$ 25 milhões nas mais renomadas casas de leilão do mundo.
Depois de especulações sobre a mensagem que ele desejava transmitir, o enigma foi desfeito no sábado pelo jornal The Guardian: um emissário de Banksy (ou ele próprio?) disse que a intenção é alegrar as pessoas abaladas pelos violentos protestos de extrema direita das últimas semanas no país.
Mas as obras têm nuances políticas e sociais, fiel ao estilo que o consagrou não apenas como artista, mas como ativista que usa a arte para questionar e criticar. Conheça a história de Banksy e veja sua nova série, que está deixando os londrinos em suspense para descobrir o próximo.
O rinoceronte desta segunda-feira foi pintado em uma parede de Charlton, interagindo com um automóvel adornado com um cone de trânsito no capô que fez lembrar uma fêmea da espécie.
No domingo (11), o “Banksy do dia” havia aparecido no centro de Londres: um cardume de peixes nas paredes envidraçadas de uma cabine policial, com um guarda fotografando a cena e uma placa ao fundo onde se lê: “se você pode ver [essa placa], nós podemos ver você”.
Seira uma uma crítica à vigilância, ou reconhecimento do trabalho da polícia para conter os manifestantes de extrema direita?
A pergunta ainda não teve resposta, assim como a principal delas: quem é Banksy?
Afinal, quem é Bansky?
Ele seria britânico, nascido em Bristol, no final dos anos 1970 ou início dos anos 1980. Bristol é uma cidade multicultural e conhecida por seu ativismo e sua arte de rua.
Ali ele começou a desenhar murais, que frequentemente contêm mensagens políticas, sociais e contra o sistema.
Como muitos que praticam a street art ele usa a técnica de estêncil, uma espécie de molde para os desenhos, que permite fazer a obra rapidamente, evitando que o autor seja visto ou capturado por interferir em espaços privados ou públicos.
Ele nunca confirmou a identidade oficialmente, mas supostamente seu nome poderia ser Robert Banks.
Em uma entrevista recém-descoberta para uma rádio, em 2023, ele foi perguntado sobre este nome, e respondeu apenas que se chamava “Robbie”.
Outra tese aceita é que ele se chamaria Robin Gunningham, coerente com o apelido Robbie. Ou ainda o músico Robert Del Naja, do grupo Massive Attack.
Há versões também de que ele não seria um, mas vários artistas sob o mesmo nome. Certamente ele trabalha com ajudantes, mas a tese de que não há um Banksy por trás de tudo não é muito aceita.
Impacto do artista vai além do mistério
O mistério sobre quem é Banksy é uma curiosidade, mas o valor do seu trabalho reside nos temas que aborda, usando a arte de rua como forma de ativismo.
Os temas das obras de Banksy variam, mas muitas vezes abordam questões como capitalismo, consumismo, guerra, liberdade, e direitos dos animais.
Ele é um crítico ferrenho da sociedade moderna e usa sua arte para desafiar o status quo. Algumas de suas obras mais famosas incluem “Girl with Balloon”, “Rage, the Flower Thrower”, e “There Is Always Hope”.
Ele faz também performances e instalações. A mais recente delas foi durante o festival de música de Glastonbury, realizado no auge da campanha eleitoral, em que o tratamento a imigrantes que cruzam o canal da Mancha em pequenos barcos era um dos temas mais polêmicos.
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Banksy, arte e cultura pop
Os adversários das teses defendidas por Banksy em suas obras costumam questionar seu valor artístico, mas o mercado e críticos independentes são unânimes em reconhecer seu trabalho.
No domingo, o respeitado crítico de arte britânico Will Gompertz escreveu um artigo no jornal The Times a propósito da série de animais espalhados por Londres e afirmou:
“Banksy não faz apenas autopromoção— ele é um dos nossos grandes artistas”.
Algumas de suas obras têm um impacto significativo na cultura pop e na arte contemporânea. Em 2018, por exemplo, uma de suas pinturas, “Girl with Balloon”, foi parcialmente destruída em um leilão logo após ser vendida por mais de um milhão de libras.
Um dispositivo oculto na moldura da pintura a fragmentou em tiras logo após o martelo bater, o que foi interpretado como uma crítica ao mercado de arte.
No sábado Banksy instalou um gato se alongando, estampado na estrutura de um outdoor desocupado junto a um galpão abandonado em Cricklewood, noroeste de Londres. Mas horas depois ele foi removido pelos donos da estrutura, sob vaias do público, e supostamente seria levado para uma galeria de arte.
Banksy e os animais: alegria e mensagens políticas
Algumas especulações haviam associado o tema das novas obras de animais em Londres com o conceito de ‘selvageria’, embora alguns animais retratados sejam bem pacíficos, até que o objetivo de alegrar o público foi revelado.
Mas olhando a obra de Banksy, não se pode descartar que a representação de bichos também queira transmitir alguma coisa, como ele fez ao longo de sua trajetória.
- Ratos são um dos temas mais recorrentes na obra de Banksy. Ele os usa como símbolo dos marginalizados, dos excluídos e como metáfora para os seres humanos que lutam contra o sistema. Um exemplo famoso é o rato segurando uma placa dizendo “Why?”, que apareceu em várias partes de Londres. Os ratos de Banksy são vistos como uma crítica ao controle e à vigilância estatal, e uma representação daqueles que operam nas sombras, sem serem notados, mas que têm um impacto significativo.
- Chimpanzés aparecem em suas obras para satirizar o comportamento humano e criticar o poder e a autoridade. Em uma obra famosa, “Laugh Now”, um chimpanzé aparece com uma placa que diz “Laugh now, but one day we’ll be in charge” (“Ria agora, mas um dia estaremos no comando”), sugerindo uma revolta dos oprimidos.
- Pombos na arte de Banksy são interpretados como simbolismo de resistência ou para denunciar racismo e xenofobia. Uma instalação famosa mostra pombos segurando placas com mensagens anti-imigração, criticando o preconceito contra imigrantes e minorias.
Para o crítico Will Gompertz, o trabalho de Banksy vai “ecoar através dos tempos”.
E para os londrinos, a pergunta agora é: depois do rinoceronte de Charlton, onde vai aparecer o próximo animal, e que animal será?
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