Cientistas também podem ser excelentes fotógrafos, como mostra o prêmio internacional  de fotografia BMC Ecology and Evolution, que apresentou as imagens vencedoras de 2024. 

Enquanto pesquisam para compreender os mistérios do mundo natural, muitos deles aproveitam para registrar a riqueza da biodiversidade, os mistérios da biologia evolutiva, a proteção ambiental e o trabalho dos próprios cientistas em ação.  

Conheça as imagens escolhidas pelo júri do prêmio de fotografia e as histórias científicas por trás das fotos premiadas.

Cientistas registram em fotos hábitos e ameaças aos animais

Foto do ano: ‘Frenesi alimentar’, por Jorge Fontes

O biólogo marinho Jorge Fontes foi o vencedor geral do prêmio de fotos científicas de 2024 com a imagem ‘Frenesi alimentar’ .

Ele retratou o maior peixe do mundo, um tubarão-baleia, nadando lentamente para se alimentar em meio a atuns nos Açores. 

Tubarão-baleia se alimenta de peixes nos Açores. A imagem foi vencedora do prêmio de fotos de cientistas BMC
Frenesi alimentar / Foto: Jorge Fontes / BMC Ecology and Evolution e a BMC Zoology

Jorge Fontes trabalha no Okeanos-UAc, Instituto de Ciências do Mar, e está envolvido em um projeto para estudar o impacto da pesca sobre os maiores animais dos oceanos.


Pesquisador em ação : ‘Algumas gotas de remédio’, por Ryan Wagner

Um ornitólogo ministra um medicamento em um Kiwikiu para prepará-lo para sua jornada até o Centro de Conservação de Aves de Maui, no Havaí. Esses pássaros estão entre as espécies mais ameaçadas do planeta, restando apenas 130.

Homem alimenta um pássaro no Hawaí. A imagem foi premiada no concurso de fotos de cientistas BMC
Algumas gotas de remédio / Foto: Ryan Wagner / BMC Ecology e Evolution BMC Zoology

A imagem vencedora da categoria Pesquisa em ação do prêmio de fotos científicas foi registrada por Ryan Wagner, biólogo conservacionista da Escola de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Washington.

Os mosquitos transmitem a malária aviária, que mata as aves. No Centro de Conservação os pássaros recebem tratamento contra a malária e participam de um Projeto de Recuperação de Aves Florestais de Maui (MFBRP) onde pares de Kiwikiu são levados para reprodução em cativeiro, ajudando a salvar a espécie da extinção.


Restauração dos Everglades, por Brandon Güell

O segundo colocado na categoria Pesquisador em Ação do concurso de fotos científicas foi o pesquisador de pós-doutorado na Flórida International University, Brandon Güell, com a imagem ‘Restauração dos Everglades’.

Uma pessoa analisa a fauna nas Everglades, Flórida
Restauração dos Everglades / Foto: Brandon Güell / BMC Ecology and Evolution e BMC Zoology

Güell investiga como os altos níveis de fósforo provenientes do escoamento agrícola e de águas pluviais estão prejudicando a vida selvagem nos Everglades (áreas alagadas) da Flórida, afetando a diversidade da flora e provocando a proliferação de algas.

A pesquisa é o maior projeto de restauração de ecossistemas do mundo, e visa compreender o papel da fauna na dinâmica do fósforo, explorando o potencial de gerenciamento de populações de peixes como uma ferramenta de restauração.


Relacionamentos na natureza: ‘Perseguindo o peixe’, por Alwin Hardenbol

Na categoria Relacionamentos na Natureza o vencedor capturou um pássaro Skua do Ártico tentando roubar o peixe de uma gaivota de patas pretas. A foto premiada foi do cientista Alwin Hardenbol, pesquisador de pós-doutorado na Universidade Sueca de Ciências Agrícolas.

Duas aves voando e uma segura um peixe no bico. A imagem foi premiada no concurso BMC
Perseguindo o peixe / Foto: Alwin Hardenbol / BMC Ecology and Evolution e BMC Zoology

A foto ‘Perseguindo o peixe’ foi produzida em Vardö, Noruega e retrata um comportamento comum das Skuas do Ártico, conhecido como cleptoparasitismo.


‘Dormindo em veludo vermelho’, por Martha Charitonidou

A cientista Martha Charitonidou, pesquisadora de pós-doutorado na Universidade de Ioannina, na Grécia, ficou em segundo lugar na categoria Relacionamentos na Natureza do prêmio de fotos do BMC 2024.

A imagem mostra uma orquídea Helen’s Bee e duas abelhas Eucerini em busca de abrigo, em uma interação planta-polinizador.

Duas abelhas polinizam uma orquídea. A imagem foi premiada no concurso de fotos científicas BMC
Dormindo em veludo vermelho / Foto: Martha Charitonidou / BMC Ecology and Evolution e BMC Zoology

Ao contrário da maioria das orquídeas Ophrys, que produzem flores que imitam insetos fêmeas, a orquídea Helen’s Bee é a única espécie deste gênero conhecida por usar suas flores grandes com pétalas na cor bordô – que para as abelhas parece um buraco negro, como se fosse um abrigo -, como estratégia de polinização.


