Londres – O ex-governador Joel Reyes entregou-se à polícia das Filipinas pelo suposto envolvimento no assassinato do jornalista ambiental Gerry Ortega, que havia denunciado corrupção em sua administração na província de Palawan. 

Reys chegou a ficar três anos preso pelo crime, ocorrido em 2011, mas um Tribunal de Apelações anulou as acusações. 

Em 2023 a Suprema Corte ordenou que o ex-governador voltasse para a cadeia e enfrentasse novo julgamento, mas desde então ele estava foragido, até se entregar nesta quarta-feira (11) ao National Bureau of Investigation (NBI), em Manila.

Jornalista das Filipinas assassinado após reportagens e campanha contra projeto de gás

Ortega era um jornalista ambiental conhecido por suas reportagens críticas sobre Reyes e questões relacionadas à mineração e ao suposto uso indevido de bilhões de pesos no projeto de gás de Malampaya, segundo a Federação Internacional de Jornalistas.

Gerry Ortega, jornalista das Filipinas assassinado
Gerry Ortega, assassinado em 2011 (foto: Rainforest Rescue / Divulgação)

Veterinário por formação, ele era conhecido como “Doc Gerry” e trabalhou com vários grupos e associações em projetos de defesa do meio ambiente na região. 

Ortega preparava-se para viajar para Manila para o lançamento da campanha Dez Milhões de Assinaturas, um movimento para tentar proibir operações de mineração em Palawan, quando foi assassinado.

Ele foi baleado na cidade de Puerto Princesa, em 24 de janeiro de 2011, logo depois de transmitir seu programa matinal de rádio. 

Marlon Recamata, que fez os disparos, e Rodolfo “Bumar” Edrad, que admitiu ter participado do crime, foram presos e condenados em 2011.

Ex-governador e irmão implicados por autores do assassinato

Durante julgamentos separados, os dois homens implicaram Reyes e seu irmão Mario, alegando que eles orquestraram o assassinato de Ortega por suas reportagens críticas.

Em 2012, Reyes e seu irmão fugiram do país depois que o Departamento de Justiça (DOJ) das Filipinas indiciou Reyes como o principal suspeito e mentor do assassinato do jornalista. 

Os homens foram presos em 2015 em Phuket, Tailândia, e extraditados de volta para as Filipinas.

Joel Reyes ex-governador das Filipinas acusado de assassinato de jornalista
Joel Reyes chegou a cumprir três anos de cadeia mas julgamento tinha sido anulado (foto: divulgação)

Após uma detenção de três anos, Reyes foi solto em 2018, quando o Tribunal de Apelações anulou as acusações de assassinato contra ele.

Quase dois anos depois, as acusações foram reintroduzidas por uma nova composição de juízes no Tribunal de Apelações.

De acordo com a IFJ, Reyes ficou escondido desde que o Juiz Presidente Angelo Arizala , do Tribunal Regional de Julgamento de Palawan, emitiu um mandado de prisão.

Pressões por julgamento rápido do crime contra o jornalista 

Organizações de liberdade de imprensa estão pressionando as autoridades Filipinas por um julgamento rápido do caso.

Uma coalizão composta pela Free Press Unlimited (FPU), pelo Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) e pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF) investiga o caso Ortega desde 2020, mostrando “evidências contundentes” do papel de Reyes no assassinato do jornalista.

Os três grupos, que juntos formam a iniciativa ‘Um Mundo Mais Seguro para a Verdade’, se encontraram com as autoridades filipinas em Manila no início deste ano para apresentar novas pistas que poderiam levar à prisão de Reyes.

Em nota após a prisão do ex-governador, a coalizão cobrou rapidez no julgamento. 

“Isso já deveria ter acontecido há muito tempo. O ex-governador Joel T. Reyes escapou da justiça por mais de 13 anos, e deve haver um julgamento rápido e imparcial agora, sem mais demora.”

A Federação Internacional de Jornalistas também se manifestou sobre a impunidade. 

“A justiça pelo assassinato de Gerry Ortega está muito atrasada. Justiça atrasada é justiça negada […]. A história sombria de impunidade das Filipinas pelos assassinatos de jornalistas deve ser superada – caso por caso, vítima por vítima.”

Desde 1992, 96 jornalistas foram mortos em conexão com seu trabalho nas Filipinas, de acordo com o CPJ.