Londres – O Dia Mundial da Fotografia, celebrado em 19 de agosto, acontece este ano uma semana depois do encerramento das Olimpíadas de Paris, em que a história visual das cerimônias e das conquistas dos atletas levaram menos de 30 segundos no percurso entre as câmeras e as mesas dos editores de notícias do mundo inteiro.
A escolha de 19 de agosto como Dia Mundial da Fotografia faz referência a outro acontecimento em Paris: há exatamente 185 anos era apresentado na Academia de Ciências da França o daguerreótipo, equipamento capaz de gravar imagens em uma chapa metálica. O momento é considerado um marco inicial por ter popularizado a técnica em escala industrial.
Desde então muita coisa mudou – do tamanho dos equipamentos à quantidade e qualidade das imagens e a velocidade com que são processadas e transmitidas, uma história que Bob Ahern, diretor do gigantesco arquivo da agência Getty Images, conta e ilustra com momentos célebres do fotojornalismo que marcaram a imprensa.
Nos últimos 12 meses a Getty publicou em seu site aproximadamente 15 milhões de fotos apenas de eventos esportivos e entretenimento. Nas duas semanas dos jogos de Paris foram 10 mil fotos por dia, totalizando mais de 5 milhões de imagens.
Uma história de evolução tecnológica
“A representação fotográfica de acontecimentos que viraram notícia tornou-se possível com a introdução do processo de reprodução de meios-tons, que permitiu efetivamente a reprodução da fotografia nos jornais e periódicos do Século 19. Mas naquela época o tempo entre o registro e a impressão para o público poderia ser de várias semanas”, explica Ahern.
Os avanços tecnológicos permitiram que esse tempo fosse encurtado e o fotojornalismo ganhasse mais importância, aponta o diretor.
“A introdução da tecnologia de cabos na década de 1930 significou que, pela primeira vez, as fotografias poderiam ser transmitidas a longas distâncias mais rapidamente e conectariam o público ao mundo e aos eventos de uma forma nunca antes vista.
E na década de 1960, o avanço da tecnologia de satélite daria início a ainda mais eficiência e confiabilidade no envio de fotos para todo o mundo.”
Mas apesar de todo o progresso tecnológico, os novos processos não eram totalmente confiáveis, e exigiam que o fotógrafo fosse simultaneamente repórter, técnico e, por vezes, guia de montanhismo, observou o diretor.
Ele usa como exemplo relatos do fotógrafo vencedor do Pulitzer David Hume Kennerly sobre as tecnologias que usou ao longo de seus anos de carreira, lembrando como eram transmitidas as fotos nos anos 60:
“Sempre que saíamos para cobrir uma notícia para a UPI (United Press International), eu levava uma câmara escura móvel e um aparelho de transmissão móvel.
Revelava o filme em um banheiro, imprimia em papel, inseria uma legenda na foto impressa, colocava o papel no aparelho, conectava-o a um telefone, esperava que uma operadora de telefonia atendesse para completar a chamada… tudo feito com um alto grau de dificuldade.”
Bob Ahern também destaca a logística de Kennerly para enviar imagens durante a guerra do Vietnã, no início dos anos 1970, a partir de uma posição muito longe da capital, Saigon, acessível apenas por aviões militares.
Ele pedia a pilotos de aviões militares americanos para levar o filme para Saigon e as imagens eram transmitidas por linhas que operavam fora do sistema telefônico vietnamita.
“Todo o processo era meio arriscado e você meio que se benzia depois de fazer isso… mas nunca, jamais perdi um rolo de filme…”
Refletindo sobre história e presente no Dia Mundial da Fotografia
Mas se a velocidade e os volumes são algumas das marcas logísticas do início do século XXI , os padrões técnicos, estéticos e jornalísticos também estão em constante ascensão, afirma o diretor do arquivo da Getty ao refletir sobre a história do fotojornalismo no Dia Mundial da Fotografia.
“Hoje, os fotógrafos editoriais são mais responsáveis do que nunca na adesão às melhores práticas fotojornalísticas e às inovações técnicas, o que significa que podemos repensar os nossos pontos de vista e obter novos entendimentos, especialmente com o conteúdo gerado por inteligência artificial.”
Bob Ahern salienta o papel dos drones, que deu ao fotojornalismo “pontos de vista incríveis de forma relativamente barata”, permitindo registrar não só a escala dos desastres naturais ou das zonas de guerra, mas também quando centenas de milhares de pessoas se reúnem para celebrar ou comemorar.
“Nos esportes ou na moda, por exemplo, podemos usar robótica e controles remotos para documentar a partir de novos pontos de vista espetaculares e trazemos novas e impressionantes estéticas criativas para cenários familiares.”
Portanto, quando olhamos para a história, devemos também lembrar dos desafios e oportunidades de como ela foi registada, afirma o diretor do arquivo da Getty.
“Assim como a câmera de pequeno formato, as lentes mais rápidas e a introdução do filme de 35 m anunciaram uma nova era de liberdade e agilidade para a fotografia documental na década de 1930, as inovações técnicas hoje dão origem a percepções e narrativas de visualização.
Mas no centro da produção de ótimo conteúdo visual ainda está o talento dos fotógrafos e cinegrafistas e a dedicação em contar a história que permitirá que um excelente trabalho resista ao teste do tempo.”
Veja alguns desses momentos marcantes do fotojornalismo, em seleção feita por Bob Arhern – de guerras a Madonna em Copacabana.
Joseph Duo, um comandante da milícia liberiana leal ao governo, comemora depois de disparar uma granada lançada por um foguete contra as forças rebeldes em uma ponte estratégica em 20 de julho de 2003 em Monróvia, Libéria. As forças governamentais conseguiram fazer recuar as forças rebeldes em combates nos arredores do centro da cidade de Monróvia. Foto: Chris Hondros/Getty Imagens
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