Londres – Levado para a prisão ao desembarcar em Paris no último sábado, o fundador do aplicativo de mensagens Telegram, Pavel Durov, teve vários encontros com o presidente Emmanuel Macron, usuário regular da plataforma, antes de obter a cidadania francesa. 

A revelação foi feita nesta quarta-feira (28) pelo Le Monde. Segundo o jornal francês, os encontros com o presidente da França foram classificados no pedido de cidadania de Durov, nascido na Rússia, como evidência de sua ligação com o país. 

Durov conquistou em 2021 a cidadania na qualidade de “estrangeiro emérito”, que segundo o Le Monde é concedida a pessoas que contribuíram para a influência da França no exterior. 

O caso de Pavel Durov parece estar se colocando em lados opostos do governo e do judiciário francês e virou um problema para Emmanuel Macron. 

Pavel Durov, de 39 anos, foi preso no sábado (24) à noite quando chegou ao aeroporto Le Bourget, em Paris, em seu jato particular.

A prisão foi efetuada em decorrência de uma investigação da promotoria pública da capital francesa sobre crimes que incluem transações financeiras ilícitas, abuso sexual infantil, fraude e recusa em comunicar informações às autoridades.

Durov é acusado de não tomar medidas para coibir ou usar sua plataforma para a prática de crimes. 

Cidadão francês, Durov visitou o país regularmente há anos e se encontrou com Emmanuel Macron em vários benefícios, de acordo com o Le Monde. 

Ao mesmo tempo, ele continuou visitando a Rússia, embora tenha deixado o país natal em 2014 depois de uma rede social criada no país por ele, no VKontakte, ter caído em desgraça com o Kremlin. 

Tanto Emmanuel Macron quanto legisladores, membros do gabinete presidencial e assessores do governante são usuários ativos do Telegram. 

Sua postagem mais recente no aplicativo de mensagens foi feita no dia 12 de agosto. 

As ligações com o controvertido fundador e CEO do aplicativo também foram expostas pelo Wall Street Journal.

Segundo o jornal americano, Macron teria convidado Durov para mudar a sede do Telegram para a França em 2018. 

[postagens relacionadas a jms ids=”16410″]

Macron falou sobre prisão do CEO do Telegram

Diante da polêmica, o presidente da França usou o Twitter/X dois dias após a prisão de Durov para se manifestar sobre o caso. 

Ele enfatizou a defesa da liberdade de expressão e destacou a independência do Poder Judiciário, mas não se referiu à concessão de cidadania a empresários e aos seus encontros pessoais.  

“Vi informações falsas sobre a França após a prisão de Pavel Durov. A França está profundamente comprometida com a liberdade de expressão e comunicação, com a inovação e com o espírito empreendedor. Ela continuará assim.

Em um estado governado pelo Estado de direito, as liberdades são mantidas dentro de uma estrutura legal, tanto nas mídias sociais quanto na vida real, para proteger os cidadãos e respeitar seus direitos fundamentais.

Cabe ao judiciário, com total independência, fazer cumprir a lei. A prisão do presidente do Telegram em solo francês ocorreu como parte de uma investigação judicial em andamento. Não é de forma alguma uma decisão política. Cabe aos juízes decidir sobre o assunto.”

Acesso consular ao fundador do Telegram preso na França

A embaixada da Rússia em Paris disse que exigiu acesso a Durov, mas não obteve resposta da França, dizendo que “o lado francês está se recusando a cooperar”.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, confirmou que Moscou havia pedido acesso consular, mas como Durov também tem cidadania francesa, “a França considera que esta é sua principal nacionalidade”, segundo o Le Monde.

Ele também tem passaporte emitido pelos Emirados Árabes. 

Telegram e a liberdade de expressão

A rede social Telegram, criada e comandada por Pavel Durov e sediada em Dubai, divide opiniões e é o mais flagrante exemplo da complexidade da moderação nas mídias digitais. 

Em países em que jornalistas e ativistas são censurados e perseguidos, o Telegram permite que informações e mobilização para protestos por democracia circulem sem colocar em risco os autores das postagens.

No entanto, o privilégio do anonimato garantido pela criptografia de ponta a ponta nas mensagens impede que autoridades identifiquem autores de crimes como assédio a crianças e se antecipem para coibir protestos violentos da extrema direita, como os que aconteceram recentemente no Reino Unido.

Entre os que condenaram a França por ter prendido Pavel Durov estão o dono do Twitter/X, Elon Musk, autoridades russas e a mídia estatal do país.