A organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF) registrou pelo menos 70 violações da liberdade de imprensa cometidas pelas autoridades da Venezuela desde as eleições presidenciais de 28 de julho, e emitiu uma nota condenando a repressão a jornalistas. 

Segundo a RSF, profissionais de imprensa locais e estrangeiros enfrentam um clima de hostilidade e repressão, marcado por prisões arbitrárias, ameaças, agressões físicas, censura e restrições ao acesso à informação.

“Os 70 casos que a RSF documentou em apenas 15 dias, incluindo as deportações de jornalistas estrangeiros, demonstram a determinação do governo em silenciar vozes e limitar o debate público”, afirmou Artur Romeu, diretor da organização para a América Latina. 

Os atos de censura do governo de Nicolás Maduro, que tenta conter protestos contra o anúncio de sua suposta vitória nas eleições da Venezuela atingem também plataformas digitais. 

  • Em 7 de agosto, o presidente venezuelano anunciou uma investigação criminal contra os responsáveis ​​pela página  ResultadosConVzla, que divulga a apuração das eleições.
  • Na semana passada, ele ordenou a suspensão por 10 dias do Twitter / X, bloqueou o Signal e pediu aos cidadãos que excluíssem o WhatsApp, depois de fazer isso ele próprio ao vivo em uma transmissão. 
  • Em 9 de agosto, o governo bloqueou a plataforma Reddit. 

Os casos de repressão a jornalistas na Venezuela 

Mas a repressão a jornalistas locais na Venezuela pode ter consequências mais severas do que as ameaças feitas ao dono do Twitter, Elon Musk, que foi até desafiado para uma luta física pelo presidente. 

Organizações locais relatam que as emissoras foram ameaçadas com sanções se cobrirem os protestos, segundo a RSF. 

A organização documentou 18 casos de restrições de acesso – principalmente a postos de votação – 30 atos de intimidação e ameaças, 9 detenções, 9 expulsões de jornalistas estrangeiros e 4 ataques físicos.

Esses incidentes, todos relatados nas duas semanas seguintes às eleições presidenciais, refletem “um padrão sistemático de assédio e repressão”, salientou a RSF. 

Segundo o levantamento, dos nove jornalistas presos enquanto cobriam as eleições, quatro ainda estão detidos por acusações graves que podem resultar em penas severas. 

  • Yuosnel Alvarado, fotojornalista do Noticias Digital , enfrenta acusações de terrorismo e está detido incomunicável no destacamento nº 33 da Guarda Nacional Bolivariana (GNB), sem acesso a um advogado particular.
  • Paúl León, cinegrafista da VPI TV, foi preso sob acusações de incitação à violência e obstrução da ordem pública, e permanece incomunicável no comando da delegacia de polícia Valera 2.0.
  • Deisy Peña, fotógrafa da Prefeitura de Carrizal, foi presa sem mandado após cobrir um protesto pacífico e está detida em um módulo da PNB em Los Teques.
  • José Gregorio Carnero, jornalista e apresentador, também ainda está detido, enfrentando acusações de conspiração e atividades subversivas.

As acusações contra Alvarado, León, Peña e Carnero se enquadram na categoria de terrorismo. Joaquín de Ponte, detido no Destacamento 343, também enfrentou acusações de terrorismo e incitação ao ódio antes de ser libertado.

Pelo menos 9 jornalistas estrangeiros expulsos  

Seguindo “um padrão claro de hostilidade à imprensa estrangeira”, de acordo com a Repórteres Sem Fronteiras, nove profissionais da mídia foram expulsos.

Dois deles foram detidos e deportados, enquanto os outros foram proibidos de entrar no país, como documentou a entidade: 

  • Em 28 de julho, as jornalistas colombianas  Carolina Trinidad e  Vanessa de la Torre , da Caracol Radio, foram expulsas do aeroporto de Maiquetía sem nenhuma explicação.
  • Dias depois, em 1º de agosto, os jornalistas chilenos  Iván Núñez e  José Luis Tapia foram detidos e mantidos incomunicáveis ​​no posto militar de Chururú, Barinas, após entrarem no país por Cúcuta, Colômbia. O embaixador chileno teve que intervir para garantir sua libertação.
  • Em 2 de agosto, o jornalista espanhol Alvaro Nieto , diretor do  The Objective , foi deportado após um interrogatório de duas horas sobre suas críticas ao regime de Maduro.
  • Em 3 de agosto, a jornalista equatoriana  Dayana Krays foi presa após cobrir um protesto da oposição.

“À medida que a instabilidade política da Venezuela cresce em meio a alegações de fraude eleitoral, jornalistas enfrentam crescente repressão. As expulsões, prisões, ameaças e ataques sofridos por jornalistas amplificaram a censura durante este momento político crítico, criando uma total falta de transparência democrática e responsabilidade”, afirmou Artur Romeu.