Selo canal Planeta na Mídia MediaTalks informações sobre mudanças climáticas e sustentabilidade ambiental Londres – Diante de todos os alertas sobre a gravidade das ameaças ao planeta, incluir palavras fortes no vocabulário para convencer os negacionistas ou indiferentes aos problemas do clima é uma tendência comum – mas o tiro pode sair pela culatra.

Uma nova pesquisa feita nos EUA examinou o efeito das expressões mais utilizadas para descrever a situação ambiental, e descobriu que carregar no drama não é o caminho mais indicado.

O motivo não é somente o susto que o alarmismo causa, gerando ansiedade climática e até afastando as pessoas das notícias sobre o assunto, mas sim a dificuldade de compreensão e a ineficiência em provocar mudanças.

Vocabulário simples para falar do clima 

Usando-se expressões mais diretas e simples, as pessoas entendem melhor e se mostram mais inclinadas a aceitar políticas e a tomar atitudes práticas em favor do planeta.

Para chegar aos resultados, quatro pesquisadores do Departamento de Psicologia da South California University testaram a reação de 5,1 mil americanos a um conjunto de expressões usadas em notícias e conversas sobre o tema: mudança climática, justiça climática, aquecimento global, crise climática e emergência climática.

O objetivo do trabalho foi examinar o efeito desses termos sobre cinco perspectivas: familiaridade com a questão preocupação, senso de urgência, disposição para apoiar políticas e intenção de comer menos carne bovina.

O consumo de carne vermelha foi escolhido para o teste porque o IPCC (Painel Integovernamental de Mudanças Climáticas) da ONU recomenda essa mudança alimentar como uma oportunidade para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o que conteria as mudanças climáticas e seu impacto desproporcional em comunidades vulneráveis.

Crise e Emergência não impactaram tanto 

Embora em tese palavras como “crise” e “emergência” despertem senso de urgência e gravidade, não foi bem isso que os pesquisadores descobriram ao verem as reações dos participantes.

Os termos mais tradicionais do vocabulário ambiental, como “mudança climática” e “aquecimento global”, foram classificados como mais familiares do que os termos relativamente mais novos, “crise climática” e “emergência climática”.

Talvez por serem menos familiares, os termos “crise climática” e “justiça climática”, introduzidos para enfatizar a urgência da situação ambiental, na verdade suscitaram menos preocupação.

Além disso, “crise climática” ou “emergência climática” não geraram percepções de urgência maior do que “mudança climática” e “aquecimento global”.

O termo “justiça climática” foi o menos reconhecido e teve o pior desempenho em todas as avaliações.

Uma das razões, segundo os pesquisadores, é que boa parte do público não entende que a mudança climática afeta desproporcionalmente comunidades vulneráveis, o que eles afirmam já ter sido constatado em outros estudos.

Vocabulário mais complexo: menos preocupação e ação em prol do clima

Quando os termos não eram familiares, os participantes se mostraram menos propensos a expressar preocupação, senso de urgência, apoio a políticas e intenção de mudar de atitude.

Um exemplo foi o teste sobre a proposta de comer menos carne bovina. Quando a ideia foi associada à expressão justiça climática, teve a menor taxa de adesão.

Segundo os pesquisadores, o experimento confirma teorias psicológicas de formação de atitude, que sugerem que a ação efetiva sobre uma questão é influenciada por informações que vêm à mente no primeiro momento.

E estudos psicológicos consagrados confirmam que variações aparentemente suaves em como as opções são apresentadas podem afetar o julgamento e decisão.

O trabalho cita um outro estudo revelando que alimentos sem carne e laticínios têm mais probabilidade de serem escolhidos quando são rotulados como “à base de plantas” em vez de “veganos” − e se tornam ainda mais populares quando os rótulos dizem “saudável” ou “sustentável” para enfatizar os benefícios.

Os pesquisadores recomendam “não cometer o erro” de exagerar na linguagem, garantindo que é mais eficiente usar expressões que a maioria das pessoas entenda, como aquecimento global e mudança climática.