Protegendo nosso planeta: ‘Monitoramento da saúde dos corais na Grande Barreira de Corais na Austrália’, por Victor Huertas

Victor Huertas, pesquisador de pós-doutorado na Universidade James Cook, na Austrália, foi o vencedor da categoria Protegendo nosso Planeta do prêmio de fotos de cientistas BMC.

A imagem mostra um guarda florestal avaliando a saúde dos corais no recife Lady Musgrave, no sul da Grande Barreira de Corais na Austrália.

Guarda florestal monitora os corais na Austrália. A imagem foi premiada no concurso de fotos de cientistas
Monitoramento da saúde dos corais na Grande Barreira de Corais na Austrália / Foto: Victor Huertas / BMC Ecology and Evolution e a BMC Zoology

Os corais branqueiam quando estão sob estresse, fazendo com que expulsem as algas fotossintéticas coloridas que vivem dentro deles e lhes fornecem nutrientes.

A autoridade do Parque Marinho da Grande Barreira de Corais do governo australiano informou que neste verão o conjunto de recifes listado como Patrimônio Mundial da Unesco sofreu um branqueamento generalizado de corais, o quinto episódio de branqueamento em massa na Grande Barreira de Corais desde 2016.


Conservação da águia Bonelli, por Roberto García-Roa

O vice-campeão da categoria Protegendo nosso Planeta foi Roberto García-Roa, biólogo evolucionista e fotógrafo de conservação da Universidade de Lund, na Suécia. Sua foto conta a história de Bruma, um águia de Bonelli que morreu eletrocutada.

Águia morta. A foto foi premiada no concurso BMC
Conservação da águia de Bonelli / Foto: Roberto García-Roa / BMC Ecology and Evolution e a BMC Zoology

As águias de Bonelli são consideradas ameaçadas de extinção na União Europeia.  Transponders GPS rastream os movimentos das águias, ajudando os pesquisadores a identificar áreas de alta mortalidade associadas às linhas de energia e modificar essas linhas para evitar que as aves morram eletrocutadas.


Fotos premiadas mostram detalhes da polinização e osso de dinossauro

Close da vida: ‘Um aproveitador preocupado’, por Abhijeet Bayani

Uma vespa da figueira polinizando e depositando seus ovos dentro de um figo foi a foto vencedora na categoria Close da vida. A imagem foi capturada pelo biólogo Abhijeet Bayani, do Instituto Indiano de Ciência.

Vespa polinizando um figo é uma das imagens vencedoras do prêmio de fotos científicas
Um aproveitador preocupado / Foto: Abhijeet Bayani / BMC Ecology and Evolution e a BMC Zoology

A única maneira de polinizar um figo é com a ajuda de minúsculas vespas, que se enterram e depositam seus ovos. Ambos dependem uns dos outros para completar os seus ciclos de vida, tornando-se um exemplo clássico de co-evolução.

A foto vencedora do prêmio de fotos de cientistas mostra como a vespa desenvolveu um ovipositor para enganar o figo, que é usado para perfurar a superfície da fruta por fora e depositar os ovos em seu interior.

Seus descendentes então se desenvolvem dentro da segurança da figueira, aparentemente sem beneficiar a própria figueira.


Dentro de um osso de dinossauro: desvendando a história de vida do Megapnossauro, por Anusuya Chinsamy-Turan

A vice-campeã da categoria Close da vida foi a professora Anusuya Chinsamy-Turan, paleontóloga da Universidade da Cidade do Cabo, que usando um microscópio mostra como os ossos fossilizados de um Megapnossauro, predador da África Austral, podem fornecer informações valiosas sobre a biologia deste animal de aproximadamente 190 milhões de anos.

Imagem colorida do osso de um dinossauro é uma das fotos premiadas no concurso BMC
Dentro de um osso de dinossauro: desvendando a história de vida do Megapnossauro / Foto: Anusuya Chinsamy-Turan / BMC Ecology and Evolution e a BMC Zoology

“As áreas pretas continham vasos sanguíneos, nervos e outros tecidos conjuntivos, enquanto as manchas pretas menores são os espaços onde as células ósseas estavam localizadas. Após a morte, o tecido orgânico se decompõe e os espaços vazios são preenchidos com sedimentos e minerais”, explica a paleontóloga.

O estudo da microestrutura do osso fossilizado pode fornecer informações valiosas sobre a história de vida dos dinossauros e de outros vertebrados extintos. Isto pode incluir detalhes sobre o sexo, taxa de crescimento, presença de doenças e o impacto potencial de fatores ambientais no crescimento do animal.


As imagens foram divulgadas pelo prêmio de fotos de cientistas BMC Ecology and Evolution and BMC Zoology sob uma licença Creative Commons Attribution.