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Por violações à liberdade de imprensa, 60 ONGs de jornalismo instam UE a suspender acordo comercial com Israel

Sede da Comissão Europeia em Bruxelas

Sede de Comissão Europeia em Bruxelas (foto: Carl Campbell/Unsplash)

Londres – Em resposta “ao número sem precedentes de jornalistas mortos e outras violações da liberdade de imprensa desde o início da guerra com o Hamas“, a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e 59 outras organizações estão pedindo à União Europeia que suspenda o Acordo de Associação entre a UE e Israel.

A carta foi enviada enviada nesta segunda-feira (26), três dias antes de uma reunião em Bruxelas com a participação de ministros das Relações Exteriores de todos os países que fazem parte do bloco.

“Perpetrados em violação aos direitos humanos e às obrigações do direito internacional humanitário, os assassinatos e outras violações à liberdade de imprensa devem desencadear a suspensão do Acordo de Associação UE-Israel e novas sanções específicas da UE contra os responsáveis”, diz a carta.

Acordo entre UE e Israel em vigor desde 2000

O Acordo de Associação Israel-União Europeia (UE), assinado em 1995 e em vigor desde 2000, permitiu um crescimento no diálogo político entre o Israel e os países europeus, além de uma aproximação das relações econômicas.

A Europa é o principal parceiro comercial de Israel.  

A suspensão chegou a ser discutida formalmente em maio em uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, mas não houve consenso e não foi adiante. 

Agora, organizações de liberdade de imprensa e de direitos humanos reacenderam o debate, pressionando os ministros de Relações Exteriores. 

Julie Majerczak, Chefe do escritório da RSF em Bruxelas, referiu-se ao Artigo 2 do Acordo de Associação UE-Israel estipula que suas relações são baseadas em um componente essencial, que é o respeito aos direitos humanos e aos princípios democráticos.

“É hora de passar das condenações verbais para a ação. O governo israelense está claramente pisoteando este artigo.

A UE, que é o principal parceiro comercial de Israel, deve tirar as conclusões necessárias disto e deve fazer tudo para garantir que o governo de Netanyahu pare de massacrar jornalistas e respeite o direito à informação e à liberdade de imprensa, abrindo o acesso da mídia a Gaza. A credibilidade da UE está em jogo.”

Há meses organizações de jornalismo e correspondentes estrangeiros tentam reverter a proibição de Israel de entrada de jornalistas em Gaza, sem sucesso. 

O que diz a carta à UE

Entre os signatários estão sindicatos e associações de jornalistas da maioria dos países europeus e entidades internacionais como Comitê de Proteção a Jornalistas, International Press Institute e European Centre for Press and Media Freedom. 

As organizações que assinaram a carta também pedem aos líderes da UE que exijam “inequivocamente e publicamente” que Israel atenda às seguintes demandas de liberdade de imprensa:

  • Proporcionar acesso e defender a liberdade de denúncia
  • Proteja a vida dos jornalistas
  • Garantir a responsabilização e acabar com a impunidade

De acordo com a RSF, mais de 130 jornalistas e profissionais de mídia palestinos foram mortos pelas forças armadas israelenses em Gaza desde 7 de outubro.

Pelo menos 30 deles perderam a vida no curso de seu trabalho.

Três jornalistas libaneses e um jornalista israelense também morreram durante o mesmo período, que tem sido o mais mortal para jornalistas em décadas.

As organizações que assinaram a carta apontam que o assassinato seletivo ou indiscriminado de jornalistas, seja cometido deliberada ou imprudentemente, é um crime de guerra.

Segundo o documento, os assassinatos de jornalistas foram agravados por: 

  • Proibição total do acesso da mídia independente a Gaza (exceto por alguns repórteres integrados ao exército israelense)
  • Um número recorde de detenções arbitrárias de profissionais da mídia
  • Registros de jornalistas sendo torturados e maltratados
  • Censura e restrições flagrantes à liberdade da mídia
  • Falta de investigação ou responsabilização  de autores das violações

A íntegra da carta pode ser vista aqui. 

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